Nestes tempos cheios de gnosticismo, heresia que defende que a salvação da alma não se obtém de Deus, mas através de um certo tipo de "conhecimento", o padre John P. Cush, da diocese de Brooklyn, EUA, escreveu sobre como santo Irineu ajuda a Igreja a combatê-la.

O gnosticismo defende que a salvação da alma é obtida por meio de certo “conhecimento” que vem da mistura de várias doutrinas, tradições e crenças religiosas, incluindo as verdades do cristianismo, sobre os mistérios do universo e da natureza humana.

Os gnósticos caem no erro de encorajar a alcançar a perfeição sem o Deus verdadeiro, sem a verdadeira conversão e relegando aqueles que consideram "não iniciados". É como os movimentos da Nova Era ou os esoteristas atuam hoje.

Cush, deão acadêmico e assessor de formação do Pontifício Colégio Norte-Americano de Roma, explicou num artigo do jornal National Catholic Register, do grupo EWTN a que pertence ACI Digital, o que é o gnosticismo e por que a figura de santo Irineu é tão importante para combate-la.

O Código de Direito Canônico da Igreja Católica ensina que os batizados cometem heresia quando negam ou duvidam persistentemente de “alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica”.

Cush cita um artigo da revista americana First Things, em que Alyssa Lyra Pitstick, em diálogo com o teólogo jesuíta padre Edward Oakes, descreve os dois tipos de hereges: o herege material e o herege formal. "O herege material se engana em seus fatos, ao crer que algo é a verdadeira doutrina da Igreja, quando, na realidade, não é. Sua escolha é feita na ignorância. Quando ele aprende de fontes confiáveis que o ensinamento da Igreja é algo contrário, rapidamente muda de crença, porque sua preocupação é crer no que a comunidade de fé crê, pois ele crê na Igreja de Cristo”, escreve Pitstick.

Cush explicou que “um herege formal não é simplesmente alguém que comete um deslize ou que expressa sua resposta de maneira incorreta”, mas sim aquele que “sabe qual é o ensinamento da Igreja”, mas escolhe acreditar em outra coisa.

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“Um herege formal muitas vezes começa com um erro inocente de um herege material, mas a diferença é que ele se apega obstinadamente a esse erro com novas informações”, afirma o artigo.

Padre Cush disse que santo Irineu, bispo que viveu entre os anos 130 e 202, é considerado o mais importante adversário do gnosticismo, uma das heresias mais antigas e, ao mesmo tempo, atuais da humanidade.

O padre disse que os bispos dos EUA estão reconsiderando a figura de santo Irineu na Igreja. Em 2020, o bispo de Fort Wayne-South Bend, Indiana, dom Kevin Rhodes, pediu à Assembleia Geral dos Bispos Católicos dos EUA que reconhecesse santo Irineu como "Doutor da Igreja" e teve o apoio de todos.

Para o padre Cush, “uma das principais razões” pelas quais eles e o resto dos bispos do mundo estão mais uma vez destacando a figura de santo Irineu é porque eles pensam que o gnosticismo está muito presente no mundo de hoje.

O papa emérito Bento XVI recordou em 2007 que, no tempo de santo Irineu, esta heresia apresentada como doutrina difundiu a ideia de que “a fé ensinada pela Igreja não passava de um simbolismo para os simples, que não conseguem compreender as coisas difíceis”, e que “os iniciados, os intelectuais — chamados ‘gnósticos’ — compreenderiam o que estava escondido por trás desses símbolos e assim formariam um cristianismo de elite, intelectualista”.

Como bispo de Lyon na Gália, atual França, santo Irineu destacou-se por combater heresias com argumentos que apresentou em cinco livros nos quais refutava as diferentes seitas, colocando-as diante da doutrina correta emanada dos ensinamentos dos Apóstolos e das Sagradas Escrituras. 

Santo Irineu foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Francisco em 2022. "Seu nome, Irineu, expressa essa paz qu e vem do Senhor e que reconcilia, reintegrando na unidade", diz o decreto. "Que a doutrina de tão grande mestre possa encorajar cada vez mais o caminho de todos os discípulos do Senhor rumo à plena comunhão", acrescenta.