O bispo de Sokoto, na Nigéria, dom Matthew Hassan Kukah, afirmou que é necessário que a Igreja na África permaneça implacável e que seus líderes religiosos sejam para os políticos uma luz e guia moral que se mantenha estável no tempo. “Por mais tentadora e fragmentada que seja a política africana, nós, como Igreja, devemos permanecer como uma luz moral e uma guia, não porque sejamos superiores ou tenhamos melhores credenciais, mas porque estamos chamados a servir fielmente”, afirmou.

As declarações de Kukah foram feitas em um seminário virtual sobre o tema “A Igreja e o Estado em uma democracia multipartidária” realizado no fim de junho pelo Instituto Sanneh, centro de estudos sobre cristianismo e islã da África ocidental. No evento, dom Kukah lembrou o papel que a Igreja Católica deve ter diante da política, em meio a um contexto de crise política. A Igreja Católica “deve ter uma autoridade moral, para garantir que a bússola moral se mantenha estável para os políticos, através das gerações e partidos”.

Segundo dom Kukah, se os líderes eclesiais permanecerem fiéis ao seu dever moral, “a política se tornará menos cancerosa na África” e “a transparência e a responsabilidade serão talvez mais manejáveis”.

Dom Kukah afirmou que o papa São João Paulo II é uma grande referência para os líderes da Igreja de hoje, pois o santo não frustrou seu papel profético de questionar as agências de estado, depois que ajudou a acabar com o comunismo.

O prelado disse que a política africana é influenciada pela religião e pelas etnias. Dom Kukah exortou os líderes da Igreja a não se envolverem em política partidária disputando cargos ou apoiando candidatos. “Um pastor que vai buscar a eleição sob a bandeira de um partido político cede sua autoridade religiosa à autoridade civil”, disse. “Já não será motivado pelos ensinamentos da Bíblia, porque estará alinhado com o manifesto do partido político”.

Dom Kukah falou também sobre a recusa de muitos cristãos para participar em temas de governabilidade. Ele explicou que a política não é um assunto partidário e sim um processo de gestão de recursos para alcançar o bem comum. “Tendemos a ver a política do ponto de vista da política partidária, mas a política é basicamente o processo de distribuição e gestão dos recursos humanos, para garantir o máximo bem para o máximo número de pessoas”, afirmou.

“A política dos partidos é completamente diferente da política do dia a dia, que tem a ver com a gestão dos recursos”, enfatizou. “Quer nos metamos ou não na política, ela nos alcançará, porque se trata de questões cotidianas”, acrescentou.

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Por fim, criticou os líderes que disputam cargos políticos com o propósito de beneficiar os membros de seus grupos étnicos e religiosos. “Se partimos da filosofia de que a política é simplesmente uma oportunidade para criar uma vantagem para o nosso povo, então ela não está alinhada com os princípios do cristianismo”, disse o bispo.

Um político que busca criar uma vantagem para os companheiros da sua tribo “não é melhor que um empresário étnico que usa a etnia”, enfatizou. “Esse não é o nosso chamado” como católicos, pois “a política deve tratar sobre a busca do bem comum”, acrescentou.

“Se seguirmos os ensinamentos de Jesus Cristo, os ensinamentos do Evangelho sobre o perdão, os mandamentos cristãos, a propriedade privada, a família, podemos assumir a política. Assim, a política será melhor para a África”, concluiu.

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