Vaticano, 23 de fev de 2022 às 09:58
O papa Francisco iniciou uma série de catequeses sobre o significado e o valor da velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira, 23 de fevereiro. A velhice “está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento”, disse o papa.
“Com estas catequeses sobre a velhice, gostaria de encorajar todos a investirem os seus pensamentos e afetos nos dons que ela tem em si e proporciona às outras idades da vida. A velhice é um dom para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria”, disse Francisco. “A Palavra de Deus ajudar-nos-á a discernir o sentido e o valor da velhice”.
Que “o Espírito Santo nos conceda também os sonhos e as visões de que necessitamos”, orou o papa.
O papa citou a passagem bíblica do profeta Joel: “Os vossos anciãos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” para explicar que “deve haver uma aliança entre as gerações”.
“Se os avós se voltam para suas melancolias, os jovens vão olhar ainda mais para seus celulares. A tela pode permanecer ligada, mas a vida se extingue antes do tempo.”, disse o papa.
“Os idosos, com os recursos que só os anos de vida concedem, são chamados a comunicar seus sonhos, para que a partir deles os jovens possam ampliar seus horizontes e tomar decisões que abram caminhos para o futuro”.
Francisco disse: “todos vivemos em um presente onde convivem crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, a proporção mudou: a longevidade tornou-se massa e, em grandes regiões do mundo, a infância é distribuída em pequenas doses”.
“Na primeira fase dramática da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto”, comentou o papa. “Já eram a parte mais frágil e negligenciada: não olhávamos muito para eles quando eram vivos, nem sequer os vimos morrer”.
Francisco descreveu que o risco de os idosos serem descartados “é ainda mais frequente” porque “os idosos muitas vezes são vistos como um peso”.
“Junto com a migração, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento. Não se trata apenas de uma mudança quantitativa. Eestá em jogo a unidade das idades da vida, ou seja, o verdadeiro ponto de referência para a compreensão e apreciação da vida humana em sua totalidade”, disse o papa.
Francisco advertiu que "a exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX".
"Será que esquecemos isso?”
“Na representação do sentido da vida, e nas chamadas culturas ‘desenvolvidas’, a velhice tem pouca incidência. Porque é considerada uma idade que não tem conteúdos especiais para oferecer, nem significados próprios para viver.”
O papa destacou que “falta o incentivo das pessoas a procurá-los, e falta educação da comunidade para reconhecê-los”.
“Em suma, para uma idade que é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos de assistência, mas não projetos de existência. Planos de assistência, sim; mas não projetos para fazê-los viver plenamente. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade”, disse ele.
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Francisco recomendou a leitura de a "Carta para os direitos dos idosos e os deveres da comunidade" que encontrou editada em italiano "pelos governos, não foi editada pela Igreja, é uma coisa laica" e descreveu que "este desafio de humanidade e de civilização requer o nosso empenho e a ajuda de Deus” por isso convidou: “Peçamo-lo ao Espírito Santo”.
Dedicar tempo aos idosos
Na sua saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Francisco recordou a festa da Cátedra de São Pedro que a Igreja celebra no dia 22 de fevereiro e encorajou-os a “encontrar o Senhor Jesus que nos diz: Segue-me!”.
“Lembremos que segui-Lo significa sair de nós mesmos e comunicar a vida a todos, concretamente dando o nosso tempo ao avô, à avó, aos idosos”, disse o papa.
Saudando os fiéis de língua italiana, o papa mencionou a memória litúrgica de são Policarpo que a Igreja celebra neste dia 23 de fevereiro e sublinhou "que a sua fidelidade a Cristo, até o martírio, desperte em todos o desejo de seguir o divino Mestre cooperando generosamente em seu trabalho de reconciliação e paz”.
Dia de jejum pela paz na Ucrânia
Por fim, o papa Francisco lamentou o "agravamento da situação na Ucrânia. Apesar dos esforços diplomáticos das últimas semanas, estão a abrir-se cenários cada vez mais alarmantes" porque "uma vez mais a paz de todos é ameaçada por interesses de parte".
O papa recordou que o Senhor é "Deus da paz e não da guerra; que é o Pai de todos e não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos".
"Peço a todas as partes envolvidas para que se abstenham de qualquer ação que possa causar ainda mais sofrimento às populações", disse.
Francisco lançou um apelo "a todos, crentes e não crentes" para que no próximo dia 2 de março - Quarta-feira de Cinzas - realizem um "Dia de jejum pela paz".
“Encorajo de modo especial os crentes a fim de que naquele dia se dediquem intensamente à oração e ao jejum. Que a Rainha da paz preserve o mundo da loucura da guerra”, concluiu o papa.
Confira também:
Papa Francisco: Rezemos pelos idosos que têm medo de morrer sozinhos https://t.co/BKY3dZjCnv
— ACI Digital (@acidigital) April 15, 2020