MICHIGAN, 13 de dez de 2021 às 11:40
"Nossas atrações sexuais ou conflitos sobre a identidade sexual não nos definem ou nos identificam, nossa identidade fundamental é como filho ou filha amados de Deus", diz o documento pastoral sobre pessoas com atração pelo mesmo sexo ou com “disforia sexual” publicado pelo bispo de Marquette, EUA, dom John Doerfler. Fiel aos ensinamentos da Igreja, a instrução intitulada “Criado à Imagem e Semelhança de Deus: Instrução sobre Alguns Aspectos do Cuidado Pastoral para Pessoas com Atração pelo Mesmo Sexo e Disforia de Gênero” foi publicada em 29 de julho de 2021 e desde então vem sendo usada por muitos pastores, diretores de escola e evangelizadores da diocese.
“Hoje há uma necessidade cada vez maior do cuidado pastoral das pessoas com atração pelo mesmo sexo e pessoas com disforia de gênero. Abramos nosso coração ao amor de Deus para que transbordemos de amor, bondade e respeito pelos demais”, diz a introdução ao texto.
A instrução “não pretende ser uma explicação completa do tema”, mas fazer “considerações orientadoras para o cuidado pastoral”.
O documento diz que “para acompanhar os outros não basta apenas enunciar o ensinamento da Igreja. Devemos nos esforçar por conhecer as pessoas e orientá-las, passo a passo, enquanto todos nós caminhamos em direção à plenitude da verdade”.
“O acompanhamento exige docilidade ao Espírito Santo e discernimento das etapas do caminho. O discernimento requer a virtude da prudência pastoral e deve realizar-se na fidelidade aos ensinamentos da Igreja. O acompanhamento não dilui os ensinamentos da Igreja, mas, estimulados pela caridade, devemos anunciar o Evangelho em sua plenitude”, diz a instrução.
Segundo o documento "experimentar sentimentos e desejos que não estão de acordo com o verdadeiro significado e propósito da sexualidade não é um pecado. Cometemos um pecado se agimos de forma livre e deliberada sobre desejos desordenados”, afirma.
A instrução recorda que “só no contexto do matrimônio entre homem e mulher é que as relações sexuais podem exprimir um amor que é permanente, porque entregaram toda a sua vida pelas promessas que fizeram no dia do casamento. Fora do matrimônio, a atividade sexual não pode expressar um amor permanente”.
O documento preparado para a diocese de Marquette explica que “o caminho do acompanhamento conduz primeiro a um encontro mais profundo com Jesus e ao anúncio do querigma, mensagem central do Evangelho”, pois, “à luz da experiência do amor de Deus e com o poder de sua graça, as pessoas podem abordar o comportamento pecaminoso".
“Cabe aos seguidores de Jesus nos acompanhar e ajudar no caminho da fé para não ceder aos nossos desejos desordenados. Quando tropeçamos e caímos ao longo do caminho, devemos ajudar-nos mutuamente a nos levantar pela graça de Deus e começar de novo. Ao acompanhar pessoas com atração pelo mesmo sexo, reconhecemos que também precisamos de acompanhamento”, diz a instrução. "Aqueles que vivenciam a incongruência entre seu sexo corporal e o que percebem como seu sexo, merecem nosso amor, compaixão e nosso cuidado".
A instrução pastoral da diocese de Marquette foi atacada em um artigo do jornal The Washington Post.
O veículo disse que a diocese "instruiu seus pastores a negar o batismo, crisma e outros sacramentos a pessoas transgênero e não binárias, a menos que elas se 'arrependam', [sendo] possivelmente a primeira diocese nos Estados Unidos a emitir uma política tão radical sobre aqueles que se identificam com um gênero diferente do sexo atribuído no nascimento”.
“O guia da elaborado pela diocese de Marquette também estipula que as pessoas transgênero não podem receber a comunhão, na qual os católicos acreditam que o corpo e o sangue de Jesus Cristo estão realmente presentes”, foi outra das acusações.
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A instrução “Criados à Imagem e Semelhança de Deus” diz que “uma pessoa que vive publicamente em uma relação sexual do mesmo sexo (ou em qualquer relação sexual fora do matrimônio entre um homem e uma mulher) não pode ser batizada, crismada ou recebida em plena comunhão na Igreja, a menos que se arrependa e se retire do relacionamento”.
“Em perigo de morte, se houver evidência de arrependimento, esses ritos podem ser realizados sem afastamento da relação, mesmo que a separação formal não seja possível ou seja gravemente inconveniente”, acrescentou.
“Da mesma forma uma pessoa que publicamente se identifica como sendo de um gênero diferente de seu sexo biológico ou que tentou uma 'transição de gênero' não pode ser batizada, crismada ou recebida em plena comunhão na Igreja, a menos que a pessoa tenha se arrependido”, continua o texto.
“A experiência da incongruência na identidade sexual de alguém não é pecado se não deriva da vontade própria da pessoa, nem atrapalhe o caminho de iniciação cristã. Porém, os comportamentos deliberados, livremente escolhidos e manifestos para redefinir o sexo constituem um obstáculo”, explicou.
Quanto à recepção da Sagrada Comunhão, a explicação é semelhante. A instrução esclarece que não são apenas “as pessoas que vivem em uma relação sexual entre pessoas do mesmo sexo” as que não devem se apresentar para receber a Eucaristia, mas também aquelas que vivem “em qualquer relação sexual fora de um matrimônio reconhecido eclesiasticamente entre um homem e uma mulher”.
“De forma semelhante, as pessoas que se identificam como de um gênero diferente ao de seu sexo biológico ou que tentaram uma ‘transição de gênero’ não devem se apresentar para a Sagrada Comunhão”, continua.
O documento de dom Doerfler reiterou que “os pastores devem abordar essas situações em particular com as pessoas e aconselhá-las a não se apresentarem para a sagrada comunhão, a menos que tenham se arrependido e recebido o sacramento da Penitência. O arrependimento não exige reverter as mudanças físicas no corpo que a pessoa experimentou”, destaca o texto.
Dom Doerfler disse que ter participado como padre do Courage, apostolado católico para pessoas com atração pelo mesmo sexo, por vários anos foi um “privilégio” e que ele ainda permanece inspirado pela “fé e pelo desejo de viver castamente” dos membros, experiência que o inspirou a preparar este documento. “Foi um dos ministérios mais alegres e significativos que tive como sacerdote, e um verdadeiro exercício de paternidade espiritual”.
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