KIEV, 12 de abr de 2022 às 14:37
A Cáritas Spes, o braço caritativo da Igreja Católica na Ucrânia, está levando conforto, esperança e apoio material às famílias que sofrem com a fome e a dor devido à invasão militar russa que devastou suas casas.
Em nota, o padre Pawel Rytel-Andrianik, diretor do escritório de comunicação exterior da Conferência Episcopal Polonesa, disse que a passagem de forças militares russas pelas regiões ucranianas de Kiev e Zhytomyr devastou pequenas e pacíficas cidades como Bucha e Vorzel, que no passado tinham complexos residenciais e uma infraestrutura ordenada, mas hoje muitos estão destruídos.
O padre destacou que a Cáritas Spes (Cáritas na Ucrânia) da cidade de Zhytomyr informou que "as cidades e vilarejos da região de Kiev são habitados principalmente por pessoas idosas" e que as pessoas que sofreram o impacto dos mísseis e tanques contra suas casas tiveram que se esconder no porão ou nos cantos de seus quartos.
“Não resta nem sequer um pedaço de vidro nas [seis] janelas da minha casa”, disse Katya, uma das beneficiárias pela Cáritas.
Pawel contou que as paróquias estão sendo usadas "como abrigos contra ataques aéreos". Destacou a necessidade de "limpar a cidade dos escombros, vidros e restos da ação militar e fornecer aos moradores acesso à eletricidade e, pelo menos temporariamente, reparar as janelas que ficaram sem grade”, entre outras coisas.
A guerra na Ucrânia, que já dura mais de 40 dias, deixou vários locais "sem eletricidade, gás e água" e também faltam "remédios, alimentos, produtos básicos de higiene, cobertores e colchas", informou.
Pawel contou que o padre Vitalij Uminski, diretor da Cáritas Spes Yitomir, disse que "a pior situação está nas pequenas cidades" da diocese, onde, "nas clínicas, crianças e adultos com deficiência se queixam da falta de comida”, que começa a acabar. “Há muitos adultos doentes sob nossos cuidados que precisam acima de tudo de cuidados”, disse o padre Uminski.
Segundo uma freira, embora "o grau de destruição nas cidades e vilas vizinhas seja muito variado", nos lugares menores é mais fácil sobreviver, porque as pessoas têm "água no poço ou lenha para fazer fogo na cozinha", disse o padre Pawel.
O padre Pawel disse que "as mulheres são as que mais precisam de remédios", especialmente as idosas que ficam sozinhas, já que seus filhos e netos fugiram do país "em busca de um lugar seguro". Muitos deles não têm eletricidade em casa e precisam cozinhar em dois tijolos sobre um fogo.
“O vento sopra de um lado, depois do outro, e apaga tudo, o vento forte apaga o fogo, e todas as panelas ficaram pretas de fumaça e fogo”, disseram as idosas ucranianas, segundo o padre Pawel.
Além de se preocupar com a saúde e a fome, disse que sofrem por não conseguirem se comunicar com os seus familiares, pois não têm onde carregar os telefones. "Meus familiares e amigos não sabem o que acontece comigo, não sabem onde estou, se estou viva ou morta, não sabem nada sobre mim”, disse Nina, que tem hipertensão e problemas cardiovasculares.
“Que Deus perdoe essas pessoas e nos dê saúde, força, paz e seu Espírito Santo. Eu também sou crente. Eu não posso nem dizer como eu ainda continuo de pé e pedindo a Deus: Pai misericordioso, ajuda. Só Tu podes nos ajudar! Jesus Cristo, por favor!”, acrescentou Nina.
Neste contexto, o padre Pawel contou que o padre Petro Zharkovsky, presidente da Cáritas Spes, disse que embora não possam “parar a guerra”, contribuem para “aliviar o sofrimento” de muitos. “Nossas mãos se tornaram asas que podem se estender por quilômetros e abraçar as pessoas, trazer conforto e esperança. Somos chamados a fazer isso”, disse padre Petro.
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Pawel destacou que o serviço da Cáritas encoraja "padres, religiosos e leigos voluntários a formar equipes humanitárias e, sem hesitar, ir às cidades e aldeias onde há combates" para levar ajuda material e espiritual a quem precisa.
Como não há eletricidade em Vorzel, “os seminaristas do seminário maior local trouxeram um gerador de eletricidade” que permitiu que a missa fosse celebrada “depois de muitas semanas”, disse padre Pawel. “A liturgia contou com a presença de pessoas de várias confissões. Alguns deles cruzaram o limiar da igreja pela primeira vez”, acrescentou.
Pawel disse que, de acordo com uma das freiras que apoiam a Cáritas Spes em Yitomir, "as pessoas querem compartilhar suas experiências, falar de emoções, mas não sentimos nenhuma dor ou ressentimento em suas vozes", pelo contrário, “têm um profundo desejo de voltar-se a Deus juntos, como comunidade”.
Disse que o padre Vitalij Uminski explicou que as pessoas precisam principalmente de comida, pois “muitas vezes não têm onde comprá-la”. Os postos de gasolina estão fechados. Por isso, a Cáritas Spes de Zhytomir forneceu “combustível a uma das paróquias, pois assim o pároco poderia dirigir de paróquia em paróquia”, acrescentou o padre Uminski.
No meio desta complexa situação, os voluntários da Cáritas são fundamentais porque “distribuem doações” de alimentos e ajudam a recolher “os pedidos de medicamentos ou materiais específicos” que as populações locais necessitam, disse o padre Pawel.
Pawel afirmou que a Cáritas Spes de Yitomir informou que nos últimos dias "entregou cinco toneladas de alimentos aos moradores das cidades e vilas afetadas perto de Kiev", por onde passaram as forças militares russas. “Visitamos as aldeias do distrito de Vygotsky, que são bastante remotas e a ajuda não chega tão rapidamente”, disse Cáritas Spes nas redes sociais.
“Estamos com os que o mundo chama de refugiados e deslocados internos, crianças ou vítimas de guerra, mas no final das contas são apenas pessoas que acreditam que a luz necessariamente supera as trevas. Eles esperam ver seus parentes, retornar ao seu país, suas casas de origem e aqueles que amam, mesmo que a guerra seja exatamente o oposto do amor”, concluiu padre Petro Zharkovsky.
As pessoas que quiserem apoiar a Cáritas Spes Yitomir podem fazê-lo através do seu Facebook.
Confira também:
Cáritas Internacional condena ataque russo a um de seus escritório na Ucrânia https://t.co/rH2szjW2Wi
— ACI Digital (@acidigital) April 12, 2022