LONDRES, 9 de abr de 2021 às 10:43
Após 150 anos da descoberta de alguns ossos em um sótão na cidade de Holywell (País de Gales), cientistas afirmam que esses restos mortais pertencem a dois dos 40 mártires da Inglaterra e do País de Gales canonizados em 1970.
A curadora de arte da Stonyhurst Collections, Jan Graffius, disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que o ponto de partida para resolver o enigma sobre a identidade desses mártires foi "analisar as evidências", dois crânios e um grupo de ossos envoltos em uma jaqueta de linho descobertos em 1878 em uma caixa de madeira.
Dos restos encontrados, um crânio tem um buraco "e muitos dos ossos associados aos dois crânios mostram evidências de terem sido cortados com uma faca afiada", disse Graffius.
Segundo a especialista , esses dados mostram que pelo menos um dos dois corpos foi desmembrado e que "uma das cabeças foi pregada a uma estaca".
O segundo fator para encontrar a identidade das pessoas foi o local onde foram encontrados os ossos, uma casa ligada aos jesuítas onde já haviam sido encontradas relíquias de mártires ingleses.
“Depois, descobriu-se que essas pessoas tinham uma associação com um mártir inglês, ou um mártir galês, e uma relação com os jesuítas”, explicou Graffius.
Graffius disse que o terceiro fator para resolver o mistério foi que os dois crânios foram encontrados juntos, sugerindo que as duas pessoas estivessem relacionadas.
A curadora de arte consultou Maurice Whitehead e Hannah Thomas, especialistas acadêmicos em temas relacionados aos mártires galeses dos séculos 16 e 17, que sugeriram que os ossos provavelmente pertenceram a dois padres de País de Gales, São Philip Evans e São John Lloyd.
Os especialistas indicaram que os dois sacerdotes passaram os últimos seis meses juntos na prisão e foram executados ao mesmo tempo.
"Eles foram enterrados ou descartados ao mesmo tempo, e sempre se fala deles como um grupo por causa da grande amizade que tinham quando estavam vivos", indicou Graffius. "Portanto, faz todo o sentido lógico e histórico que os ossos desses homens intimamente associados tenham sido resgatados e guardados juntos", acrescentou.
A história de como os ossos foram identificados pode ser encontrada na exposição virtual “'Como sangra o amor ardente’: Relíquias dos quarenta mártires”, um evento para comemorar o 50º aniversário da canonização dos mártires pelo Papa Paulo VI, em 25 de outubro 1970.
O evento foi inicialmente planejado para ser realizado de forma presencial, mas a crise do coronavírus obrigou os organizadores a mudar seus planos e, em vez disso, oferecer uma experiência audiovisual on-line aos fiéis de todo o mundo.
A exposição também apresenta relíquias dos célebres mártires jesuítas São Edmund Campion, São Robert Southwell e do beato Edward Oldcorne, bem como dois chapéus, um crucifixo e parte de uma camisa que pertenceu a São Tomás Moro.
Breve biografia de São Philip Evans e São John Lloyd
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O padre Evans nasceu em Monmouthshire, a sudeste de Gales, estudou no English Jesuit College em St Omer, em Flandres, e decidiu entrar na vida sacerdotal com os Jesuítas aos 20 anos.
Em 1675, retornou à sua terra natal para servir como missionário - uma empreitada perigosa após a reforma galesa. Os caçadores de sacerdotes localizaram o padre Evans em 2 de dezembro de 1678.
Após semanas de confinamento solitário na prisão de Cardiff, foi autorizado a compartilhar a cela com outro condenado, padre John Lloyd.
Lloyd nasceu em Brecon, Gales central, se formou para o sacerdócio em Valladolid, Espanha, e voltou a Gales em 1654, sabendo que estava arriscando sua vida ao fazê-lo.
Ambos os padres foram condenados à morte em Spring Assizes em 1679. O carcereiro permitiu-lhes uma liberdade considerável em seus meses finais, onde o padre Evans podia tocar harpa e praticar esportes.
Na noite anterior à sua execução, o padre Evans escreveu à sua irmã mais nova, uma religiosa de Paris.
“Querida irmã, sei que conhece bem os princípios da coragem cristã, de modo que não se assustará de forma alguma quando compreender que seu amado irmão lhe escreve a sua última carta, estando a poucas horas de sofrer por ser sacerdote e, consequentemente, por amor a Deus. Que felicidade maior pode ter um cristão?”, escreveu o mártir católico.
Evans foi o primeiro a ser enforcado e esquartejado. Testemunhas observaram que seus algozes demonstraram agressão incomum na tentativa de mostrar aos outros padres o que esperar se eles não se retratassem. Mas o Pe. Lloyd permaneceu firme na fé até o fim.
Publicado originalmente em CNA.
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— ACI Digital (@acidigital) April 9, 2021