PEQUIM, 3 de ago de 2022 às 15:47
O bispo de Baoding, China, dom Francis An Shuxin, ameaçou suspender dos sacramentos os católicos que se recusarem a aderir à Associação Patriótica Católica do Partido Comunista Chinês (PCC), a "igreja oficial" do país.
Dom An Shuxin ficou preso durante dez anos e só foi libertado depois de aceitar se registrar na Associação Patriótica.
Estima-se que seis milhões de católicos estejam registrados no PCC. A igreja "subterrânea" ou não oficial é composta por vários milhões de católicos na China que se recusam a ingressar na Associação Patriótica e são fiéis a Roma.
Segundo informou Asia News, agência católica de notícias da Ásia, em 15 de julho, An Shuxin publicou uma carta pedindo aos padres que se registrem na Associação Patriótica Católica da China, alertando que, se não o fizessem, seu acesso aos sacramentos seria restrito.
An Shuxin pediu também aos fiéis da diocese de Baoding que aceitem os padres que se unem à "igreja oficial", para favorecer a unidade na Igreja local.
Para apoiar seu pedido, o bispo citou declarações do papa Francisco, o acordo provisório entre a Santa Sé e a China, que vigora até outubro deste ano, e a orientação pastoral da Santa Sé sobre o registro civil do Clero na China.
Em 2018, a Santa Sé assinou um acordo provisório com a China sobre a nomeação de bispos. O objetivo seria unir a Igreja "oficial" e a fiel a Roma. O acordo, cujo conteúdo é secreto, foi renovado em 2020 e o papa Francisco disse à agência de notícias Reuters que espera renová-lo novamente.
Em 2019, a Santa Sé publicou uma orientação pastoral sobre o registro civil do clero na China, onde pede “que o registro civil do Clero ocorra com a garantia de respeitar a consciência e as profundas convicções católicas das pessoas envolvidas”.
Uma fonte da China da Asia News denunciou que este ano as autoridades do regime comunista estão usando a orientação pastoral da Santa Sé para forçar os padres do país a ingressar na Associação Patriótica.
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Além de "restringir totalmente as liberdades pessoais do clero não oficial, com a supervisão e a prisão", agora "este documento tornou-se a arma mais poderosa do governo para 'transformar' o clero clandestino sob a bandeira do Vaticano", disse a fonte.
Como exemplo, destacou que os padres de Baoding, “conhecidos há décadas por sua lealdade, assinaram em apenas dois ou três meses o que antes consideravam 'contrário' à sua fé e compartilharam a eucaristia com o bispo An, que já havia se juntado à Associação Patriótica”.
“Mas a dor não termina aí. Muitos padres nunca tinham visto este documento e quando as autoridades governamentais o leram, eles o assinaram aceitando as condições, seguindo o espírito da orientação pastoral. Eles pensaram que era a vontade da Santa Sé”, acrescentou.
“Isso não aliviou a confusão e os escrúpulos de sua consciência”, a ponto de “alguns padres terem sofrido um colapso nervoso após a assinatura; outros se arrependeram e depois se sentiram muito tristes”.
A fonte disse também que “outros padres, depois de se tornarem oficiais, foram rejeitados por seus próprios paroquianos e tiveram que voltar para casa e se isolar. A consequência é que um caos sem precedentes foi criado na diocese de Baoding”.
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— ACI Digital (@acidigital) July 5, 2022