14 de set de 2024 às 01:00
Segundo a tradição da Igreja, a Cruz de Caravaca é um “lignum crucis” ou fragmento da Vera Cruz, um pedaço do madeiro e da relíquia de primeira classe pertencente ao madeiro no qual Jesus Cristo foi crucificado, relíquia encontrada por santa Helena.
O padre Pedro Ballester Lorca, capelão da Real Basílica-Santuário da Vera Cruz de Caravaca (Espanha), contou em 2017 em um escrito publicado pela Universidade Católica de Murcia que esta relíquia é conservada dentro do templo em um relicário em forma de cruz com a parte horizontal dupla e uma parte vertical.
“A importância do símbolo não está no estojo de madeira teca como algumas pessoas acreditavam erroneamente, mas na relíquia contida dentro dele. É uma cruz oriental, patriarcal e peitoral que, segundo a tradição histórica, pertenceu ao patriarca Roberto, primeiro bispo de Jerusalém (no ano 1099). Cento e trinta anos depois o patriarca, sucessor de Roberto, foi o protagonista que carregava a relíquia, a qual dois anos depois estava em Caravaca”, disse.
Entretanto, a relíquia havia sido descoberta no século IV por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e foi separada em três pedaços, “o primeiro pedaço foi entregue ao Patriarca de Jerusalém e os dois outros foram trazidos para Constantinopla e Roma”, disse padre Ballester.
Tradição da aparição
A devoção a esta relíquia é do século XIII e vincula os pedaços de madeiro sagrados a duas ordens religiosas da tradição dos Templários (Cavaleiros Templários) e de Santiago, titulares sucessivos do castelo onde se localizava o templo.
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A autenticidade dos restos do madeiro foi suficientemente comprovada para que a Igreja lhes concedesse no século XVIII o culto de latria (adoração a Deus).
Segundo a tradição, no dia 3 de maio de 1231, a cidade de Caravaca estava no meio do território da dominação muçulmana e uma cruz com a parte horizontal dupla, a Santa e Vera Cruz, desceu do céu levada por alguns anjos para que um sacerdote, padre Ginés Pérez de Chirinos, preso pelo rei muçulmano Ceyt-Abuceyt, pudesse celebrar missa.
“Nesse instante, entraram pela janela do quarto dois anjos celestiais segurando o lignum crucis e o colocaram no altar. O sacerdote recebeu a Santa Cruz das mãos dos anjos ante a surpresa da corte de Saíd e continuou a celebração”, contou o padre Ballester.
Este grande milagre fez com que o monarca e seus exércitos se convertessem ao cristianismo. Após esse milagre, começou o culto cristão na região, fronteira com o reino islâmico de Granada, que foi o último a cair e com o qual em 1492 terminou a dominação muçulmana na península ibérica.
Segundo o capelão, a devoção à Cruz de Caravaca não está “fundamentada somente pela tradição particular de um povo, nem com origem nem trajetória duvidosa, desconectada, marginal e conformado, mas integrada histórica, litúrgica e devocionalmente à comunidade cristã e eclesial”.
Caravaca foi designada cidade santa por São João Paulo II, que lhe concedeu este título por ter sido o cenário do grande milagre.