WASHINGTON DC, 23 de mar de 2021 às 19:00
Um estudioso sueco que estuda a China pediu ao Vaticano para falar sobre os abusos dos direitos humanos pelo governo chinês, observando que "o diálogo em igualdade de condições não é o que está acontecendo".
"A China deve ser tratada como qualquer outro país e jogar pelas mesmas regras", escreveu Fredrik Fällman, professor associado de sinologia da Universidade de Gotemburgo, em uma coluna de 19 de março no .
"A Igreja Católica frequentemente comenta a situação em outros países. No entanto, na China, o Vaticano mantém silêncio sobre muitos desenvolvimentos relativos - incluindo a sistemática perseguição religiosa, questões de direitos trabalhistas e abusos de direitos humanos contra os uigures. Parece que os funcionários do Vaticano estão mantendo a China em um padrão diferente em comparação com outros países", comentou
Em 2018, o Vaticano chegou a um acordo com o governo chinês sobre a nomeação de bispos. Os termos do acordo, que foi renovado em outubro de 2020 por mais dois anos, nunca foram revelados publicamente.
O acordo foi feito para ajudar a unir a Igreja “oficial” e a Igreja clandestina, por assim dizer, por ser fiel a Roma e rechaçar bispos ordenados sem o mandato pontifício. Estima-se que 6 milhões de católicos estão registrados no Partido Comunista Chinês.
De acordo com Joseph Cardinal Zen, bispo emérito de Hong Kong, os cristãos na China continuaram a ser perseguidos e assediados pelas autoridades, "apesar do acordo".
A política de "sinicização", anunciada pelo presidente chinês Xi Jinping em 2015, visa reforçar a identidade chinesa e comunista em todas as práticas religiosas do país. Incluiu instruir as igrejas a remover imagens dos Dez Mandamentos e substituí-las por prosseis de Mao Tsé-Tung.
Fällman observou que mesmo em Hong Kong, onde os religiosos gozam de mais liberdade do que no continente, Pequim vem reforçando seu controle sobre a religião nos últimos anos, mais recentemente por meio de uma lei de "segurança nacional" que entrou em vigor no verão passado.
De acordo com a nova lei, vários católicos em Hong Kong foram presos e acusados de terrorismo, sedição e conluio estrangeiro.
A Diocese de Hong Kong permanece vaga, já que a diocese é liderada desde 2019 pelo Cardeal John Tong, que se retirou em 2017 e assumiu o comando novamente depois que o bispo anterior de Hong Kong morreu inesperadamente. Sucessivos candidatos selecionados pelo Vaticano, e aprovados pelo Papa Francisco, não puderam assumir por questões políticas.
"A iminente escolha de um novo [bispo de Hong Kong] sem dúvida criará mais tensões à medida que irão investigá-lo para saber onde está sua lealdade. A escolha de um bispo 'pró-Pequim' não vai cair bem entre muitos cidadãos, enquanto a escolha de um bispo mais independente e crítico pode pressionar os católicos de Hong Kong", observou Fällman.
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Ele acrescentou: "Se o Vaticano quer restaurar a ordem das nomeações episcopais e acabar com práticas clandestinas, então deve dialogar com qualquer interlocutor que seja preciso — seja este 'pró-Pequim' ou não."
De acordo com novas regras previstas para entrar em vigor em 1º de maio de 2021, a Associação Patriótica Católica Chinesa será responsável pela seleção de candidatos episcopais. Em seguida, os candidatos serão "aprovados e consagrados pela Conferência dos Bispos Católicos Chineses".
As regras supostamente não mencionam qualquer participação do Vaticano na aprovação dos bispos, apesar do acordo Vaticano-China de 2018 supostamente envolver tanto autoridades chinesas quanto as da Santa Sé no processo de nomeação de bispos.
"É preciso que haja uma coalizão internacional entre cristãos, e talvez outros grupos religiosos, para pressionar a China", concluiu Fällman.
"Aqui o Vaticano poderia desempenhar um papel central com sua força e experiência, o que também beneficiaria a realização dos aspectos 'pastorais' buscados com o atual acordo Sino-Vaticano. O verdadeiro diálogo inclui críticas francas e é a chave para dar passos reais nas relações com a China", afirmou.
O cardeal Zen disse à CNA em entrevista no ano passado que o silêncio da Igreja sobre a detenção em massa e os abusos dos uigures em Xinjiang, supostamente como resultado das negociações para renovar o acordo de 2018, "prejudicará o trabalho de evangelização" no futuro.
O Papa Francisco até o momento, nada disse sobre a matança dos uigures, uma minoria étnica do noroeste da China. Alguns grupos de direitos humanos chamaram o fato de "genocídio".
"Amanhã, quando as pessoas se reunirem para planejar a nova China, a Igreja Católica pode não ser bem-vinda”, afirmou na ocasião o Cardeal Zen.
Confira:
China pratica genocídio, diz novo relatório https://t.co/CoiEGBCiVn
— ACI Digital (@acidigital) March 11, 2021