As crescentes tensões com a Rússia podem levar a um conflito militar com a Ucrânia a curto prazo e são "um grande perigo" para toda a Europa, disseram ontem bispos católicos da Ucrânia e da Polônia.

Numa mensagem conjunta, bispos de ambos os países pediram aos governantes que se abstenham de hostilidades contra a Ucrânia.

A tensão entre a Ucrânia e a Rússia cresceu com o deslocamento de 100 mil soldados russos para fronteira com a Ucrânia.

A Ucrânia era, até 1991, uma das repúblicas soviéticas que fazia parte da URSS. Independente, o país busca aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar liderada pelos EUA e integrada pelos países da Europa Ocidental.

A Rússia quer um acordo com a Otan de que a aliança não aceite a entrada de nenhuma ex-república soviética.

“A situação atual representa para os países da Europa Central e Oriental e para todo o continente europeu um grande perigo, que pode destruir o progresso feito até agora por muitas gerações na construção de uma ordem pacífica e de unidade na Europa”, diz o documento divulgado ontem.

A mensagem conjunta foi assinada pelo arcebispo-mor Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja greco-católica ucraniana; dom Stanisław Gądecki, presidente da Conferência Episcopal Polonesa; dom Mieczysław Mokrzycki, vice-presidente da Conferência Episcopal Ucraniana; dom Eugeniusz Popowicz, bispo de Przemysl e Varsóvia da Igreja greco-católica polonesa; dom Nil Luszczak, administrador apostólico da Sé Vacante da Eparquia de Mukachevo, Igreja Católica de rito ruteno bizantino da Ucrânia.

“Em seus discursos, os líderes de muitos países falam sobre o aumento da pressão da Rússia sobre a Ucrânia, já que reúnem massivamente armas e tropas em sua fronteira. A ocupação de Donbass e Crimeia demostrou que a Federação Russa – violando a soberania nacional e a integridade territorial da Ucrânia – desrespeita as normas vinculantes do direito internacional”, diz o texto.

Os bispos disseram que “hoje, a busca de alternativas à guerra para resolver os conflitos internacionais tornou-se uma necessidade urgente, já que o poder aterrorizante dos meios de destruição está agora inclusive nas mãos das pequenas e médias potências, e os laços cada vez mais fortes que existem entre os povos de todo o mundo tornam difícil, se não virtualmente impossível, limitar os efeitos de qualquer conflito”.

Nesse sentido, não só pediram aos governantes que abandonem todo tipo de hostilidade, mas também que deixem de lado “imediatamente a via do ultimato e a utilização de outros países como moeda de troca”. 

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“As diferenças de interesses não devem ser resolvidas pelo uso de armas, mas através de acordos. A comunidade internacional deve se unir em solidariedade e apoiar ativamente, de todas as maneiras possíveis, a sociedade em perigo”, destacaram os bispos da Polônia e da Ucrânia.

O documento diz que os regimes totalitários do século XX, ignorando a autoridade de Deus e "em nome de falsas ideologias", condenaram "nações inteiras" ao aniquilamento, violaram o respeito pela dignidade humana e a essência do exercício do poder político se reduziu à mera violência”.

“Também hoje queremos deixar claro que toda guerra é uma tragédia e nunca poderá ser um meio adequado para resolver os problemas internacionais. Nunca foi e nunca será uma solução adequada porque gera novos e mais graves conflitos”, acrescentaram.

O documento assinado pelos bispos cita o papa são Paulo VI, que, em seu discurso na sessão de 1978 da Conferência das Nações Unidas sobre Desarmamento, descreveu a guerra como "um meio extremamente irracional e moralmente inaceitável de ajustar as relações entre os Estados".

Da mesma forma, recordaram a oração de são João Paulo II: “Pai, conceda ao nosso tempo dias de paz. Nunca mais a guerra! Amém".

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