Os padres Pedro Ortiz de Zárate e Juan Antonio Solinas, mortos em 1683 por indígenas da Argentina, foram beatificados no sábado (2). Chamados de Mártires do Zenta, os padres eram missionários entre os indígenas Tobas, Mocovíes e Matartoguayos.

O padre Pedro Ortiz de Zárate nasceu em 29 de junho de 1626 em San Salvador de Jujuy, Argentina, numa família de origem basca. Aos 18 anos, casou-se com Petronila Ibarra Argañarás y Murguía, uma mulher rica com quem teve dois filhos.

Ocupou vários cargos públicos, incluindo o de prefeito. Depois da morte de sua esposa, ele decidiu seguir sua vocação sacerdotal. Pedro confiou a educação dos filhos à avó materna e foi ordenado sacerdote por volta do ano de 1657.

Em 1659 foi nomeado pároco de Jujuy, onde permaneceu por quase 24 anos. Empreendeu longas viagens para alcançar as populações indígenas mais isoladas e ajudar os pobres e doentes. Promoveu a construção de igrejas e capelas, dedicando-lhe inclusive seu próprio patrimônio pessoal.

Juan Antonio Solinas nasceu em Oliena, Nuoro, na atual Itália. Em 1663 ingressou na Companhia de Jesus e fez a profissão religiosa em 16 de junho de 1665.

Nos primeiros meses de 1672, comunicou a seus superiores o desejo de evangelizar os povos indígenas do Novo Mundo. Juntamente com alguns colegas, mudou-se primeiro para Barcelona, de lá para Madri e, finalmente, para Sevilha.

Na cidade andaluza completou seus estudos de teologia e em 27 de maio de 1673 foi ordenado sacerdote.

Já na América, seu primeiro destino apostólico foi a Redução de Itapúa, no território do atual Paraguai, em 1678, onde se destacou por seu zelo apostólico e sua caridade para com os indígenas. Depois, foi enviado para a Redução de Santa Ana.

Depois de passar algum tempo com o nativo Hohomas, em 1680 foi nomeado capelão militar. Nos dois anos seguintes trabalhou em outras reduções e em 1683 foi destinado à missão do Chaco junto com Pedro Ortiz de Zárate.

Em maio de 1683, tanto padres como outras setenta pessoas iniciaram uma longa e perigosa jornada ao Vale do Zenta.

A morte dos padres Pedro Ortiz de Zárate e Juan Antonio Solinas ocorreu quando estavam evangelizando as populações indígenas e atendendo os pobres do Vale do Zenta, junto com 18 leigos, incluindo alguns indígenas.

O martírio aconteceu depois da celebração da missa no Forte São Rafael. Os missionários foram cercados por cerca de 150 indígenas que se aproximaram fingindo intenções pacíficas.

Quando os missionários se viram indefesos e cercados, os agressores os atacaram com lanças e machado, os torturaram, mutilaram e decapitaram.

A beatificação foi celebrada na diocese de Nueva Orán pelo prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semerar, e concelebrada pelo núncio apostólico, dom Miroslaw Adamczyk, e pelo bispo de Nueva Orán, dom Luis Antonio Scozzina, o arcebispo de Buenos Aires, cardeal Mario Aurelio Poli, e outros bispos argentinos.

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Entre os presentes estavam a postuladora da causa de canonização, irmã Isabel Fernández.

Durante a cerimônia, foi lida a carta apostólica enviada pelo papa Francisco declarando beatos o padre jesuíta Juan Antonio Solinas e o padre diocesano Pedro Ortiz de Zárate, e foi revelada a imagem oficial dos dois mártires, cuja data litúrgica será 27 de outubro, dia em que foram mortos.

Semeraro falou durante a homilia que a história do martírio dos novos beatos é "distante no tempo, mas singularmente por alguns detalhes sangrentos, também distante de nossas sensibilidades".

Quando se trata dos perseguidos e executados por ódio à fé ou por justiça praticada por amor a Cristo, destacou, "surge uma nova chave de leitura, que Tertuliano expressou com esta frase clássica: 'O sangue dos cristãos é uma semente'".

Semeraro disse que “o que dá valor à morte é a morte do santo dos santos, ou seja, do Senhor, a primeira semente da qual a Igreja germinou. Cristo tornou-se semente e a Igreja germinou”.

“É precisamente isto que celebramos hoje, com o martírio dos beatos mártires Pedro e Juan Antonio. Estamos celebrando a primavera da Igreja”, disse ele.

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O cardeal destacou que ambos os mártires foram “ministros da primeira evangelização. Do beato Pedro, natural desta terra argentina, pode-se dizer o que diziam de Tomás Moro: foi um homem para todas as épocas. Testemunha de Cristo, bom político, bom marido [depois ficaria viúvo], bom pai, depois excelente padre, que conhecia bem os índios e os defendia.”

“Quanto ao beato Juan Antonio, ele era italiano, natural da Sardenha, entrou na Companhia de Jesus e logo após sua ordenação sacerdotal chegou aqui dedicando-se também à evangelização dos índios”, disse.

Semeraro afirmou que “os testemunhos destacaram a sua generosa entrega às suas necessidades, tanto espirituais como materiais, bem como a pastoral em favor dos espanhóis que aqui viviam. Foi o impulso missionário que os levou a um encontro recíproco, juntos se colocaram a serviço do Evangelho e foram fiéis até o derramamento de seu sangue”.

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