REDAÇÃO CENTRAL, 24 de jun de 2022 às 15:21
Manos Unidas, uma ONG católica, informou que "segundo vários organismos internacionais, existem cerca de 258 milhões de mulheres viúvas no mundo", das quais "1,4 milhão são jovens". Deste grupo, "uma em cada dez viúvas no mundo vive na pobreza".
A declaração da ONG foi dada ontem (23), Dia Internacional das Viúvas. O dia foi instituído em 2011 pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) para tornar visível a situação de vulnerabilidade em que vivem muitas mulheres viúvas no mundo e para unir esforços na defesa de seus direitos.
Manos Unidas disse que, em vários países do mundo, as viúvas sofrem violência e "maus-tratos ou abusos", especialmente na África e na Ásia, onde muitas são acusadas pela morte de seus maridos, separadas de seus filhos e despojadas de seus bens e direitos como viúvas.
Rocío Bonet, voluntária dos projetos Manos Unidas na Ásia, disse que essa condenação “é paradoxal” em lugares onde “o casamento precoce continua sendo um costume profundamente enraizado e as meninas são casadas com homens que têm o dobro ou o triplo de sua idade”.
A ONG ressaltou que a violência muitas vezes tem raízes culturais. Em algumas sociedades, “como parte do luto, ainda são praticados ritos ancestrais que degradam as viúvas, e até colocam em risco sua integridade física”.
Rocío Bonet disse que, na Índia, as viúvas que são condenadas pela família são “despojadas de suas propriedades” e se veem obrigadas a mendigar nas ruas para “fazer frente a suas despesas” e sustentar seus filhos.
As mulheres viúvas "não têm direito a herdar terras ou moradia, é mal visto que saiam para procurar um emprego formal e, mais ainda, que reconstruam suas vidas, a menos que seja com um parente de seu falecido esposo”, disse. Em muitos casos, esta rejeição se deve ao fato de os familiares do marido procurarem “herdar” todos os bens, disse.
A ONG destacou que a situação é semelhante na África, onde, “segundo o Banco Mundial, uma em cada 10 mulheres africanas com mais de 14 anos é viúva”. Em várias sociedades do continente, as mulheres viúvas perdem os direitos sociais e econômicos que conquistam ao se casar, e até mesmo seus filhos, que passam a fazer parte da família do marido.
Fernanda Castillo, coordenadora de projetos de Manos Unidas na África Ocidental, disse que muitas mulheres no continente são infectadas com HIV/AIDS por seus maridos e que a doença as marginaliza ainda mais.
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Castillo disse que muitas viúvas “são expulsas de suas casas e comunidades” e são “acusadas de feitiçaria, que é uma das formas mais cruéis de marginalização e exclusão social”. Outras, afirmou, veem como única saída à marginalização e à pobreza recorrer à prática ancestral do “levirato”, que é se casar com os irmãos ou familiares do marido morto.
Diante disso, Manos Unidas destacou que lidera projetos para que as viúvas saiam da pobreza por meio de assistência à saúde, capacitação profissional e formação jurídica. Por exemplo, na Índia, fornecem “treinamento para conseguir um emprego decente, além de receber aconselhamento jurídico e apoio psicológico”, disse Bonet.
Sandhya, que foi forçada a se casar aos 13 anos com um homem muito mais velho que ela, disse que depois de ficar viúva aos 25 anos, foi rejeitada pela família do marido e culpada pela morte dele.
Mas graças a Manos Unidas, conseguiu um emprego e assessoria jurídica para poder “conversar com segurança com meus sogros e exigir meus direitos”.
Além disso, Manos Unidas destacou que apoia um projeto na cidade de Sassema, em Burkina Faso, onde as viúvas, "apoiadas pelo pároco, criaram uma associação com o objetivo de se apoiarem mutuamente e promoverem atividades geradoras de renda que lhes permitam assumir a responsabilidade de cuidar de suas famílias”.
No ano passado, “quase 4,8 milhões de euros foram destinados a 70 projetos especificamente destinados a apoiar diretamente mais de 200 mil mulheres”, disse Manos Unidas.
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