Roma, 27 de abr de 2022 às 11:43
O cardeal George Pell manifestou sua confiança de que o papa Francisco vai agir para defender a Tradição e a unidade da Igreja, diante do risco de cisma para o qual avança o polêmico Caminho Sinodal Alemão.
Foi o que disse o cardeal australiano em 25 de abril, em diálogo com Gavin Ashenden, editor associado do Catholic Herald e apresentador do podcast Merely Catholic.
“Sem dúvida o Santo Padre falará, terá que falar sobre este assunto para esclarecer e reiterar a Tradição”, disse o cardeal, que foi arcebispo de Sidney e prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé.
“Tenho grande confiança no Sucessor de Pedro. Ao contrário das igrejas ortodoxa e anglicana, a Igreja Católica tem um instrumento que acreditamos ter sido instituído por Deus: Pedro, a rocha”, destacou o cardeal Pell.
O caminho sinodal é um processo polêmico de vários anos que começou em dezembro de 2019, no qual participam bispos e leigos da Alemanha para tratar temas como o exercício do "poder", a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher na Igreja, temas sobre os quais manifestaram publicamente e em diferentes ocasiões posturas contrárias à doutrina católica.
O cardeal também disse que “o papel especial do papado é manter a pureza da Tradição apostólica e a unidade da Igreja em torno dessa Tradição. Então eu confio que o Santo Padre vai falar”.
Pell também enfatizou que, "sobre o assunto das mulheres sacerdotes ou da atividade homossexual, a situação não é nebulosa ou obscura, e não é que as pessoas possam escolher entre uma variedade de opções".
“É algo essencial e simples: apelamos a Cristo, à revelação, à nossa tradição judaico-cristã e não à sociologia ou à medicina. Qual é o peso que damos ao ensinamento de Jesus e dos apóstolos? Esse é um desafio essencial que devemos enfrentar”, disse o cardeal.
Pell também questionou se “acreditamos que estamos sob a Tradição apostólica ou somos seus mestres. Sentimo-nos livres para rejeitar os ensinamentos de São Paulo?”.
“Sentimos que podemos fazer isso ou a revelação e os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos têm uma autoridade especial para nós?”, perguntou.
O cardeal também expressou seu apoio à "carta fraterna" que mais de 70 bispos do mundo, entre eles os cardeais Francis Arinze, Raymond Burke, Wilfred Napier e o próprio George Pell, enviaram aos bispos da Alemanha para alertar que existe um perigo de um cisma devido ao andamento do controverso caminho sinodal.
“Em uma era de comunicação global rápida, eventos em uma nação inevitavelmente têm impacto em outros lugares. Assim, o processo do ‘caminho sinodal’, tal como atualmente conduzido pelos católicos na Alemanha, tem implicações para a Igreja no mundo todo. Isso inclui as igrejas locais que pastoreamos e os muitos fiéis católicos pelos quais somos responsáveis”, dizem os bispos na carta de 11 de abril.
"À luz disso, os eventos na Alemanha nos compelem a expressar nossa preocupação crescente acerca da natureza inteira do processo do ‘caminho sinodal’ e do conteúdo de seus vários documentos", acrescenta a carta assinada pelos bispos dos EUA, Canadá, Tanzânia, Camarões e outros países.
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Os bispos dizem que as sete observações que apresentam na carta têm as suas raízes no capítulo 12 da Carta de São Paulo aos Romanos, sobretudo na advertência para não se acomodar "ao mundo presente".
Em diálogo com Gavin Ashenden, o cardeal Pell disse que a carta é uma "iniciativa importante" para mostrar "que a grande maioria dos bispos católicos do mundo defende a Tradição".
Na opinião do cardeal australiano, os bispos europeus que buscam mudar a doutrina católica "vão na direção errada" e "fazem com que uma situação ruim fique pior".
"Os ensinamentos básicos são muito claros", disse, acrescentando que "o mais estranho é que, ao adotar os ensinamentos do mundo ao seu redor", os bispos alemães "pensam que vão ajudar a Igreja. A história é unânime em mostrar que isso é absolutamente desastroso".
Segundo Pell, o polêmico Caminho Sinodal Alemão corre o risco de ser sequestrado "pelo mundo, o demônio e a carne", os três inimigos da alma que levam à desobediência a Deus.
Em maio de 2021, padres e agentes pastorais da Igreja na Alemanha abençoaram casais homossexuais em um evento intitulado "O amor vence", em mais de 100 lugares em todo o país, com o apoio de vários bispos, como o presidente da conferência episcopal, dom Georg Bätzing, e em rebelião aberta contra a proibição explícita da Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé, publicada em 15 de março daquele ano.
O cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, ex-presidente da Conferência Episcopal Alemã e um dos promotores do caminho sinodal, propôs em fevereiro o fim do celibato para os padres da Igreja Católica.
O cardeal Marx esteve envolvido recentemente em uma nova polêmica, por causa de suas declarações à revista semanal Stern, publicadas em 31 de março, ao falar que o Catecismo da Igreja Católica “não está gravado em pedra” e “também é permitido duvidar do que ele diz”.
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— ACI Digital (@acidigital) April 12, 2022