A Pontifícia Academia para a Vida (PAV) falou ontem (29), sobre as declarações feitas a uma emissora de televisão italiana por seu presidente, o arcebispo Vincenzo Paglia, de que a lei que legalizou o aborto na Itália era um "pilar da sociedade".

Fabrizio Mastrofini, porta-voz da PAV, disse num comunicado enviado à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que dom Vincenzo Paglia foi tirado de contexto.

“A intenção dessa declaração não era fazer um juízo de valor sobre a lei, mas afirmar que é praticamente impossível revogar a Lei 194, já que ela agora é parte estrutural da legislação pertinente”, diz o comunicado.

"Portanto, há muito a ser dito sobre a qualidade do 'pilar'", acrescenta.

Em sua entrevista à televisão estatal italiana Rai, dom Paglia disse: "Acho que neste momento a Lei 194 é um pilar de nossa sociedade".

A Lei 194 legalizou o aborto na Itália em 1978. Com esta lei, um aborto pode ser feito por qualquer motivo durante os primeiros 90 dias de gravidez. Após esse período, o aborto pode ser feito por determinados motivos com a indicação de um médico.

Dom Paglia disse que “na minha opinião, e assim o escrevi, gostaria que se insistisse mais na parte que pouco se fala, que é o direito à maternidade, ver o nosso país crescer diante do drama de um desequilíbrio de gerações que é bastante dramático”.

Paglia acrescentou que ele exorta “a olhar com confiança para um país que quer viver em liberdade, desenvolvimento e progresso, e acho que a crise da natalidade é um problema sobre o qual infelizmente não refletimos e é tarde demais”.

As palavras de dom Paglia provocaram fortes críticas, com um comentarista italiano escrevendo no jornal La Nuova Bussola Quotidiana que “chegamos ao fundo do poço. Estamos em um ponto sem volta, no marco zero da moralidade, fé, razoabilidade e coerência. Temos o presidente de uma academia fundada para proteger a vida protegendo uma lei que destrói a vida.”

Um líder da defesa da vida na Itália também criticou a escolha de palavras de dom Paglia.

“Não entendemos como uma lei que suprime vidas humanas inocentes e indefesas pode ser um 'pilar' da sociedade”, disse Jacob Coghe da Pro Vita & Famiglia.

O comunicado afirma que algumas das reações às declarações de dom Paglia foram "mais do que enganosas, até mesmo insultuosas", pois a palavra "pilar" foi tirada de contexto.

“O arcebispo Paglia, na mesma entrevista, enfatizou fortemente a necessidade urgente de promover a parte da lei que trata da proteção e promoção da maternidade”, continua o comunicado da PAV.

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“Que então a lei possa, ainda mais, ser melhorada no sentido de uma proteção mais integral do nascituro é mais do que desejável, cuidando para evitar o risco de agravar a situação, como infelizmente tem acontecido em alguns casos”, diz o comunicado

No passado, diz o comunicado, dom Paglia falou "sobre a proteção e promoção da vida em todas as fases do desenvolvimento (da concepção à morte) e em todas as situações", tais como "crianças, mulheres, prisioneiros, condenados à morte, migrantes, idosos”.

A Pontifícia Academia para a Vida recentemente gerou polêmica por causa de um livro e declarações feitas nas redes sociais.

No final de junho, a conta oficial do Twitter da Pontifícia Academia começou a promover um livro publicado pela Santa Sé, que é uma síntese de um seminário de ética de 2021, no qual um participante falou sobre “a possível legitimidade da contracepção em certos casos”.

A PAV disse num comunicado à imprensa em 8 de agosto que o seminário abordou “todas as questões relacionadas à ética da vida... incluindo contracepção e moral sexual conjugal”. A eutanásia também foi um tema do seminário.

Algumas das postagens de propaganda do seminário e do livro foram criticadas em reportagens da mídia e por muitos usuários católicos do Twitter, que disseram que apresentavam informações incorretas ou enganosas sobre os ensinamentos da Igreja.

A Pontifícia Academia para a Vida foi fundada pelo papa são João Paulo II e pelo professor Jerome Lejeune em 1994. O papa Francisco nomeou o arcebispo Paglia presidente da academia em 2016. A instituição se dedica a promover a ética de vida coerente da Igreja.

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Em novembro de 2016, a PAV foi objeto de controvérsia depois que dom Paglia removeu a exigência de que os membros assinassem uma declaração prometendo defender a vida em conformidade com o magistério da Igreja.

Desde a legalização do aborto na Itália, estima-se que mais de seis milhões de crianças foram abortadas.

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