VATICANO, 27 de fev de 2022 às 12:35
Durante a oração do Ângelus dominical de hoje, o papa Francisco explicou a importância de ter “um olhar limpo” e reconhecer as próprias “misérias” e erros sem julgar os outros, assim como Deus faz, que “Ele está sempre pronto para perdoar os erros”.
Da janela do Palácio Apostólico do Vaticano, o papa refletiu sobre o Evangelho de São Lucas, e convidou os fiéis a não julgar os outros e a ter um olhar puro e cuidar das palavras, aquelas que "mostram o que há dentro do coração".
“No Evangelho da liturgia de hoje, Jesus nos convida a refletir sobre nosso olhar e nosso falar”, disse.
“Primeiro de tudo, sobre o nosso olhar. O risco que corremos, diz o Senhor, é olhar o cisco no olho de nosso irmão sem perceber a trave em nosso próprio olho”, continuou ele.
Agindo assim, disse, estamos "muito atentos aos defeitos dos outros, mesmo aqueles pequenos como um cisco, negligenciando serenamente os nossos, dando-lhes pouco peso".
Nesse sentido, o papa lamentou que “sempre encontramos razões para culpar os outros e nos justificar”.
“E tantas vezes nos queixamos das coisas que estão erradas na sociedade, na Igreja, no mundo, sem primeiro nos questionarmos e sem nos comprometermos a mudar, antes de tudo, nós mesmos", disse ele.
Em seguida, destacou as palavras de Jesus e disse que "um cego não pode guiar outro cego" e que "o Senhor nos convida a limpar os olhos, pede olhar para dentro de nós mesmos para reconhecer nossas misérias".
"Porque se não conseguirmos ver nossos próprios defeitos, estaremos sempre inclinados a ampliar os defeitos dos outros".
“Se, ao contrário, reconhecermos nossos erros e nossas misérias, a porta da misericórdia se abre para nós. E depois de olhar para dentro de nós mesmos, Jesus nos convida a olhar para os outros como Ele o faz", disse ele.
O papa Francisco disse que “este é o segredo, olhar para o outro como Deus, que não vê antes de tudo o mal, mas o bem. É assim que Deus nos olha: Ele não vê em nós erros irredimíveis, mas filhos que cometem erros”, disse.
“Muda-se a ótica. Ele não se concentra nos erros, mas nos filhos que cometem erros”, explicou o papa.
“Deus sempre distingue a pessoa de seus erros. Ele sempre acredita na pessoa e está sempre pronto para perdoar os erros. E nós sabemos que Deus sempre perdoa. Todos nós somos chamados a fazer o mesmo: Não buscar nos outros o mal, mas o bem”, continuou o papa.
As palavras mostram o que há no coração
O papa continuou dizendo que Jesus também nos convida a refletir sobre nossas palavras: “O Senhor explica que a boca expressa o que abunda no coração. É verdade, pelo jeito que a pessoa fala, é possível saber o que há no seu coração”.
“As palavras que usamos dizem quem somos. Às vezes, porém, prestamos pouca atenção às nossas palavras e as usamos superficialmente. Mas as palavras têm peso: elas nos permitem expressar pensamentos e sentimentos, dar voz aos medos que temos e aos projetos que queremos fazer, de abençoar a Deus e aos outros”.
“Mas, infelizmente, com a língua também podemos alimentar preconceitos, levantar barreiras, atacar e até destruir nossos irmãos: as fofocas machucam e as calúnias podem ser mais afiadas que uma faca!”, lamentou o papa.
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Francisco explicou que hoje, especialmente no mundo digital, “as palavras correm velozes; mas muitos delas transmitem raiva e agressão, alimentam notícias falsas e se aproveitam dos medos coletivos para propagar ideias distorcidas”.
"Um diplomata, que foi secretário-geral da ONU e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, disse que ‘abusar das palavras equivale a desprezar o ser humano', disse o papa, lembrando o político sueco Dag Hammarskjöld.
Por fim, Francisco convidou os fiéis a se perguntarem que tipo de palavras costumam usar: "Usamos palavras que expressam atenção, respeito, compreensão, proximidade, compaixão, ou palavras que visam principalmente nos fazer parecer bem diante dos outros?"
“Falamos com mansidão ou poluímos o mundo espalhando venenos: criticando, lamentando-se, alimentando a agressão generalizada?”, perguntou.
“Que Nossa Senhora, Maria, cuja humildade Deus contemplou, a Virgem do silêncio a quem rezamos agora, nos ajude a purificar nosso olhar e nossa fala”, concluiu o papa.
A seguir, o Evangelho comentado pelo papa Francisco neste domingo, 27 de fevereiro:
Do Evangelho segundo São Lucas
Lc 6, 39-45
Naquele tempo, 39Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre.
41Por que vês o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
43Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. 44Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas.
45O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.
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— ACI Digital (@acidigital) February 27, 2022