Nicósia, 3 de dez de 2021 às 14:16
O papa Francisco exortou a dar passos concretos para caminhar “do conflito à comunhão, do ódio ao amor”, porque Deus “chama-nos a também não nos resignarmos com um mundo dividido”, mas a formar “uma humanidade sem muros de separação”.
O papa participou no dia 3 de dezembro, da oração ecumênica com os migrantes na Igreja da Santa Cruz de Nicósia, em seu segundo dia de visita apostólica ao Chipre.
É “um caminho paciente que, dia após dia, nos faz entrar na terra que Deus preparou para nós”, disse o papa. “Nesse caminho, que é longo e feito de subidas e descidas, não nos devem dar medo as diferenças entre nós, mas sim os nossos fechamentos e preconceitos, que impedem de nos encontrarmos verdadeiramente e de caminharmos juntos" porque "os fechamentos e os preconceitos reconstroem entre nós aquele muro de separação que Cristo derrubou, ou seja, a inimizade".
Conselhos para acabar com a divisão
O papa sugeriu dois conselhos para que o Chipre acabe com a divisão e “possa tornar-se com a graça de Deus um laboratório de fraternidade”.
O Chipre é um país dividido entre a comunidade de língua grega, majoritária, e a minoria de lingua turca. Indepdente do Reino Unido desde 1960, o Chipre viu a tensão culminar em confronto já em 1964. Tropas da ONU mantêm, desde 1964, a ilha dividida entre as duas comunidades. Em 1974, a ditadura militar que governava a Grécia tentou derrubar o presidente eleito de Chipre. A Turquia interveio e conseguiu o controle de um terço da ilha. Em 1983, a parte controlada pela Turquia declarou-se República Turca do Norte de Chipre, reconhecida só pela Turquia. Desde 2004, negociações tentam reunificar a ilha, sem sucesso. A parte grega do Chipre integra a União Europeia.
O papa destacou a importância do “reconhecimento efetivo da dignidade de toda a pessoa humana” porque “é um fundamento ético, um fundamento universal que está no centro também da doutrina social cristã”.
Além disso, Francisco exortou "a abertura confiante a Deus Pai de todos", pois "este é o ‘fermento’ que somos chamados a levar como crentes".
No seu discurso, o papa agradeceu também a todos os participantes do momento de oração. Foi o último evento de sua visita ao Chipre. Amanhã o papa viaja para Atenas, capital da Grécia.
O papa agradeceu ao patriarca latino de Jerusalém, dom Pierbattista Pizzaballa; ao patriarca maronita de Antioquia, cardeal Béchara Boutros Raï; à diretora da Cáritas Chipre, Elisabeth V. Kassinis e aos quatro jovens que compartilharam seu breve testemunho: Thamara da Silva, do Sri Lanka, Maccolins Ewoukap Nfongock, de Camarões, Rozh Najeeb, do Iraque e Mariamie Besala Welo, da República Democrática do Congo.
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A Maccolins, de Camarões, o papa disse que ele partilhou que ao longo da sua vida foi "ferido pelo ódio". Acrescentou que “o ódio poluiu também as nossas relações entre os cristãos” e isso “deixa marcas, marcas profundas que perduram por muito tempo. Trata-se de um veneno, do qual é difícil desintoxicar-se. É uma mentalidade distorcida que, em vez de nos fazer reconhecer como irmãos, faz-nos ver como adversários, como rivais, objetos a serem vendidos e explorados”.
“A vossa presença, irmãos e irmãs migrantes, é de grande significado para esta celebração. Os vossos testemunhos são como um ‘espelho’ para nós, comunidades cristãs”, disse o papa.
Ao pronunciar o seu discurso, o papa improvisou em várias ocasiões. Entre elas, lembrou os migrantes que não conseguiram chegar ao destino e morreram, ou que são vítimas do tráfico.
O papa pediu "não olhar para outro lado" ou calar-se diante do sofrimento de tantos irmãos e irmãs que se encontram em lugares de tortura e escravidão. “Essa é a história dessa civilização desenvolvida que chamamos de ocidente”, lamentou.
“Que Deus desperte a nossa consciência e desculpe-me se disse essas coisas, mas não podemos ficar calados, olhando para o lado nessa cultura da indiferença. Que Deus abençoe vocês”, concluiu o papa.
A reunião ecumênica de oração terminou com a oração do Pai-Nosso.
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— ACI Digital (@acidigital) December 3, 2021