Roma, 21 de dez de 2021 às 13:03
Desde o início da guerra entre a Armênia e o Azerbaijão, na região de Nagorno-Karabakh, centenas de milhares de pessoas vítimas de violência foram forçadas a viver como refugiadas e hoje lutam para sobreviver graças à caridade da Igreja Católica.
Desde 27 de setembro de 2020, a Armênia e o Azerbaijão estão em guerra em Nagorno-Karabakh. Depois do fim da União soviética, a região ficou sob a soberania do Azerbaijão, uma das repúblicas que constituíam a União Soviética, até que em 1994 foi ocupada pelas forças militares da Armênia, que também tinha sido parte da URSS. Desde então, as autoridades armênias proclamaram o território como República de Artsaque.
Um número significativo de armênios cristãos vivia na região de Nagorno-Karabakh, até que no ano passado o Azerbaijão, país de maioria islâmica e cultura turca, lançou uma ofensiva para recuperar o enclave, com apoio logístico da Turquia.
Em 9 de novembro de 2020, foi negociado um cessar-fogo entre os dois países. Atualmente, a guerra continua. O exército do Azerbaijão ocupou amplas partes deste território e o exército armênio resiste nas zonas montanhosas do interior.
Até agora, mais de quatro mil soldados armênios morreram. Segundo a ACN, as ofensivas deixaram pelo menos 90 mil mortos e vários crimes de guerra. A ofensiva intensificou o "antigo conflito e produziu uma catástrofe humanitária", diz a ACN.
Segundo a fundação pontifícia, desde o início da guerra cerca de “25 mil refugiados puderam voltar para suas casas. O resto está preso na Armênia e está lutando para sobreviver e se recuperar”.
Entre eles está a família de Lida, uma viúva de Nagorno-Karabakh que depois que a guerra começou teve que fugir de sua casa com sua família para viver como refugiada em Artaxata, uma pequena cidade localizada na fronteira tríplice entre Armênia, Turquia e Azerbaijão.
Numa recente visita da ACN a Artaxata em outubro, Lida contou que antes do conflito, ela e os seus dois filhos levavam “uma vida boa em Nagorno-Karabakh”. Ela disse que trabalhava como professora, tinha uma casa própria "e tudo o que precisávamos". Há seis meses ela mora em uma casa em Artaxata, um lugar cheio de prédios industriais abandonados, resquícios da era soviética.
Lida contou que no dia 27 de setembro de 2020, seus dois filhos, de 22 e 24 anos, se alistaram no exército. Quando estava com sua nora Mariam e sua neta Nané, houve um bombardeio. Primeiro, as três se protegeram debaixo da mesa, depois se esconderam no porão, onde não tinham eletricidade, mas tinham comida e água para sobreviver.
Em seguida, os anciãos da aldeia disseram-lhes que deveriam deixar a aldeia, assim, carregando uma única mala, "fugimos primeiro para Berdsor e, depois de uma semana, fomos de ônibus para a Armênia", disse Lida. No início moraram com uma família em Artaxata, mas há meio ano se mudaram para não ser “um peso”.
A casa onde Lida mora atualmente é um lugar pobre, mas "limpo e arrumado". A casa tem um buraco no teto do quarto, e não tem serviços básicos como luz e água. “Uma vez por semana trazemos água de nossos parentes”, explicou.
Lida disse que também devem assumir o pagamento de duas dívidas. Ela contou que precisaram pedir "um empréstimo para os móveis mais necessários"; e que precisam pagar o empréstimo que fizeram para fazer o quarto de sua neta quando ela nasceu. “O banco [em Nagorno-Karabakh] não tem misericórdia. Não sei como vamos fazer”, disse ela.
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Nos primeiros quatro meses, Lida disse que recebeu uma ajuda de US$ 150, e que as famílias que perderam um integrante receberam "um pagamento único de US 20 mil". Embora os filhos de Lida não tenham morrido, "o mais velho está gravemente traumatizado e não pode trabalhar".
Para sobreviver, ela trabalha dando aulas particulares a dois alunos, e seu filho mais novo trabalha em uma fábrica de conservas, embora tenha dito que “recebe mal e seu primeiro salário foi pago depois de seis meses”.
Lida destacou que “se não estiverem destruídas, deveríamos voltas às nossas casas”, mas “a situação lá não é segura”.
Ela explicou que "os soldados da chamada 'Mirotvorcy' (os 'soldados da paz' russos), que devem servir na fronteira, os ignoram quando têm dúvidas", e que os azerbaijanos que ocuparam sua casa "publicam abertamente no Facebook".
Assim como ela, milhares de pessoas perderam seus empregos, sofreram os traumas da guerra ou até morreram. Além disso, o governo cortou a ajuda para os refugiados em Artaxata e muitas agências de ajuda também saíram da zona, disse a fundação.
Em meio a este contexto, a Igreja “ajuda com apoio espiritual e psicológico para superar traumas”, mas também ajuda material, diz a ACN.
A ACN cobre por 15 meses o custo "de um pacote de emergência para 150 famílias na cidade de Goris, na província de Syunikh, perto da fronteira com Nagorno Karabakh". Essa assistência inclui “moradia, meios de subsistência, assistência psicológica e pastoral”.
A ACN disse que graças à solidariedade dos fiéis, eles podem cuidar dos mutilados de guerra, ajudá-los a se instalar numa casa adaptada ao seu tipo de deficiência. Por exemplo, "instalar um banheiro para não ter que atravessar o pátio em temperaturas abaixo de zero", disse.
Para as pessoas cujos parentes que sustentavam a casa morreram na guerra, a Igreja dá ferramentas e oportunidades para se manter diante do “aumento do desemprego e dos preços no país”; e “na medida do possível”, os ajuda a encontrar trabalho.
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