No próximo Domingo de Ramos, 28 de março, a igreja no Brasil realiza a Coleta da Solidariedade, durante o ofertório nas Missas, como gesto concreto da Campanha da Fraternidade. Entretanto, como neste ano a CF gerou polêmica por seu conteúdo com referências à ideologia de gênero, muitas pessoas não estão aderindo a esta coleta nem à Campanha.

Neste ano a Campanha da Fraternidade é ecumênica (CFE) – como ocorre a cada cinco anos –, tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e como lema o trecho da carta de Paulo aos Efésios: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14). Sendo ecumênica, a coordenação e preparação desta campanha – incluindo o seu texto-base – é de responsabilidade do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), do qual a Igreja Católica também faz parte.

Com a divulgação do texto-base da CFE, começou-se a questionar o seu conteúdo que faz referências à ideologia de gênero, bem como seus autores, entre os quais está a pastora luterana e secretária-geral do CONIC, Romi Márcia Bencke.

Bencke é autora de textos favoráveis ao aborto e temas feministas, como por exemplo, “Laicidade e direito ao aborto: intersecções e conexões entre o debate feminista secular e feminista religioso”, que tem apoio da Open Society Foundations, de George Soros.

Por conta de tais polêmicas, muitos católicos não aderiram à CF. Alguns sacerdotes orientaram os fiéis, alertando que a participação na campanha não é obrigatória. Em uma homilia em 24 de fevereiro, Pe. Adão Dias Martins, fundador da Comunidade Católica Emanuel, em Paranavaí (PR), sugeriu aos fiéis que, em vez de doar na coleta da solidariedade, realizem outros gestos de caridade.

“No Domingo de Ramos, não dê coleta para a Campanha da Fraternidade. Você não vai estar pecando, porque uma parte do dinheiro da Campanha da Fraternidade é destinado a ONGs, a entidades por esse Brasil a fora que trabalham assuntos referentes à campanha e muitas dessas, este ano principalmente, são ligadas a movimentos abortistas, movimentos contrários à vida, contrários à família, movimentos que desconstroem o que Jesus constrói, movimentos que desconstroem o que a Igreja, a vida, a família constroem”, disse.

Por isso, orientou a “dar o dinheiro da coleta do Domingo de Ramos para outra finalidade”, como por exemplo, comprar cestas básicas e doá-las. “Enfim, faça algo que representa caridade, mas para uma finalidade que vai ser empregada para o pobre sem destoar da fé que professamos”, completou.

Nas redes sociais, fiéis católicos promovem a hashtag #boicotacf2021, publicando vídeos e conteúdos que incentivam a não doar para a coleta da solidariedade no Domingo de Ramos.

Em Londrina (PR), o movimento Brasil Católico colocou na cidade outdoors eletrônicos com mensagens que exortam a não doar no dia 28 de março para a coleta da solidariedade.

Também entre os bispos houve manifestações e orientações quando à Campanha da Fraternidade Ecumênica. Poucos dias antes do início da Quaresma, o Arcebispo do Ordinário Militar do Brasil, Dom Fernando Guimarães, enviou uma carta ao presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor de Azevedo, para lhe comunicar que não participaria da CF nem da coleta da solidariedade.

Na carta, Dom Guimarães afirmou que, “no Ordinário Militar do Brasil, durante a quaresma deste ano, seguiremos apenas as orientações teológico-litúrgicas próprias do tempo quaresmal e não serão utilizados quaisquer dos materiais produzidos oficialmente para a Campanha da Fraternidade deste ano. Nossos Capelães Militares estão sendo orientados, caso desejem abordar o tema da mesma, a utilizar unicamente a Fratelli Tutti do Papa Francisco”.

“Também o percentual da coleta destinado a esta Conferência Episcopal – e repartido com outras entidades promotoras da Campanha – não será enviado e sim, real e efetivamente, empregado no socorro aos pobres, através de obra social reconhecida pelo Ordinariado Militar. Sobre este uso, será meu cuidado prestar contas posteriormente à Presidência”, disse.

Outro Bispo que orientou a não utilizar o material da Campanha da Fraternidade foi Dom Gil Antônio Moreira, da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG). Em um documento com orientações para a Arquidiocese, datado de 15 de fevereiro, o Prelado afirmou que, “neste ano, houve uma grave falha com relação ao texto-base [da Campanha da Fraternidade] que tem provocado séria polêmica, por apresentar conceitos duvidosos em relação à doutrina social e à Moral cristã, em sua redação e na sua subjacência, sendo a autora adepta de correntes morais não aceitas pela Igreja Católica e nem por grande parte dos nossos irmãos evangélicos”.

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“Após ler, ouvir e ver praticamente todos os posicionamentos prós e contra, em consciência, e para ser fiel à Igreja, oriento que o texto-base da CFE 2021 não seja utilizado em nossa Igreja Particular”, afirmou na ocasião, quando também sugeriu para base de reflexão quaresmal a Encíclica Fratelli Tutti e a Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma.

Coleta da Solidariedade

Todos os anos, no Domingo de Ramos, a CNBB promove a Coleta da Solidariedade durante o ofertório das Missas em todo o país. Segundo o secretário-executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, trata-se de “um gesto concreto da fraternidade, partilha e solidariedade, realizado em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses” e “é parte integrante da Campanha de Fraternidade”.

Do total arrecadado pela Coleta da Solidariedade, as Dioceses ficam com 60%, que compõem o Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS), e enviam 40% ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), gerenciado pela CNBB.

Os projetos selecionados para serem beneficiados pelo Fundo Nacional da Solidariedade são escolhidos com base em um edital publicado a cada ano. Neste ano de 2021, o edital aparece no site do FNS como “em edição”.

Em uma nota publicada em 9 de fevereiro, a presidência da CNBB comentou “a sugestão de que não se faça a oferta da solidariedade no Domingo de Ramos, uma vez que existiria o risco de aplicação dos recursos em causas que não estariam ligadas à doutrina católica”.

“Recordamos que o FNS segue rigorosa orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos”, garantiu a nota.

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Em 2020, por causa da pandemia de coronavírus, a arrecadação da Coleta da Solidariedade não ocorreu e, segundo a CNBB, atenderam 15 projetos com “a ajuda da instituição alemã Adveniat”. Já em 2019, a conferência informou que o fundo distribuiu a quantia de R$3.814.139,81, atendendo a mais de 238 projetos.

Para este ano de 2021, muitas dioceses realizarão a coleta no próximo Domingo de Ramos. Entretanto, por causa das restrições impostas pela Covid-19, algumas decidiram adiar esta coleta. Entre essas estão as Arquidioceses de Curitiba (PR) e de Botucatu (SP), ambas informaram que realizarão a Coleta da Solidariedade na festa de Corpus Christi, em 3 de junho.

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