O cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon e presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Myanmar, criticou a onda de repressão que o país experimenta após o golpe militar de 1º de fevereiro e falou sobre a falta de legitimidade do governo. “Um governo que não obtém legitimidade do povo não a terá diante de Deus. O verdadeiro poder, como tantas vezes disse o papa Francisco, provém do serviço. Não impondo o poder à força sobre os inocentes”, disse o cardeal Bo na homilia da missa no último domingo, 22 de agosto, ao referir-se à situação do país.

Desde 1º de fevereiro, Myanmar vive confrontos entre forças de segurança e os que protestam contra o golpe militar de Estado que derrubou a dirigente Aung San Suu Kyi.

Segundo a ONU, até 30 de julho, mais de 18 mil pessoas já foram deslocadas do estado de Chin e das províncias vizinhas de Magway e Sagaing, onde se concentra a maioria dos confrontos. A Fides, agência de notícias do Pontifício Instituo para as Missões Estrangeiras, diz que as forças de segurança de Myanmar mataram mais de 1 mil civis desde o golpe de Estado.

Em sua homilia de 22 de agosto, o cardeal Bo lembrou que “para qualquer governo, em qualquer país justo, o governo não está acima do povo”.

“O governo é um olho, a população é o outro olho: juntos, têm a mesma visão. A nação deve ser construída sobre a justiça. O resto é idolatria: o poder, as possessões e a riqueza extrema”, disse o cardeal. Ele lamentou que em seu país “vimos prevalecer os interesses egoístas de uma minoria que roubou o pão da paz, o pão da vida e o pão da prosperidade de milhões de pessoas”, provocando “injustiça econômica e injustiça ambiental”.

“Durante as últimas sete décadas, esses adoradores de ídolos roubaram o ideal de uma nação construída sobre a base da paz e da prosperidade para todos. Um sonho se tornou um pesadelo”, lamentou.

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Ele também condenou novamente “a agonia humana pelas numerosas mortes no país afetado pelo golpe nos últimos seis meses”.

Por fim, o cardeal Bo exortou a “não perder a humanidade” e a “compreender, através de todas as provas, o que é o ideal e o que é um ídolo”. “Nossa peregrinação rumo ao respeito pela dignidade humana é uma longa caminhada que só pode ser sustentada com as palavras de vida eterna, só graças ao Pão que desceu do céu”, concluiu.

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