Papa Francisco falou por telefone com o presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, sobre o conflito entre Israel e palestinos hoje, 17 de maio, às 9h de Roma (5h horário de Brasília). O governo da Turquia foi o primeiro a divulgar que a conversa havia acontecido. Depois, a Sala de Imprensa da Santa Sé confirmou a chamada.

A atual crise entre Israel e palestinos começou pela ordem de despejo emitida pela Suprema Corte de Israel contra moradores de um bairro palestino de Jerusalém. Em 7 de maio, dia do encerramento do Ramadã muçulmanos palestinos entraram em confronto com a polícia israelense, que fechou o acesso à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

A crise se agravou com a intervenção do grupo radical islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, de onde lançou foguetes contra cidades israelenses. Israel respondeu com bombardeios contra alvos do Hamas em Gaza.

Nas audiências gerais dos dias 9 e 17 de maio, o papa Francisco conclamou ao diálogo e ao fim da violência na região.

Segundo o comunicado do governo turco divulgado pela agência italiana de notícias ANSA, Erdogan pediu ao papa um compromisso entre "muçulmanos, cristãos e toda a humanidade" para pôr fim ao "massacre" contra os palestinos.

Erdogan é presidente da Turquia desde 2014. De 2003 a 2014, foi primeiro-ministro do país. Líder do partido islamista Justiça e Desenvolvimento, Erdogan tem o projeto estratégico de pôr a Turquia como líder do mundo muçulmano, disputando a hegemonia com Arábia Saudita, Egito e Irã. Turquia e Irã não são países árabes. Daí sua intervenção na questão entre Israel e palestinos. O presidente turco ameaçou romper relações diplomáticas com Israel em 2017 caso Jerusalém fosse reconhecida como a capital do Estado de Israel. Israel considera Jerusalém sua capital e organizações palestinas reivindicam a cidade como capital de um eventual estado palestino. Poucos países do mundo reconhecem Jerusalém como capital israelense. A maior parte dos países do mundo mantêm suas embaixadas junto ao governo de Israel em Tel Aviv.

O apelo diplomático do presidente turco em favor dos palestinos na Faixa de Gaza ocorre em um momento tenso nas relações entre a Santa Sé e a Turquia.

Em 24 de julho de 2020, o governo turco converteu a antiga basílica de Hagia Sophia (Santa Sabedoria em grego) em mesquita. O templo, construído no século VI, já havia sido convertido em mesquita após a conquista de Constantinopla cristã pelos turcos otomanos em 1453. Em 1935, como parte do esforço de depurar o estado turco da influência do Islã, Hagia Sophia foi transformada em museu.

O papa Francisco reclamou da reconversão de Hagia Sophia em mesquita no Ângelus de 12 de julho de 2020. “Penso em Hagia Sophia e sinto muito pesar", disse o papa.

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Francisco visitou a Turquia, onde foi recebido pelo presidente Erdogan em novembro de 2014. Dois anos mais tarde, o mandatário turco fez comentários que causaram um desencontro nas relações entre seu país e a Santa Sé, que, sob Francisco, defende maior diálogo com o Islã.

Recep Tayyip Erdogan, em um discurso perante o Parlamento do Paquistão, disse que “o Islã não pode dialogar com outras religiões”, e criticou a posição do intelectual muçulmano turco Fethullah Gülen, defensor de uma reforma profunda do Islã, que havia proposto ampliar o diálogo com entre o mundo muçulmano e o Vaticano.

O doutor em Religião Comparada da Universidade de Cambridge, Alexander Görlach, escreveu uma coluna no jornal alemão DW News em 26 de junho de 2020 na qual denuncia a crescente perseguição de cristãos na Turquia, forçando-os a buscar refúgio na Síria e outros países da região.

“Uma das igrejas cristãs mais antigas do mundo está sob a extrema pressão do estado turco”, escreveu Görlach. “Erdogan prometeu deixar que as igrejas fossem reconstruídas, mas a discriminação sistemática e de longa data contra a minoria cristã da Turquia sugere que ele não está falando sério sobre reviver a vida religiosa cristã".

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