“Fui o primeiro catequizado” por este projeto, diz Josecks Gonçalves Pinho, artista plástico do recôncavo baiano que revestiu a fachada da igreja de Nossa Senhora da Soledade, em Acupe, distrito de Santo Amaro (BA), de mosaicos. O trabalho viralizou nas redes sociais após padre Gabriel Vila Verde publicar uma foto da obra. Em entrevista à ACI Digital, Zek, como o artista é conhecido, falou desse projeto “grandioso” que transformou sua vida e estreitou seus laços com a igreja.

Zek contou que começou a frequentar a igreja há cerca de dois anos. Embora não participasse da Igreja Católica, diz ter sempre admirado “as imagens, pinturas”. “Eu sempre tive um olhar voltado para a arte das igrejas”. Até que um dia, sua esposa o convidou para participar da novena de Nossa Senhora da Soledade, na paróquia de Acupe. “Fui e fiquei apaixonado pelo coral. Então, foi a música, o coral que me prendeu. Depois, comecei a prestar atenção na missa, nas homilias...”, disse. Hoje, participa do coral e também é salmista.

O artista contou que, há alguns meses, foi chamado pelo pároco, padre Gabriel Vila Verde, que também tem uma grande atuação nas redes sociais e milhares de seguidores. “Ele me perguntou se era possível revestir a fachada de mosaico. Eu disse que sim, mas fiquei receoso por causa da área, que era grande, e da altura. Mas fui confiante”, disse. Em seu Instagram, padre Vila Verde afirmou que este era um sonho seu, “transformar a matriz de Acupe em um lugar bonito e aconchegante, mesmo com pouquíssimos recursos”.

Em uma tarde, recordou Zek, ele e o padre começaram “a desenhar as ideias, elaborar as figuras que seriam representadas no mosaico, suas feições, as mensagens que queríamos passar, porque queríamos que o mosaico fosse uma catequese”. Segundo ele, “foi tudo muito rápido, porque quando o Espírito Santo inspira, o trabalho flui. O padre contribuiu com todo seu conhecimento e eu fui aprendendo muito nesse dia. Eu fui o primeiro catequizado por esse mosaico, tanto que fiquei com vontade de fazer mais trabalhos como este, para poder aprender ainda mais”, declarou.

 

O trabalho de Zek foi voluntário, mas ainda era preciso comprar o material, pagar os outros membros da equipe. O artista disse que, “no total, foram gastos cerca de R$ 38 mil”. Mas, “graças a Deus, os fiéis abraçaram com fé este sonho, que acabou se tornando nosso, e colaboraram. Muitos pediram ajuda a amigos, parentes. Pessoas conhecidas do padre também ajudaram. E assim, foi possível realizar essa obra”.

A execução do projeto durou três meses. Zek contou que o primeiro passo foi escolher as cerâmicas e suas cores. Em seguida, desenhou em uma tela cada imagem da mosaico, limpou a cerâmica, desenhou e cortou cada uma. “No mosaico, 100% das pedras são desenhadas e cortadas, porque tem que encaixar de forma perfeita. Muitas pessoas acham que o mosaico é só pegar os pedaços de pedra e ver qual encaixa, mas não”, disse.

Segundo ele, para todo o mosaico, gastaram aproximadamente 120 metros quadrados de cerâmica. Para revestir as torres ao lado da porta central, “compramos piso com o desenho dos tijolinhos e cortamos cada bloquinho para colocar como mosaico. Foram 32 caixas de piso. A princípio pareceu uma ideia absurda, mas queríamos que fosse a primeira igreja com a fachada 100% em mosaico artístico, então, tínhamos que fazer isso”, contou.

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Apesar de todo o trabalho, Zek disse que foi muito “prazeroso” poder realizar este projeto. “Muitas vezes, trabalhos de obras assim são estressantes, mas não neste caso. Foi muito prazeroso e tranquilo. Para minha vida pessoal, contribuiu muito, porque só de saber que estava fazendo para Deus era uma alegria diferente. Tinha também a oração, o apoio do padre e dos irmãos da igreja”, disse.

“A minha recompensa e grande felicidade é cumprir este sonho que começou com o padre e foi abraçado por todos. Isso só aumentou o meu catolicismo, porque a fé em Deus eu sempre tive, mas a minha relação com a igreja só cresceu depois deste projeto”, declarou.

Catequese a céu aberto

Em seu Instagram, padre Gabriel Vila Verde explicou cada imagem representada no mosaico da igreja de Acupe. Os degraus são ásperos e cor de pedra, o que “lembra que o caminho para o céu é estreito e difícil, mas sempre tem a felicidade como recompensa”. Abaixo da porta central há “um singelo presbitério para as celebrações campais”, com a imagem dos cinco pães e dois peixes, recordando “o milagre da multiplicação, símbolo da Eucaristia”.

Acima da porta esta o brasão da diocese de Cruz das Almas, “sinalizando que este templo está ligado ao bispo diocesano, que é sucessor dos apóstolos de Cristo”. Esta porta “é ladeada por duas torres, lembrando os dois títulos marianos da Ladainha: Torre de Davi e Torre de Marfim”. No rodapé da fachada, foi representado “o azul do mar com o verde dos manguezais”, pois “Acupe é conhecida por ser um núcleo de pescadores e marisqueiras”.

 

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Acima da porta no lado esquerdo está “São Gabriel, o anjo da boa notícia. Ele traz o lírio da pureza numa mão, e com a outra aponta para a Virgem Maria, modelo de vida pura, santa e honrada. Gabriel nos convida a imitá-la”. Acima da porta do lado direito, “São Miguel, o arauto da sentença eterna”, que traz a espada na mão direita “para nos defender dos ataques do demônio, mas também aponta o dedo indicador para a terra, como quem diz: ‘convertei-vos, mudem de vida, antes que chegue o dia da justiça’”.

“No centro da fachada, está Jesus Cristo, centro e razão da nossa fé”, afirmou. “Ele está crucificado, pois foi na Cruz que a humanidade encontrou salvação, porém está com os olhos abertos, vivo e olhando para a Virgem Maria, dizendo a frase bíblica: ‘Mulher, eis aí o teu filho’”, disse. Ao lado da cruz, de pé, estão Maria e João. “Os dois estão com as mãos postas em oração e olham para Jesus, nos lembrando que Ele deve ser o nosso foco, seja na dor ou na alegria”. E, “do centro da Cruz, sai o brilho do sol que espalha os seus raios por toda parte. Cristo é o sol da justiça que nos ilumina e nos tira das trevas. Todos os que se aproximam do templo, são consumidos pela luz que emana do Crucificado”, afirmou.

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