Cidade do México, 23 de jun de 2022 às 13:09
Após o assassinato de dois jesuítas enquanto tentavam proteger um homem dentro de uma igreja no norte do México, padre Eduardo Hayen Cuarón, diretor do semanário Presencia da diocese mexicana de Ciudad Juárez, disse que a violência transformou o país "em um cemitério".
Em um artigo intitulado “Jesuítas assassinados”, padre Hayen Cuarón disse que “no México o ambiente de insegurança se deteriorou tanto devido à crescente presença do crime organizado e, ao mesmo tempo, devido à incapacidade dos três níveis de governo de detê-lo, voltamos aos tempos bárbaros, onde a fúria e a crueldade são verdadeiramente inéditas”.
Os padres jesuítas Javier Campos Morales e Joaquín César Mora Salazar foram assassinados em 20 de junho dentro da igreja católica da comunidade Cerocahui, na chamada Sierra Tarahumara, no estado mexicano de Chihuahua.
Segundo padre Ismael Bárcenas, também jesuíta, os padres mexicanos foram mortos ao "tentarem defender um homem que se refugiava no templo e que estava sendo perseguido por uma pessoa armada".
Os corpos dos padres e do homem que eles protegiam foram levados pelo assassino e as autoridades não conseguiram localizá-los.
A Companhia de Jesus celebrou uma missa pelo descanso eterno dos padres assassinados na igreja de santo Inácio de Loyola, na Cidade do México, na noite de 21 de junho.
Na audiência geral de ontem (22), no Vaticano, o papa Francisco expressou seu “pesar e consternação pelo assassinato, na segunda-feira, 20 de junho, no México, de dois religiosos irmãos meus jesuítas e de um leigo”.
“Quantos assassinatos, no México! Faço-me próximo com carinho e oração à comunidade católica atingida por esta tragédia. Mais uma vez, repito que a violência não resolve os problemas, mas aumenta sofrimentos inúteis”, disse o papa.
A Procuradoria Geral do Estado de Chihuahua ofereceu em 22 de junho uma recompensa de até 5 milhões de pesos (cerca de 250 mil dólares) por informações que levem à captura de José Noriel Portillo Gil, considerado "provavel responsável" pelos assassinatos.
O assassinato dos dois padres jesuítas ocorre apenas um mês após o assassinato do padre José Guadalupe Rivas Saldaña, na cidade de Tecate, na arquidiocese de Tijuana, perto da fronteira entre o México e os Estados Unidos.
Em seu artigo, padre Eduardo Hayen Cuarón lamentou que, por causa do “mar normalizado de violência” que existe no México, “se não fossem dois padres assassinados, o caso teria passado despercebido”.
O México vive uma escalada de violência e tudo indica que o mandato de seis anos do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, será o mais violento da história do país.
Em apenas três anos e meio do governo López Obrador, já foram registrados mais de 121 mil homicídios no país, o que pode superar os mais de 156 mil crimes cometidos durante os seis anos de governo de seu antecessor, Enrique Peña Nieto.
De 1º de janeiro a 21 de junho deste ano, segundo dados oficiais, foram registrados 12.481 homicídios no México.
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Hayen Cuarón lembrou que "os jesuítas têm uma presença missionária na Sierra Tarahumara desde o século XVII com a Missão Chínipas em 1621".
“Desde então, esses homens consagrados a Deus entregaram suas vidas à evangelização dos Tarahumara e de outras tribos indígenas em uma das regiões mais pobres do México. O trabalho jesuíta foi heroico e continua sendo admirável”, disse.
“As missões no baixo e alto Tarahumara custaram muitas vidas à ordem de santo Inácio. Desde o martírio dos padres Jesús Pascual e Manuel Martínez, em 1632, muitos jesuítas foram assassinados pelos próprios indígenas por meio de emboscadas e de abertas rebeliões em sua resistência às exigências do evangelho”, destacou.
Após recordar que, segundo dados da agência vaticana Fides, "em 2021 foram assassinados 22 missionários, entre sacerdotes, religiosos e leigos", padre Hayen Cuarón disse que "nenhum dos missionários mortos no mundo costuma realizar feitos marcantes, mas partilham a vida cotidiana da maioria da população, dando testemunho do evangelho”.
"Foi assim com os padres jesuítas que foram vítimas do tráfico de drogas em Tarahumara", afirmou.
O sacerdote assegurou que no México as pessoas vivem atualmente "entre tribos de selvagens que desmembram e decapitam, entre seres mais parecidos com demônios do que com seres humanos". "Em meio a hordas que semeiam terror por toda parte e com um governo que as trata com respeito, amizade e cavalheirismo, mais para damas do que para criminosos inimigos da sociedade", criticou.
“Vivemos novamente naquela antiga barbárie que resistia ao evangelho”, acrescentou.
Padre Hayen Cuarón disse que “os trágicos fatos ocorridos na Sierra Tarahumara de Chihuahua representam um capítulo triste dessa luta mortal entre o céu e o inferno, entre a barbárie e a evangelização, entre a decadência e a civilização, entre o ódio à vida e o amor por elevá-la à sua mais alta dignidade”.
"Deus conceda a glória do céu aos padres jesuítas Javier Campos e Joaquín Mora, heróis das missões, que pagaram com a vida o preço de viver semeando o amor de Cristo Jesus entre seus irmãos indígenas para lhes dar uma vida digna", disse.
“Que eles rezem do céu para que o México, hoje transformado em cemitério, se torne uma casa de paz para todos”, concluiu.
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— ACI Digital (@acidigital) June 22, 2022