BEIRUTE, 15 de dez de 2021 às 10:37
O cristão Majed tinha apenas três anos quando a guerra na Síria mudou completamente o destino de sua família: foram obrigados a deixar sua terra natal para viver como refugiados no Líbano.
“Meu nome é Majed. Agora moro com minha família no Líbano, mas meu pai me disse que somos da Síria e que nossa casa é lá”, disse um “dos milhares de refugiados que tiveram que deixar seu país e se refugiar na cidade de Zahle, no Vale do Beqaa, no Líbano”, segundo a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.
Há pouco mais de 10 anos começou a guerra civil na Síria. Uma série de protestos resultou em confrontos entre as forças armadas e vários grupos, incluindo movimentos jihadistas como Jabhat Fateh al-Sham e o Estado Islâmico, que lutam entre si até hoje.
Desde o início da guerra até dezembro de 2020, mais de 387 mil pessoas morreram e foram registrados mais de 205 mil desaparecidos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
Segundo a ONU, 55% dos 22 milhões de habitantes que viviam na Síria antes da guerra tiveram que fugir. Destes, 5,6 milhões são refugiados no Líbano, Turquia e Jordânia. Cerca de 2 milhões de sírios vivem em extrema pobreza no país e 13,4 milhões precisam de ajuda humanitária.
Majed está com 12 anos e, embora experimente a dor da privação com sua família, espera que o Natal chegue logo. Ele se diz consolado por saber que a Sagrada Família se parece com a sua e que existem boas pessoas que os ajudam a continuar.
“Tornei-me um refugiado, como o Menino Jesus, que também teve que fugir com os pais”, disse o menino referindo-se ao exílio da Sagrada Família no Egito para se salvar do massacre ordenado por Herodes. “Às vezes minha família fica triste, dá saudades de casa. Também há lágrimas quando papai nos conta que tínhamos uma casa linda, espaçosa e iluminada", disse ele.
Ele nos disse que “a igreja ficava enfeitada e acolhia a todos no Natal, mas agora tudo desapareceu. Meu desejo de Natal é que as pessoas pensem em famílias como a minha e nos ajudem a ter esperança de um futuro melhor. Feliz Natal a todos!”
Basman Abboud, pai de Majed, disse à fundação pontifícia ACN: “pelo menos 50 pessoas da nossa cidade morreram em seis meses, outras foram sequestradas, muitas tiveram os seus meios de sobrevivência destruídos e queimados”. A família Abboud também sofreu as consequências da guerra.
“Nós aguentamos um ano, vivíamos no inferno: sem trabalho, sem eletricidade, sem escolas, sem comida. Os disparos dos franco-atiradores eram uma ameaça diária. Além disso, o fechamento das escolas deixou uma geração inteira sem educação”, disse Abboud.
O pai da família explicou que, desde o início da guerra, “os cristãos achavam que a única coisa que [seus agressores] queriam era que eles fossem embora. Muitos cristãos na Síria relatam que os grupos terroristas repetiam um slogan: os alauitas (confissão religiosa do presidente Assad) para o caixão e os cristãos para Beirute”.
Abboud disse que os terroristas planejavam confiscar as propriedades dos cristãos à força e que a subsequente fuga de sua família foi dramática. “Antes que a situação piorasse, sabíamos que nossas ruas estavam repartidas, alguns até adivinhavam quem ia ficar com uma casa e quem com a outra”, disse.
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“Eles nos atacaram com armas enquanto estávamos indefesos, mataram 15 jovens e queimaram cinco casas. Todas as pessoas fugiram, corremos com o povo, não levamos nada, só as roupas que vestíamos, saímos de casa e corremos”, acrescentou.
Após o massacre e a fuga da Síria, a família de Majed chegou a Zahle, Líbano, em 20 de março de 2012 e se abrigaram na casa de um parente por alguns meses, onde passaram frio e dormiam mal. Explicou que como chegaram no inverno e não tinham cobertas, o frio era insuportável e que a casa abrigava 15 pessoas que tinham que revezar para dormir, pois não havia lugar para todos.
Abboud disse que embora em poucos meses tenha encontrado um emprego e se mudado com sua família para uma casa com dois quartos, o salário era suficiente apenas para o aluguel, luz e despesas domésticas. Nesta situação, ficaram sabendo que o arcebispo estava ajudando refugiados sírios e libaneses, e graças ao refeitório do programa diocesano conseguiram se alimentar.
“A diocese também nos ajudou na área médica, pois o hospital Tel-chiha, gerido pela diocese, nos ajudou na cirurgia de minha esposa”, disse ele. "Sem essa ajuda misericordiosa, não saberíamos o que fazer", disse ele, já que a pandemia da covid-19 os deixou desempregados por um ano.
No entanto, lembrou que em meio à crise, a oração sempre os acompanhou e fortaleceu como família nestes anos de grande sofrimento e privação.
“O Senhor está presente e confiamos na sua presença. Ainda estamos vivos. Agradecemos a todos aqueles que fazem o bem, peço a Deus que os recompense porque não podemos os pagar pelo que estão fazendo. Deus vê e sabe tudo o que eles estão fazendo por nós”, concluiu.
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