O IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal é uma oportunidade para “proclamar a sabedoria dos povos originários na Amazônia, e reconhecer que nossas comunidades oferecem respostas para os problemas da Amazônia”, disse o arcebispo de Cuiabá (MT) e membro da diretoria da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), dom Mário Antônio da Silva. Para o arcebispo, “é necessário escutar as comunidades e valorizar seus saberes, experiências e culturas”.

O arcebispo falava sobre o encontro que teve início ontem (6), em Santarém (PA). O evento celebra os 50 anos do encontro que culminou no Documento de Santarém. Este documento apresenta as linhas prioritárias da pastoral da Amazônia e afirma que há duas diretrizes básicas: a encarnação na realidade e a evangelização libertadora. Em uma carta enviada aos participantes, o papa Francisco afirmou que o Encontro de Santarém de 1972 “propôs as linhas de evangelização que marcaram a ação missionária das comunidades amazônicas e que auxiliaram na formação de uma sólida consciência eclesial”.

O IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal segue até o dia 9 de junho, no seminário São Pio X. Este é o mesmo local onde, em 1972, aconteceu o IV Encontro da Pastoral da Amazônia, que levou à publicação do Documento de Santarém. Além de apresentar a encarnação na realidade e a evangelização libertadora como diretrizes básicas para a pastoral na Amazônia, este documento diz que “um dos objetivos primários da Pastoral Amazônica” deve ser “a criação da Comunidade Cristã de Base”.

Participam do atual encontro cerca de cem pessoas, entre cardeais, bispos, padres, religiosos e leigos, representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais. Entre os participantes estão o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner, recentemente nomeado cardeal pelo papa Francisco, e o arcebispo de Huancayo, no Peru, presidente da Conferência Eclesial da Amazônia e da Repam, cardeal Pedro Barreto.

Segundo site da Repam, os participantes do encontro “querem atualizar, à luz do caminho percorrido, especialmente das orientações surgidas no Sínodo para a Amazônia, o legado de Santarém, que teve como fundamento a concretização de uma Igreja inculturada”.

Para o arcebispo de Cuiabá, “encarnação na realidade e evangelização libertadora” são uma “missão que ainda continua necessária e urgente”. Dom Mário, que é também segundo vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse à Repam que “é preciso revisitar e permanecer vinculados ao espírito que gerou o Documento de Santarém como processo missionário”.

“Com esta celebração a Igreja Católica pretende assumir o compromisso de caminhar juntos, de ser Igreja sinodal, e responder aos desafios de hoje como pastores próximos do rebanho e interpelados pelas periferias existenciais e geográficas”, disse.

Segundo a Repam, o encontro tem “como ponto de partida uma análise de conjuntura sociopolítica e eclesial, algo de fundamental importância diante da atual realidade, condicionada pelos ataques à floresta e aos povos que nela habitam, pelo clima político cada vez mais conturbado em razão das eleições que acontecem neste ano de 2022, e pela realidade eclesial, fortemente marcada pela pandemia, mas esperançada diante deste tempo sinodal que está vivendo”.

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Em entrevista a Vatican News, a diretora-executiva da Repam-Brasil, irmã Maria Irene Lopes dos Santos, disse que “esse encontro vai refletir sobre os temas relevantes da nossa [exortação apostólica pós-sinodal] Querida Amazônia, como a questão do garimpo, a questão do agronegócio, a questão da formação e muitos outros temas”.

Mensagem do papa Francisco

Em uma mensagem aos participantes do IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, o papa Francisco citou a ligação entre o sínodo para a Amazônia e o Encontro de Santarém de 1972. “As intuições daquele encontro serviram também para iluminar as reflexões dos padres sinodais, no recente Sínodo para a região Pan-Amazônica, como recordei na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, ao descrevê-lo como uma das ‘expressões privilegiadas’ do caminhar da Igreja com os povos da Amazônia (cf. QA, 61)”, disse.

Segundo Francisco, “nas conhecidas ‘linhas prioritárias’, frutos do recordado encontro, encontram-se esboçados os sonhos para a Amazônia que foram reafirmados no último sínodo”. A exortação Querida Amazônia, do papa Francisco, é dividida em capítulos nos quais ele fala em quatro sonhos para a Amazônia: sonho social, sonho cultural, sonho ecológico e sonho eclesial.

Para Francisco, este encontro da igreja na Amazônia Legal “é motivo de especial alento” por saber que “sonhamos juntos ‘com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos’ (QA, 7)”.

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