Vaticano, 31 de mar de 2022 às 16:05
O papa Francisco dispensou o ex-cardeal Giovanni Angelo Becciu, que está sendo julgado por peculato, da obrigação do segredo pontifício, disse Giuseppe Pignatone, presidente do Tribunal do Vaticano ontem (30). O segredo pontifício protege informações confidenciais sobre o governo da Igreja universal. Sem o segredo, Becciu, que renunciou ao cardinalato quando foi acusado, pode depôr contra Cecilia Morogna, que também é acusada no julgamento do escândalo financeiro.
São dez acusados de peculato, especialmente por causa da compra de um prédio de luxo em Londres como investimento da Secretaria de Estado, na qual Becciu era o segundo homem da hierarquia.
A audiência de ontem foi o interrogatório de monsenhor Mauro Carlino, ex-funcionário da Secretaria de Estado, acusado de extorsão e abuso de poder. Carlino serviu como secretário pessoal de Becciu e depois de dom Edgar Peña Parra, substituto do secretário de Estado.
O cardeal Becciu invocou o segredo pontifício sobre suas relações com Marogna, uma italiana de 40 anos acusada de desviar mais de 500 mil euros (cerca de R$ 3,1 milhões) que recebeu da Secretaria de Estado por meio de uma empresa registrada na Eslovênia em 2018 e 2019.
Marogna disse ter trabalhado para a Secretaria de Estado como consultora e estrategista de segurança, sob a autoridade de Becciu.
Em seu depoimento, monsenhor Carlino fez inúmeras referências a Deus e ao seu sacerdócio, contando inclusive a história de sua vocação como padre católico
Ele enfatizou a promessa de obediência que fez ao seu bispo no dia de sua ordenação e disse que sempre seguiu as ordens de seus superiores durante seus anos de serviço à Santa Sé.
Monsenhor Carlino disse que dom Peña Parra pediu que ele se envolvesse, como seu intermediário de confiança, para finalizar as negociações da Secretaria de Estado sobre a propriedade de Londres.
O prédio na 60 Sloane Avenue, em Londres, foi comprado em etapas de 2014 a 2018. Mas Gianluigi Torzi, o homem que negociou a última parte do acordo, vendeu as 30 mil ações majoritárias da empresa à Secretaria por meio da qual a propriedade em Londres foi vendida; mas manteve mil ações com direito a voto, através das quais o corretor mantinha o controle sobre o imóvel londrino.
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Segundo monsnehor Carlino, o papa Francisco esperava que a Secretaria de Estado assumisse o controle da propriedade e fechasse a negociação com Torzi com o menor valor possível.
O padre disse que dom Peña Parra pediu sua ajuda, em obediência e confidencialidade, para resolver o "erro grave" das mil ações com direito a voto.
Carlino denunciou monsenhor Alberto Perlasca, que também trabalhava na Secretaria de Estado na época e que não foi acusado em troca de se tornar testemunha-chave no caso.
Perlasca foi o chefe do escritório administrativo e o funcionário que assinou os documentos de autorização que levaram à atribuição das ações com direito a voto a Torzi.
O interrogatório de Carlino continuará na próxima audiência, marcada para 5 de abril.
Confira também:
Cardeal Becciu se diz “orgulhoso e agradecido” de favorecer sua diocese: “Qual é o escândalo?” https://t.co/GYPFualWhG
— ACI Digital (@acidigital) November 16, 2021