REDAÇÃO CENTRAL, 20 de ago de 2021 às 09:59
A Pontifícia Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) advertiu sobre o perigo em que se encontram todos aqueles que não compartilham as posições extremas dos talibãs que retomaram o poder no Afeganistão depois de 20 anos. “Nossa análise, infelizmente, não deixa muito espaço para a esperança. Todos os que não abraçam as opiniões muçulmanas radicais extremas dos talibãs estão em perigo, incluindo os sunitas moderados”, afirmou Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da ACN, em declaração nesta quinta-feira.
A declaração foi feita após Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, ter publicado no Twitter declarando o país como “Emirado Islâmico do Afeganistão”, no dia em que se completam 102 anos da independência da dominação britânica.
No Afeganistão, 99,86% da população são muçulmanos, e a seita sunita, majoritária em todo o mundo islâmico, é majoritária também no Afeganistão. Os demais 0,14% da população são hindus, ba'hais, budistas e cristãos. Apenas 200 católicos estão oficialmente registrados no país.
Os muçulmanos xiitas são 10% da população. “A pequena comunidade cristã e todas as outras minorias religiosas, já ameaçadas, sofrerão uma opressão ainda maior. Trata-se de um enorme retrocesso para todos os direitos humanos e, especialmente, para a liberdade religiosa no país”.
Heine-Geldern disse que, “lamentavelmente, vários países não tardaram em declarar suas simpatias pelo novo Emirado. Isto não só legitimará os talibãs, como encorajará os regimes autoritários no mundo inteiro, especialmente na região, estimulando as crescentes violações das liberdades religiosas nos seus próprios países”.
Em sua opinião, este “reconhecimento internacional dos talibãs também atuará como um ímã para os grupos islâmicos radicais menores, criando uma nova constelação de facções terroristas que poderia desbancar grupos históricos, como Al-Qaeda e o Estado Islâmico”.
“Entre outras áreas, estamos preocupados com o Paquistão, a Palestina e a província de Idlib na Síria. A situação dos cristãos e de outras comunidades religiosas minoritárias que já sofrem discriminação nesses lugares se deteriorará ainda mais”, acrescentou.
Na declaração, o líder da ACN afirmou que é muito provável que os talibãs restabeleçam a “sharia” ou “lei muçulmana”, o que conduziria a um retrocesso em termos de progressos nos últimos 20 anos em matéria de direitos humanos, incluindo a liberdade religiosa.
Nos relatórios da ACN sobre liberdade religiosa, o Afeganistão caracterizou-se nos últimos três anos por “repetidos e atrozes ataques contra locais de culto, líderes religiosos e fiéis”.
O presidente do ACN ressaltou que existem muitos temas diplomáticos complicados, considerando a saída voluntária do presidente Ashraf Ghani, já que “os países que participam nas conversações com os talibãs anunciaram há semanas que nunca reconheceriam um regime que tomou o poder pela força”.
“Haverá uma resposta dos talibãs a qualquer reivindicação de direitos humanos sem a existência de canais formais? O fato de que a maioria das embaixadas ocidentais estejam fechando e os observadores internacionais partam, como fizeram na Síria em 2011, não é um bom augúrio”, prosseguiu Heine-Geldern.
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Na declaração, a ACN incentivou a levantar a voz para defender “os direitos humanos de todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente tendo em conta que estimamos que a liberdade religiosa estará especialmente ameaçada”.
“Também fazemos um apelo a nossos benfeitores para que continuem rezando durante este momento profundamente preocupante na história do Afeganistão”, exortou.
A sharia ou lei muçulmana
A sharia significa “caminho para a paz” e é a base do direito islâmico, um conjunto de regras que regem o código de conduta baseado no Corão, livro sagrado do Islão.
Existem várias versões da sharia e sua implementação varia no mundo islâmico.
O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, anunciou na sua primeira conferência de imprensa que “não serão cometidos abusos contra ninguém” e que os direitos das mulheres serão respeitados “sempre dentro das normas da sharia”. As mulheres são proibidas de trabalhar fora de casa, não podem sair sozinhas para a rua, não têm acesso à educação e são obrigadas a usar “burca”, o véu que cobre o corpo inteiro até os tornozelos.
A sharia no Afeganistão também proíbe as mulheres de falar ou apertar as mãos dos homens, de rir em voz alta, de usar sapatos de salto alto ou de sair às sacadas das casas. Se uma mulher violar uma destas regras, pode ser insultada ou açoitada.
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— ACI Digital (@acidigital) August 19, 2021