MUNIQUE, 27 de jan de 2022 às 15:30
O arcebispo de Munique e Freising, Reinhard cardeal Marx, pediu pessoalmente desculpas às vítimas de abuso sexual pelo clero. Marx falava em uma entrevista coletiva transmitida ao vivo em Munique, no sul da Alemanha, hoje, 27 de janeiro, sobre o relatório criticando o tratamento dos casos.
O cardeal de 68 anos disse que o tratamento das vítimas era "indesculpável". “A mim é atribuída responsabilidade nesse relatório e estou preparado para assumir responsabilidades. No ano passado escrevi ao papa Francisco, e também já afirmei em outro lugar, que para mim a maior culpa é ter esquecido os afetados. Isso é indesculpável”, disse.
“Não havia real interesse no destino deles, no sofrimento deles. Na minha opinião, isso também se deve a razões sistêmicas e, ao mesmo tempo, tenho responsabilidade moral por isso como arcebispo”.
Ele continuou: “Por isso, em primeiro lugar, peço desculpas mais uma vez pessoalmente e também em nome da arquidiocese a vocês como afetados pelo que vocês sofreram na esfera da Igreja”.
“Peço desculpas também aos fiéis desta arquidiocese que duvidam da Igreja, que não podem mais confiar nos responsáveis e cuja fé foi prejudicada”.
O relatório de mais de mil páginas, publicado em 20 de janeiro, acusou Marx, um dos clérigos mais influentes da Alemanha, de lidar mal com dois casos de abuso.
Marx é membro do Conselho de Cardeais do papa e coordenador do Concílio Vaticano para a Economia. Até 2020, ele foi o presidente da conferência dos bispos alemães.
Marx escreveu ao papa Francisco em maio de 2021 renunciando a seu cargo em meio às consequências da crise de abuso sexual na igreja na Alemanha. O papa recusou a renúncia.
O cardeal disse a repórteres que pretendia permanecer no cargo por enquanto, mas não descartou pedir demissão pela segunda vez.
“Para mim, pessoalmente, digo mais uma vez claramente: como arcebispo, assumo a responsabilidade pelas ações da arquidiocese de acordo com minha convicção moral e no entendimento de meu cargo. Não me apego ao meu escritório”, comentou.
“A oferta de demissão no ano passado foi muito séria. O papa Francisco decidiu o contrário e me pediu para continuar meu ministério com responsabilidade. Estou pronto para continuar meu ministério se for útil para os passos adicionais que precisam ser dados para uma reavaliação mais confiável, uma atenção ainda mais forte aos afetados e para uma reforma da Igreja”.
“Se eu tiver a impressão de que sou mais um obstáculo do que uma ajuda, vou buscar o diálogo com as assessorias competentes e me permitir ser questionado criticamente. Em uma igreja sinodal, não tomarei mais essa decisão por conta própria”.
Westpfahl Spilker Wastl, o escritório de advocacia que produziu o estudo, apresentou as conclusões do relatório em uma coletiva de imprensa em Munique.
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Marx não esteva no evento e Marion Westpfahl, sócia-fundadora da empresa, lamentou a ausência do cardeal ao apresentar o relatório.
Em uma breve declaração horas após a publicação do relatório, Marx disse que estava “chocado e envergonhado” com as revelações.
Os autores do “Relatório sobre o Abuso Sexual de Menores e Adultos Vulneráveis por Clérigos, e funcionários, na Arquidiocese de Munique e Freising de 1945 a 2019” também acusaram o papa emérito Bento XVI de tratar mal quatro casos durante seu mandato como arcebispo de Munique de 1977 a 1982.
O papa aposentado de 94 anos, que nega veementemente as alegações de encobrimento, enviou 82 páginas de observações aos investigadores que compilaram o relatório.
Abordando as críticas do relatório sobre suas próprias ações, Marx disse que achava inadequado dar argumentos defensivos, mas prometeu examinar os casos cuidadosamente com especialistas.
“Não para me defender”, disse ele, “mas para aprender com eles e implementar mudanças. Também vejo falhas administrativas e comunicativas aqui. Mas em um caso eu me culpo por não procurar ativamente os afetados”.
Falando na conferência de imprensa de quinta-feira, Marx destacou o Caminho Sinodal Alemão, um processo de vários anos que reúne bispos e leigos para discutir poder, moralidade sexual, sacerdócio e o papel das mulheres na Igreja.
Ele disse que “agora é importante avançar com as etapas de reforma discutidas no Caminho Sinodal e como também serão colocadas na agenda do processo sinodal na Igreja em todo o mundo. Eu quero continuar comprometido com isso. Pois sem uma renovação verdadeiramente profunda, a reavaliação não terá sucesso.”
O Caminho Sinodal Alemão foi iniciado sob a direção de Marx, quando ele era o presidente da conferência episcopal alemã.
Confira também:
Relatório acusa 235 clérigos de abuso sexual na arquidiocese de Munique desde 1949 https://t.co/kY1aNFTzZe
— ACI Digital (@acidigital) January 20, 2022