HAVANA, 21 de jun de 2021 às 12:10
Os bispos de Cuba defenderam que “a educação sexual seja ministrada sob a tutela dos pais, pois é sua responsabilidade” e exortaram aos “pais e mães cubanos” para que “cumpram com seu dever, sem esperar que outros os substituam no que é sua obrigação”. “Que eles possam escolher para seus filhos o estilo pedagógico, os conteúdos éticos, cívicos e, se desejarem, a inspiração religiosa com a qual os querem formar”, disseram em mensagem às famílias no Dia dos Pais, celebrado neste domingo, 20 de junho. A mensagem expressa preocupação com o avanço da ideologia de gênero e a violação do direito dos pais na educação sexual dos seus filhos.
A Conferência dos Bispos Católicos de Cuba criticou o Ministério da Educação pela recente publicação da Resolução 16/2021, intitulada “Programa de educação integral em sexualidade com enfoque de gênero e direitos sexuais e reprodutivos no Sistema Nacional de Educação”. A norma surge em meio a uma complexa situação social, econômica e sanitária que o país vive, agravada pela pandemia da covid-19.
“Isto gerou inúmeras declarações, desconforto, opiniões e críticas por parte de pais de família, indivíduos e diferentes denominações religiosas, que percebem com razoável temor, no conteúdo deste documento, a influência da chamada ´ideologia de gênero´, que poderia ser introduzida em nosso país, afastando-nos de nossa história e tradição cultural”, afirma o comunicado.
Os bispos cubanos consideram “as novas gerações não devem ser expostas a uma concepção da sexualidade que a ciência não valida”. Eles acreditam que essa situação “provocaria um conflito inevitável na consciência de um significativo número de pais, professores e alunos que, por um lado, experimentariam o normal desejo de participar no processo educativo e, por outro, a dificuldade de estar sujeito a ensinamentos que contradizem as suas convicções mais profundas”.
O episcopado defendeu a necessidade de que o povo seja informado do que é o “enfoque de gênero” e a “ideologia de gênero”, através de “uma linguagem clara e simples, tendo em conta as diversas concepções filosóficas e religiosas, e em igualdade de condições”.
“Seria desejável um debate amplo e participativo, no qual todos tivessem a oportunidade de ser adequadamente informados e a possibilidade de manifestar as suas opiniões sobre o assunto. Pensamos que, em Cuba, há homens e mulheres capazes e de boa vontade, que estão dispostos a compartilhar, num diálogo respeitoso, suas reflexões e projetos pelo bem da família cubana”, acrescentou.
Os bispos cubanos afirmaram que a mencionada “ideologia de gênero”, que “tem a pretensão de ser um saber científico, é um sistema de pensamento fechado”. Ela “defende que as diferenças entre o homem e a mulher, apreciáveis na sua anatomia, psicologia e genética, entre outras, não correspondem a uma natureza constitutiva da pessoa humana, mas que são construções meramente culturais e convencionais, feitas segundo os papéis e estereótipos que cada sociedade atribuiu aos sexos”.
“Desta ótica, se ensina que um ser humano, mesmo desde sua idade mais inocente, poderia escolher sua própria identidade sexual, independente do sexo biológico com o qual nasceu” afirmaram.
Os bispos cubanos consideram que é o seu “dever solicitar que o conteúdo da Resolução 16/2021 do Ministério da Educação seja reconsiderado, por não ter suficientemente em conta o direito dos pais na educação sexual dos seus filhos, e pelas graves consequências na formação de crianças, adolescentes e jovens, ao oficializar o avanço da ideologia de gênero no setor da educação, tão sensível na formação da personalidade”.
Por isso, exigiram que “o direito primário e intransferível que têm os pais de educar os seus filhos seja reconhecido e respeitado, e que todas as formas de colaboração entre pais, professores e autoridades escolares sejam consideradas, em particular, as formas de participação que possibilitam aos nossos cidadãos opinar sobre o funcionamento das escolas e sobre a formulação e aplicação da política educativa”.
Para o episcopado é um dever “de todos”, mas especialmente dos pais, “promover e testemunhar a beleza e a alegria do matrimônio criado e querido por Deus”, como diz a Escritura: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança... E Deus criou o homem à sua imagem. À imagem de Deus os criou. Homem e mulher os criou. (Gn 1,26-27)”.
“Por conseguinte, não nos esmoreçamos quando, por vezes, tudo à nossa volta perece atentar contra a instituição familiar. Não percamos as nossas forças quando tivermos que nadar contra a corrente. Ensinemos os jovens casais a trabalhar juntos e a cuidar da sua família”, concluíram.
Gratidão às famílias
No comunicado, os bispos de Cuba também lembraram do Dia dos Pais. Eles pediram “a proteção da Sagrada Família de Jesus, Maria e José sobre os lares cubanos”.
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Também aproveitaram a oportunidade para agradecer pelos cubanos que cuidam de suas famílias e que reúnem todos os seus filhos na mesa, bem como por aqueles “que fazem o bem em silêncio” ajudando outras famílias ou pessoas em dificuldade.
“Agradeçamos àqueles que fazem o impossível para mediar nos conflitos naturais que surgem entre pais, filhos, genros e noras. Agradeçamos aos nossos idosos por terem defendido a vida desde a concepção até à morte natural e por nos terem dado o exemplo de ter tido, com menos recursos, vários filhos”, escreveram os bispos.
Também reconheceram que há as leis positivas para a sociedade, especialmente aquelas que “buscam proteger a família, como a que permite que a mulher trabalhadora desfrute de benefícios laborais durante o tempo de sua maternidade”.
Os bispos também parabenizaram “o esforço que se realiza para reduzir a mortalidade infantil, as vacinas garantidas para cada criança ao nascer, o fato de que as crianças tenham escola e atendimento médico e que os idosos tenham seus asilos e a Universidade do Adulto Maior, entre outras coisas”.
Eles também lamentaram “as famílias cubanas estejam sofrendo diversos baques”, entre eles, a dificuldade para encontrar comida, o tempo perdido em filas com grandes riscos de contágio da covid-19, a escassez de medicamentos, o aumento considerável dos preços dos serviços básicos e os salários que não são suficientes para uma vida digna.
“O desânimo e a incerteza em relação ao futuro provocam o desejo de emigrar, sobretudo nos jovens, hipotecando o futuro de Cuba. Além disso, persistem entre nós uma mentalidade antinatalista e o aumento do número de uniões afetivamente frágeis, os divórcios e os abortos. A falta de moradia para os casais jovens e o crescimento da população penal são outros motivos de preocupação para as famílias”, afirmaram os prelados.
Nesse sentido, os bispos enfatizaram o seu desejo de “que todos, como cidadãos, nos envolvamos com maior eficácia na solução desses males”.
A Conferência dos Bispos Católicos de Cuba assegurou, a todas as famílias que sofrem por causa da pandemia e àqueles que lamentam a perda de algum ente querido, a sua “proximidade afetuosa e oração”.
“Oramos também pelos contagiados, pelo pessoal sanitário que os atende, e pelos cientistas e pesquisadores que trabalham para encontrar um remédio para esta doença. Rezamos igualmente para que, no seio da grande família cubana, prevaleça sempre o respeito, a escuta recíproca e a amizade social sobre toda forma de intolerância e violência”, continuaram.
Ao finalizar sua mensagem, felicitaram novamente “a todos os pais em seu dia, colocando-os sob a proteção de São José, para que os ajude a cumprir sua missão, com alegria e fortaleza, ao serviço de suas famílias”.
“Nossa Senhora da Caridade, do seu Santuário do Cobre, caminhe ao nosso lado e nos leve ao encontro de Jesus como sempre fez ao longo dos séculos”, concluíram.
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— ACI Digital (@acidigital) January 29, 2019