“O discernimento é árduo, mas indispensável para viver. Requer que eu me conheça, que saiba o que é bom para mim aqui e agora. Exige sobretudo uma relação filial com Deus. Deus é Pai e não nos deixa sozinhos, está sempre disposto a aconselhar-nos, a encorajar-nos, a acolher-nos. Mas nunca impõe a sua vontade. Porquê? Porque quer ser amado, não temido. E Deus também quer que sejamos filhos, não escravos: filhos livres”, disse o papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje (31), na Aula Paulo VI.

Depois de concluir as catequeses dedicadas ao valor da velhice, o papa Francisco começou hoje um novo ciclo de catequese sobre o tema do discernimento porque “é um ato importante que se refere a todos, pois as escolhas constituem uma parte essencial da vida".

“Escolhe-se uma comida, uma roupa, um percurso de estudos, um emprego, uma relação. Em tudo isto realiza-se um projeto de vida, e também se concretiza a nossa relação com Deus”, destacou.

O papa disse que “no Evangelho, Jesus fala do discernimento com imagens tiradas da vida comum; por exemplo, descreve os pescadores que selecionam os peixes bons e descartam os maus; ou o comerciante que sabe identificar, entre muitas pérolas, a de maior valor. Ou aquele que, lavrando um campo, se depara com algo que se revela um tesouro”.

“À luz destes exemplos, o discernimento apresenta-se como um exercício de inteligência, também de perícia e inclusive de vontade, para reconhecer o momento favorável: são estas as condições para fazer uma boa escolha. É preciso inteligência, perícia e também vontade para fazer uma boa escolha".

Francisco convidou a pensar nas "situações inesperadas, não programadas, onde é fundamental reconhecer a importância e urgência de uma decisão a tomar” e acrescentou que “cada um deve tomar decisões; não há ninguém que as tome por nós. Numa certa altura os adultos, livres, podem pedir conselhos, pensar, mas a decisão é pessoal”.

“Não se pode dizer: ‘Perdi isto, porque o meu marido decidiu, a minha esposa decidiu, o meu irmão decidiu’: não! Tu deves decidir, cada um de nós deve decidir, e por isso é importante saber discernir: para decidir bem, é necessário saber discernir”.

O papa Francisco disse que “o Evangelho sugere outro aspeto importante do discernimento: ele envolve os afetos. Quem encontrou o tesouro não tem dificuldade de vender tudo, tão grande é a sua alegria".

Trata-se de “uma alegria totalmente especial, que nenhuma realidade humana pode dar; e com efeito, repete-se em pouquíssimas outras passagens do Evangelho, todas elas relativas ao encontro com Deus”.

Francisco convidou a pensar na alegria de quem encontrou o Senhor como “a alegria dos Magos quando, depois de uma viagem longa e árdua, veem de novo a estrela (cf. Mt 2, 10); a alegria, é a alegria das mulheres que regressam do sepulcro vazio, depois de ter ouvido o anúncio da ressurreição, feito pelo anjo (Mt 28,8)”.

"Tomar uma boa decisão, uma decisão certa, leva-te sempre àquela alegria final; talvez ao longo do caminho tenhamos que sofrer um pouco de incerteza, pensar, procurar, mas no final a decisão certa beneficia-te com a alegria”, disse Francisco. “Pensemos no primeiro encontro de André e João com Jesus, um encontro que nasce de uma simples pergunta: ‘Rabi, onde moras?’ – ‘Vinde ver!’ (cf. Jo 1, 38-39), diz Jesus. Um diálogo muito breve, mas é o início de uma mudança que, passo a passo, marcará a vida inteira".

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“Numa decisão boa, certa, encontra-se a vontade de Deus com a nossa vontade; encontra-se o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão certa, depois de um caminho de discernimento, significa fazer este encontro: o tempo com o eterno”, acrescentou o papa.

Francisco disse que alguns elementos essenciais do discernimento são: conhecimento, experiência, afeto e vontade.

Para aprender a viver é preciso aprender a amar

Por fim, o papa Francisco destacou que “segundo a Bíblia, não encontramos diante de nós, já embalada, a vida que devemos viver: não! Devemos decidi-la continuamente, de acordo com as realidades que se apresentam”.

“Deus convida-nos a avaliar e a escolher: Criou-nos livres e quer que exerçamos a nossa liberdade. Por isso, discernir é difícil”.

“Vivemos frequentemente esta experiência: escolher algo que nos parecia bom e, no entanto, não o era”, disse o papa. “Ou saber qual era o nosso verdadeiro bem e deixar de o escolher” porque “o homem, diversamente dos animais, pode errar, pode não desejar escolher de modo correto”.

“E o amor só pode ser vivido na liberdade. Para aprender a viver é preciso aprender a amar, e por isso é necessário discernir: o que posso fazer agora, diante desta alternativa? Que seja um sinal de mais amor, de mais maturidade no amor. Peçamos que o Espírito Santo nos guie! Invoquemo-lo todos os dias, especialmente quando devemos fazer escolhas”, concluiu o papa Francisco.

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