O famoso teólogo espanhol José Antonio Fortea alertou sobre o mal que o Caminho Sinodal Alemão pode causar à Igreja Católica.

O Caminho Sinodal Alemão é um processo de discussões do qual participam bispos e leigos para tratar de temas como o exercício do poder, a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher na Igreja. O processo começou em 1º de dezembro de 2019 e está programado para terminar em fevereiro deste ano.

No artigo “Para onde vai a Igreja alemã”, o padre Fortea destacou que “se observamos a história da Igreja, podemos comprovar que o caminho sinodal é algo querido por Deus, mas nem sempre os concílios deram como resultado um fruto correto”.

"Hoje chamamos as reuniões que se extraviaram de conciliábulos, mas no seu tempo foram consideradas por seus integrantes verdadeiros concílios tanto como os que deram definições que passaram a ser magistério da Igreja”, disse Fortea.

Segundo o teólogo, "um sínodo, um concílio, qualquer reunião eclesiástica, pode ser canalizada de forma excessiva e ilegítima, pode haver pressões".

“E a isso devemos acrescentar que um concílio regional ou um sínodo provincial não necessariamente tem que ser expressão da fé da Igreja”, acrescentou referindo-se ao caso da Alemanha.

O papa Francisco, cardeais, bispos e leigos da Alemanha já manifestaram preocupação com o rumo que o Caminho Sinodal Alemão tomou. Há risco de um cisma com a Igreja universal.

Padre Fortea disse em seu artigo que "um sínodo tem a ajuda do Espírito Santo garantida, mas não tem garantido que o resultado final seja uma expressão sem dúvidas da fé da Igreja”.

“Em um conclave, por exemplo, a assistência do Espírito Santo é garantida, mas isso não significa que os cardeais ouçam a voz de Deus. A eleição de um sumo pontífice não é necessariamente a expressão do que Deus queria”. Bento XVI disse que a Igreja tem um número razoável de maus papas para provar isso.

Para o padre espanhol, isso mostra precisamente que “a escuta do Espírito é absolutamente necessária. Dessa escuta dependerá que o resultado seja ou não expressão da vontade de Deus”.

“Lamento quebrar uma certa visão sobre os sínodos como algo absoluto, mas a história da Igreja é clara: somente os concílios universais em união com o Romano Pontífice têm garantia de infalibilidade. Essa tem sido a tradição constante da Igreja”, disse.

Portanto, continuou ele, "os participantes do sínodo alemão devem ter consciência de sua própria falibilidade, tanto pessoal quanto coletiva".

"Eles não podem se desligar da estrutura da verdade que é, poderíamos chamá-lo assim, o ‘sínodo universal’”.

Padre Fortea disse que “já que não entraremos em acordo sobre o que entra e o que não entra dentro da fé, ao menos é preciso aceitar a estrutura eclesial para a custódia da fé estabelecida na Igreja pelo próprio Jesus Cristo quando esteve sobre a terra”.

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"Se essa 'ordem eclesial universal' não for aceita, o sínodo inicia suas deliberações a partir de um ponto de partida sem centro. O que está sendo deliberado não é esta ou aquela questão moral ou bíblica, mas o próprio ser da Igreja, a capacidade da Igreja de salvaguardar a fé entregue por Cristo”, disse.

Padre Fortea disse que longe de ser "tradicionalista", considera que "a teologia deve avançar dentro de uma evolução homogênea do dogma".

"Minhas posições são progressistas, mas de um progressista que acredita em um depositum fidei, o depósito da fé", disse.

“Mas se o progressismo supõe a revolução, ou seja, a demolição dos pilares que sustentam nossa conexão com uma verdade passada inalterável; então, que não contem comigo nesse ‘incêndio’", disse ele.

O padre destacou que “eu sou espanhol e a verdade é a mesma na Alemanha e na Espanha. O sínodo alemão não pode determinar qual é a verdade para os espanhóis. E, obviamente, a verdade não é uma no norte da Europa e outra no sul”.

"Ou o que era verdade no século VII deixa de ser verdade no século XVIII", destacou.

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"O sínodo alemão, por mais democrático que seja, não pode me obrigar", observou.

Padre Fortea destacou que “todos os membros do sínodo devem aceitar que fazem parte de uma família e que um certo número de votos não poderá obrigar a Igreja dos cinco continentes a acreditar ou não acreditar em uma coisa. Porque as questões debatidas nessa reunião germânica afetam diretamente ao que é a verdade na Igreja: a Igreja errou ao ensinar universalmente esta coisa ou outra?”

Para Fortea, “seria ingênuo não perceber que as questões morais que foram levantadas afetam plenamente o conceito de magistério na Igreja Católica".

“Ou se aceita que qualquer decisão deve ser submetida à ‘família universal’, ou se aceita que existem ‘pastores de pastores’ com uma função específica de Cristo”.

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