8 de fev de 2024 às 05:00
A irmã morena, assim era carinhosamente chamada santa Josefina Bakhita, religiosa que sofreu as dores da escravidão, mas conheceu o amor de Deus, a quem decidiu se consagrar. Hoje (8), a Igreja recorda a sua memória litúrgica.
Santa Josefina Bakhita nasceu em uma aldeia perto da montanha Agilerei, no Sudão, em 1869.
Tendo sido vendida e comprada por várias vezes, experimentou diversas humilhações e sofrimentos físicos da escravidão. A experiência dolorosa fez com que esquecesse o próprio nome.
Bakhita, que significa afortunada, foi o nome que recebeu de comerciantes de escravos. “Bakhita é um nome formoso; vai te trazer boa sorte”, disse um deles.
Até que foi comprada por um cônsul italiano, que a levou para a Itália e a entregou a uma família amiga de Veneza, o casal Michieli, pois a esposa tinha se afeiçoado a Bakhita. Este casal teve uma filha e a santa passou a ser a babá e amiga da menina.
Por conta dos negócios, esta família teve que retornar para a África. Mas, seguindo conselhos, decidiram deixar a filha e a babá aos cuidados das religiosas de santa Madalena de Canossa.
Foi então que Bakhita teve seu encontro com o Senhor, conheceu o Evangelho e foi batizada aos 21 anos, recebendo o nome Josefina.
Quando os Michieli retornaram da África e foram buscar a filha e Bakhita, esta, com firme decisão, disse que queria ficar com as Irmãs Canossianas para servir a Deus.
Em 1896, atendendo ao chamado para a vida religiosa, Josefina Bakhita se consagrou para sempre ao seu Deus, que ela chamava com carinho “o meu Patrão”.
“Se eu encontrasse de novo aqueles negreiros que me sequestraram e também aqueles que me torturaram, me ajoelharia para beijar as suas mãos, porque, se não tivesse acontecido isto, eu não seria agora cristã e religiosa”, disse certa vez a santa.
Dedicou-se por mais de cinquenta anos às várias ocupações no convento. Foi cozinheira, responsável pelo guarda-roupa, bordadeira, sacristã, porteira.
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Admirada pelas irmãs e pelos moradores do local por sua humildade, simplicidade e alegria, costumava dizer: “Sede bons, amai a Deus, rezai por aqueles que não O conhecem. Se, soubésseis que grande graça é conhecer a Deus!”.
Já na velhice e tomada por longa e dolorosa doença, reviveu a agonia dos terríveis anos de escravidão. Várias vezes suplicava à enfermeira que a assistia: “Solta-me as correntes ... pesam muito!”.
Em 8 de fevereiro de 1947, a “santa irmã morena” partiu para a casa do Pai, tendo proferido suas últimas palavras: “Nossa Senhora! Nossa Senhora!”.
Em 1992, Bakhita foi beatificada por são João Paulo II e canonizada pelo mesmo Pontífice em 1º de outubro de 2000, após o reconhecimento da cura milagrosa de Eva Tobias da Costa, brasileira, moradora de Santos (SP), que havia rezado pela intercessão de Bakhita em 1980.
Por sua espiritualidade e força ante as adversidades, São João Paulo II a chamou “Nossa Irmã Universal” e sua história de vida foi, na realidade, a história de todo um continente.
Bento XVI, a esperança e a santa
Em 2007, o papa Bento XVI utilizou o exemplo de vida de santa Josefina Bakhita em sua encíclica Spe Salvi para falar da esperança.
No texto, o papa Emérito escreve que Bakhita “só tinha conhecido patrões que a desprezavam e maltratavam ou, na melhor das hipóteses, a consideravam uma escrava útil. Mas agora ouvia dizer que existe um ‘paron’ acima de todos os patrões, o Senhor de todos os senhores, e que este Senhor é bom, a bondade em pessoa. Soube que este Senhor também a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. Também ela era amada, e precisamente pelo ‘Paron’ supremo, diante do qual todos os outros patrões não passam de miseráveis servos. Ela era conhecida, amada e esperada”.
“Mais ainda, este Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela ‘à direita de Deus Pai’. Agora ela tinha « esperança »; já não aquela pequena esperança de achar patrões menos cruéis, mas a grande esperança: eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida é boa”.
Bento XVI recorda que “mediante o conhecimento desta esperança, ela estava ‘redimida’, já não se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus. Entendia aquilo que Paulo queria dizer quando lembrava aos Efésios que, antes, estavam sem esperança e sem Deus no mundo: sem esperança porque sem Deus”.