Damasco, 4 de abr de 2022 às 16:05
Regina Lynch, diretora de projetos da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), lamentou que o aniversário de 11 anos de guerra cevil na Síria, em março, "não tenha tido muita repercussão na mídia".
Lynch participou da conferência "A Igreja como Casa de Caridade - Sinodalidade e Coordenação" em Damasco, capital e segunda cidade mais populosa da Síria.
“Acredito que a presença de uma delegação do Vaticano e de muitas organizações de caridade não-sírias nesta conferência, apesar de todas as dificuldades, incluindo estradas bloqueadas pela neve e covid, infunde esperança nos líderes da Igreja e nos cristãos em geral”, disse.
A Organização das Nações Unidas (ONU) relata que, desde o início do conflito, a Síria testemunhou devastação e a maior crise de deslocamento do mundo. Mais de seis milhões de sírios fugiram do país e 6,7 milhões foram deslocados internamente.
Para a dirigente da ACN, é graças à fé que é possível promover “ajuda caritativa tão necessária numa situação que continua piorando”, “especialmente nos meses mais frios do ano”.
“Em muitas partes do país, as temperaturas caem abaixo de zero à noite e pelo menos 90% da população vive abaixo da linha da pobreza, o que significa que não têm dinheiro para comprar óleo de aquecimento ou pagar pela eletricidade”, comentou.
Segundo Lynch, “muitos cristãos sírios sofreram traumas terríveis nos últimos onze anos”.
“Eles perderam entes queridos, testemunharam violência extrema e até receberam ameaças de morte por serem cristãos. Acredito que a fé é a razão pela qual muitos resistiram”, disse.
Lynch contou que no ano passado a equipe da ACN visitou uma mulher cujo marido foi sequestrado e provavelmente morto por extremistas islâmicos em Malula, e “que só encontra consolo na Igreja e na fé, e em particular nas freiras que apoiam a sua família”.
“Para muitos cristãos, a guerra teve um efeito positivo em sua fé e deu à Igreja a oportunidade de, apesar das dificuldades, colocar em prática seus ensinamentos sobre caridade e perdão”, acrescentou.
Ela também disse que "há mais jovens do que nunca envolvidos nas atividades da Igreja". “Dada a pobreza e os desafios da vida comum, conhecer outros jovens na igreja tornou-se mais comum do que antes”, disse.
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Sobre as sanções contra o regime de Bashar al-Assad na Síria, principalmente dos Estados Unidos e da União Europeia, Lynch comentou que estas "afetam pessoas comuns".
“A inflação é galopante, por isso [as pessoas] não podem mais financiar remédios ou operações, nem comprar carne ou leite para seus filhos, nem mesmo a passagem de ônibus para ir à escola ou universidade. Mesmo quem tem parentes no exterior não pode receber dinheiro devido a embargos bancários. A realidade é que a maioria das sanções na Síria estão prejudicando as pessoas comuns mais do que qualquer coisa. Por isso, a Igreja local se manifestou fortemente contra elas e nós estamos de acordo com isso”, disse a esse respeito.
O trabalho da ACN na Síria
Segundo Lynch, “o desespero é generalizado entre os cristãos sírios” e é por isso que a ACN está feliz por poder “apoiar iniciativas especificamente destinadas a dar coragem às pessoas em situações de desespero”.
“Por exemplo, através do Christian Hope Center (Centro Cristão de Esperança) em Damasco e Homs, financiamos projetos para ajudar as pessoas a reconstruir suas vidas após a guerra. Em todo o país, financiamos acampamentos de verão para crianças pobres para que estejam mais firmes na fé e encontrem alegria em circunstâncias difíceis. Muitos cristãos têm pouca esperança, mas a esperança que ainda têm vem das iniciativas da Igreja”, disse.
Para Lynch, continua sendo urgente proporcionar ajuda de emergência ou de socorro para satisfazer as necessidades” das pessoas, mas também, disse que “é importante focar nos jovens”.
“É preciso reforçar a sua fé cristã para que compreendam que têm um papel para desempenhar na Síria, e também devemos ajudar as jovens famílias cristãs econômica e espiritualmente”, concluiu Lynch.
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— ACI Digital (@acidigital) March 15, 2021