Vaticano, 29 de set de 2021 às 10:11
"É Cristo, com sua graça, quem nos torna justos", disse o papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira.
"O que é justificação? Nós, que éramos pecadores, nos tornamos justos. Quem nos justificou? Este processo de mudança é justificação. Nós, diante de Deus, somos justos. É verdade, nós temos nossos pecados pessoais. Mas fundamentalmente, nós somos justos. Isto é justificação", disse Francisco.
O papa descreveu a doutrina da justificação como "um tema difícil, porém importante", observando que ela gerou "muita discussão" entre os cristãos na época da reforma protestante, centrada nos escritos de são Paulo.
Ele disse que, ao mesmo tempo em que a doutrina é "decisiva para a fé", é difícil dar "uma definição exaustiva".
"Na verdade, Deus, através da morte de Jesus - e precisamos sublinhar isto: através da morte de Jesus - destruiu o pecado e nos concedeu definitivamente seu perdão e salvação. Assim justificados, os pecadores são acolhidos por Deus e reconciliados com Ele", disse o papa. "É como se a relação original entre o Criador e a criatura antes da desobediência do pecado tivesse sido restaurada. A justificação feita por Deus, portanto, nos permite recuperar a inocência perdida pelo pecado".
O tema do discurso do papa desta quarta-feira foi "Vida de fé", o nono do ciclo de catequeses sobre a Epístola de São Paulo aos Gálatas que Francisco vem desenvolvendo.
No início da audiência, a passagem de Gálatas 2, 19-20 foi lida aos peregrinos em várias línguas: “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.
O papa destacou uma "novidade" no ensinamento de São Paulo: essa justificação vem através da graça.
"O Apóstolo está sempre atento à experiência que mudou sua vida: seu encontro com Jesus Ressuscitado a caminho de Damasco". Paulo tinha sido um homem orgulhoso, religioso e zeloso, convencido de que a justificação consistia na observância escrupulosa dos preceitos da lei", disse.
"Agora, porém, ele foi conquistado por Cristo, e a fé n’Ele o transformou completamente, permitindo-lhe descobrir uma verdade que tinha sido escondida: não nos tornamos justos apenas por nosso próprio esforço, não, não somos nós, mas é Cristo, com sua graça, que nos torna justos".
O papa disse que seria errado supor que Paulo, portanto, rejeitou a Lei de Moisés que havia moldado tão profundamente sua vida.
"Não devemos, entretanto, concluir que a Lei de Moisés, para Paulo, havia perdido seu valor; ao contrário, ela permanece um dom irrevogável de Deus. Ela é, segundo o Apóstolo na carta aos Romanos, 'santa', observou Francisco.
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Para nossa vida espiritual, a observância dos mandamentos é essencial - já o dissemos muitas vezes". Entretanto, mesmo assim, não podemos contar com nossos esforços: a graça de Deus que recebemos em Cristo é fundamental".
Ele acrescentou: "Essa graça que vem de ser a justificação dada por Cristo que já pagou por nós". Dele, recebemos aquele amor gratuito que nos permite, por nossa vez, amar de maneira concreta".
Continuando sua explicação de justificação, o papa citou o são Tiago, que disse: "uma pessoa é justificada pelas obras e não somente pela fé" (Tiago 2:24). Segundo o papa, o ensinamento de são Tiago complementou o de são Paulo. "Assim, para ambos, a resposta da fé exige que sejamos ativos em nosso amor a Deus e em nosso amor ao próximo", disse.
"A justificação nos incorpora à longa história da salvação que demonstra a justiça de Deus: antes de nossas contínuas quedas e inadequações, Ele não desistiu de nós, mas quis nos fazer justos e o fez através da graça, através do dom de Jesus Cristo, de sua morte e ressurreição".
O papa disse que frequentemente descreve "o estilo de Deus" em três palavras: proximidade, compaixão e ternura.
"E a justificação é precisamente a maior proximidade de Deus conosco, homens e mulheres, é a maior compaixão de Deus por nós, homens e mulheres, a maior ternura do Pai", disse.
"A justificação é este dom de Cristo, da morte e da ressurreição de Cristo que nos torna livres". Mas, padre, eu sou um pecador... eu roubei... eu roubei..." Sim, sim. Mas fundamentalmente, você é justo. Permita que Cristo realize essa justificação. Nós não estamos fundamentalmente condenados. Permita-me dizer, somos santos. Mas, somos santos fundamentalmente: devemos deixar que venha a graça de Cristo e esta justiça, esta justificação, nos dará a força para avançar".
Concluindo sua catequese, o papa disse: "O poder da graça precisa ser unido às nossas obras de misericórdia, que somos chamados a viver para testemunhar como é tremendo o amor de Deus". Avancemos com esta confiança: todos nós fomos justificados, estamos apenas em Cristo. Devemos realizar essa justiça com nossas obras".
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