LOS ANGELES, 18 de out de 2021 às 17:40
Apesar do esforço de líderes católicos por defender o legado do missionário espanhol Frei Junípero Serra em meio à onda de vandalismo e crime que destruiu estátuas e igrejas católicas no ano passado, os líderes políticos do estado da Califórnia seguem determinados a remover as marcas do missionário que o papa Francisco canonizou como o primeiro santo hispano-americano.
O prefeito da cidade de Los Angeles, Eric Garcetti, anunciou neste 11 de outubro que a cidade não mais chamaria o parque em frente à estação de trens Union Station por seu nome informal, Father Junípero Serra Park. Uma estátua do Padre Serra esteve no parque desde a década de 1930 até 2020, quando manifestantes a derrubaram em meio a tensões raciais afirmando que o santo, que morreu em 1784, estava envolvido em injustiças cometidas no período colonial espanhol. O parque será chamado La Plaza Park até que um novo nome seja adotado.
"Todos compartilhamos a mesma missão, a missão que trouxe São Junípero Serra à Califórnia: compartilhar a boa nova do amor de Deus e testemunhar o seu amor através de nossas ações”, disse o arcebispo de Los Angeles, dom José Gomez em sua conta no Twitter no dia 15 de outubro, mostrando um desenho histórico de frades espanhóis batizando um bebê indígena.
Em um ensaio de 12 de setembro, o arcebispo Gomez juntou-se ao arcebispo de San Francisco, dom Salvatore Cordileone, para criticar a "alegação ultrajante" a respeito do Padre Serra e o sistema missionário por ele fundado.
"Como líderes das duas maiores comunidades católicas do Estado, servimos milhares de californianos nativos cuja fé remonta aos ancestrais que ajudaram a construir as missões", disseram os arcebispos. "Entendemos a amarga história da exploração dos nativos. Mas a história pode ser complicada e os fatos são importantes", acrescentaram.
Eles disseram que o Padre Serra era um "personagem complexo" que "defendia a humanidade dos indígenas, denunciava o abuso das mulheres indígenas e argumentava contra a imposição da pena de morte aos nativos que haviam incendiado uma missão e assassinado um de seus amigos".
Mesmo velho e doente, o padre Serra viajou 2 mil milhas até a Cidade do México "para exigir que as autoridades adotassem um projeto de lei favorável aos indígenas que ele havia escrito", disseram.
O prefeito Garcetti anunciou a mudança para homenagear o Dia dos Povos Indígenas.
"Los Angeles é uma cidade de pertencimento que assume a responsabilidade pelos erros que cometemos no passado", disse o político em uma declaração de 11 de outubro. “Nossos irmãos e irmãs indígenas merecem justiça e hoje damos um passo em direção a uma maior sensibilidade cultural e espaços para que os habitantes de Los Angeles se reúnam e realizem suas cerimônias tradicionais".
"Não se trata aqui de derrubar ou erguer estátuas. Trata-se de contar a complicada verdade da história", disse o prefeito à KABC News.
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"Os prédios que estão aqui foram construídos com o trabalho escravo dos habitantes nativos. E nós lamentamos isto", continuou Garcetti. "Lamentamos como cidade todas as coisas que foram feitas como cidade espanhola, cidade mexicana e uma cidade americana para apagar os povos de quem esta terra é e sempre será".
Garcetti disse que a cidade planeja emitir um pedido formal de desculpas, dar aos nativos americanos acesso prioritário ao parque, e trabalhar para que a prefeitura outorgue terrenos a descendentes de indígenas norte-americanos.
O Grupo de Trabalho de Memória Cívica, criado pelo gabinete do prefeito de Los Angeles, divulgou um relatório sobre o envolvimento com os eventos ocorridos em abril de 2021 quando estátuas e igrejas sofreram ataques em Los Angeles e outros lugares dos Estados Unidos. O texto não menciona especificamente Serra ou o catolicismo. Entretanto, reconhece o “apagamento da história do povo indígena de Los Angeles", endossa declarações de desculpas e pedidos de reconciliação e recomenda "práticas claras para melhorar e/ou descolonizar as práticas de apagamento histórico e exclusão".
Na última segunda-feira o vereador Mitch O'Farrell, um membro da tribo indígena Wyandotte, com sede em Oklahoma e reconhecida pelo governo de Washington, falou sobre a o tema da “descolonização”. Os comentários de O'Farrell foram explicitamente críticos em relação a são Junípero Serra.
"Lugares como o Parque Serra, nomeado em homenagem a Junípero Serra, que nesta região liderou a subjugação local e as conversões forçadas em nome da Igreja Católica, são um símbolo poderoso dos erros do passado", disse O'Farrell, segundo a KABC News.
Os arcebispos Gomez e Cordileone criticaram particularmente a acusação feita em um projeto de lei da Califórnia de que o Frei Junípero Serra supervisionava um sistema de missão que incluía "escravidão de adultos e crianças, mutilação, genocídio e agressão às mulheres".
"Embora haja muito a criticar sobre este período, nenhum historiador sério jamais fez afirmações tão ultrajantes sobre Serra ou o sistema missionário, a rede de 21 comunidades que os franciscanos estabeleceram ao longo da costa da Califórnia para evangelizar o povo nativo", disseram em seu ensaio os bispos e acrescentaram que os legisladores fundamentaram suas afirmações em uma única fonte tendenciosa, um livro do jornalista Elias Castillo.
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