Roma, 26 de jan de 2022 às 16:06
A comunidade da paróquia de Nossa Senhora do Carmo, em Mieze, Moçambique, esculpiu um crucifixo usando a madeira queimada da casa de um cristão e rezaram pelas das vítimas dos massacres perpetrados por terroristas islâmicos desde 2017.
Toda a comunidade cristã da vila de Mieze vivia antes no distrito de Muidumbe, capital de Cabo Delgado, mas por causa da violência foram obrigados a "reconstruir as suas vidas noutros locais, seja em campos de reassentamento ou nas aldeias, acolhidos por parentes e amigos”, disse a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).
Um dos ataques mais devastadores ocorreu contra a missão católica de Nangololo, Muidumbe, em outubro de 2017. A missão foi reduzida a cinzas, deixando as casas dos cristãos, a paróquia, a casa paroquial e outros edifícios inabitáveis.
Em outro ataque, ocorrido entre 6 e 8 de novembro de 2020, 50 jovens foram decapitados em um campo de futebol na vila de Muatide.
Desde o início do conflito houve mais de três mil mortos e mais de 850 mil deslocados.
O padre salesiano brasileiro Edegard Silva, missionário em Cabo Delgado, também teve que fugir de Maidumbe para Mieze.
"A cruz foi feita com a madeira queimada da casa de um cristão e o Cristo está despedaçado porque queremos recordar a situação de tantas pessoas, tantos homens, mulheres e crianças que foram esquartejados", disse Silva. "Por isso o corpo, as pernas, os braços e a cabeça de Cristo estão separados, porque expressam a realidade de tanta gente aqui nesta guerra em Cabo Delgado", disse o padre ACN.
Ele foi um dos principais incentivadores da criação de novos espaços para rezar: um para rezar a via-sacra e outro para o terço missionário.
Cada vez que rezam a via-sacra, os cristãos de Mieze lembram o horror da guerra, da violência e da morte em Cabo Delgado.
O padre missionário contou que a cruz de madeira queimada com o Cristo em pedaços é o elemento central da oração da via-sacra, que acontece em um pequeno espaço construído com estacas de madeira e coberto de palha, como todas as casas das cidades da província.
À entrada, uma pequena placa diz: “Este é o rosto de Jesus em Cabo Delgado”.
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Ao lado, observa a ACN, há um campo aberto com um terço gigante desenhado no chão.
Ajuda à Igreja que Sofre (ACN)
“O objetivo é lembrar a dimensão mariana da Igreja e a solidariedade em tantas partes do mundo”, disse o padre Edegard.
O missionário falou que é uma “bela realidade” que “em todas as missas sempre se faça uma oração pela paz em Moçambique e no mundo”.
“Não pedimos a paz só para Cabo Delgado, porque esta realidade de guerra não existe só aqui. O terço se abre ao mundo, este é o terço missionário. Quando o rezamos, pedimos paz em todos os continentes, solidariedade e também por nós mesmos", disse.
“Quando trazemos a nossa dor à oração, não queremos rezar apenas pela dor de Cabo Delgado, mas também pelas dores do mundo, pelas cruzes do mundo”, acrescentou.
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— ACI Digital (@acidigital) January 26, 2022