“As novas mudanças trazidas pela revolução digital e os incríveis desenvolvimentos nas ciências nos obrigam a repensar o que é ser humano", com base na Escritura, na tradição clássica e na sabedoria de culturas não-europeias, disse o papa Francisco em mensagem de vídeo enviada ao Pontifício Conselho para a Cultura na terça-feira, 23 de novembro.

"Hoje, está em curso uma revolução, sim, uma revolução, que toca os nós essenciais da existência humana e requer um esforço criativo de pensamento e ação. Ambos. Há uma mudança estrutural na forma como entendemos geração, nascimento e morte", disse o papa. "A especificidade do ser humano em toda a criação, nossa singularidade em relação aos outros animais e até mesmo nossa relação com as máquinas estão sendo questionadas".

O Papa Francisco destacou o que ele chamou de "fluidez da visão cultural contemporânea": "É a era da liquidez".

Segundo ele, essa fluidez é uma diferença marcante em relação à época do Concílio Vaticano II, quando um humanismo secular, imanentista e materialista pelo menos compartilhava uma base comum com o humanismo cristão "sobre algumas questões radicais relacionadas à natureza humana".

"No entanto, a constituição conciliar Gaudium et Spes ainda é relevante a este respeito. Ela nos lembra, de fato, que a Igreja ainda tem muito a dar ao mundo, e nos obriga a reconhecer e avaliar, com confiança e coragem, as conquistas intelectuais, espirituais e materiais que surgiram desde então em vários campos do conhecimento humano", comentou o papa.

A mensagem do papa se deu por causa da assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, realizada esta semana com o tema "Repensando a Antropologia - Rumo a um Novo Humanismo". O Conselho faz suas assembleias a cada dois ou três anos para refletir sobre as principais questões e realidades culturais nas sociedades contemporâneas.

Em sua mensagem de vídeo, o papa disse que as questões sobre a identidade humana estão sendo colocadas de maneira decisiva no século XXI.

"O que significa hoje ser homem ou mulher como pessoas complementares chamadas a se relacionar uns com os outros? O que significam as palavras 'paternidade' e 'maternidade'", perguntou ele. "E novamente, qual é a condição específica do ser humano, o que nos torna únicos e irrepetíveis em comparação com as máquinas e até mesmo com outras espécies animais? Qual é a nossa vocação transcendente? De onde vem nosso chamado para construir relações sociais com os outros"?

O papa Francisco destacou que a Bíblia oferece "as coordenadas essenciais para delinear uma antropologia da pessoa humana em relação a Deus, na complexidade das relações entre homens e mulheres, e no nexo com o tempo e o espaço em que vivemos".

"O humanismo bíblico, em diálogo fecundo com os valores do pensamento grego clássico e latino, deu origem a uma visão elevada da pessoa humana, nossa origem e destino final, nosso modo de viver nesta terra", disse ele.

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O papa acrescentou que, enquanto esta fusão de sabedoria antiga e bíblica permanece "um paradigma fértil", uma nova síntese criativa também é necessária com "a tradição humanista contemporânea e a de outras culturas".

"Estou pensando, por exemplo, na visão holística das culturas asiáticas, em uma busca de harmonia interior e harmonia com a criação. Ou a solidariedade das culturas africanas, para superar o individualismo excessivo típico da cultura ocidental. A antropologia dos povos latino-americanos também é importante, com seu animado senso de família e celebração; e também as culturas dos povos indígenas de todo o planeta", disse Francisco.

"Nessas diferentes culturas, existem formas de humanismo que, integradas ao humanismo europeu herdado da civilização greco-romana e transformado pela visão cristã, são hoje o melhor meio de abordar as inquietantes questões sobre o futuro da humanidade".

São João Paulo II fundou o Pontifício Conselho de Cultura em 1982 para fomentar o diálogo entre a Igreja e as culturas contemporâneas. Em 1993, ele combinou o Conselho com o Pontifício Conselho para o Diálogo com os Não-Crentes.

Hoje, este órgão se dedica a criar um espaço de diálogo católico com as ciências, humanidades, economia, cultura digital e inteligência artificial, esportes, patrimônio cultural, artes e música.

"Agora mais do que nunca o mundo precisa redescobrir o significado e o valor do ser humano em relação aos desafios que enfrentamos", disse o papa Francisco.

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