E Marino foi canonizado como Santa Marina”, diz o padre Júlio Lancelotti no curta-metragem São Marino. O filme dirigido por Leide Jacob, que se identifica como homem, se anuncia como uma “obra resgatando um transmasculine” e tem Lancelotti pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, e vigário da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo da arquidiocese de São Paulo (SP), como narrador.

“Com encenações, reflexões e interações de um grupo de pessoas transmasculines, o filme promove sensíveis discussões contemporâneas sobre, por exemplo, o respeito ao nome social, resignificando Santa Marina em São Marino”, diz o material de divulgação da obra. A ideia do filme é que santa Marina deveria ser oficialmente são Marino porque era ”trans”.

“A luta contra a transfobia é de todes!”, diz a descrição do trailer do curta, divulgado no último dia 11.

“Santa Marina era uma jovem órfã de mãe que, para continuar a viver com o pai, que decidira ingressar em um mosteiro, disfarçou-se de monge e consagrou a sua vida a Deus. No mosteiro, progrediu nas virtudes, na vida de oração, penitência e caridade. Quando poderia revelar ser mulher para se defender da falsa acusação de ter engravidado uma jovem, ela silenciou, suportando a provação da calúnia e humilhações, unindo-as aos sofrimentos de Cristo. Seu segredo só foi descoberto quando ela faleceu. Por seu exemplo de humildade e fidelidade a Deus, é invocada como intercessora dos que sofrem provações e calúnias”, disse a arquidiocese de São Paulo à ACI Digital. O texto é parte da reposta a perguntas feitas por ACI Digital sobre a participação de um padre da arquidiocese em um filme pró-ideologia de gênero.

Sem citar o padre Lancelotti, a arquidiocese disse que a história dos santos “não pode ser interpretada à luz de ideologias que em nada correspondem com o contexto em que viveram, tampouco com os valores e virtudes por eles testemunhados ao longo de suas vidas. Nesse sentido, não é correto afirmar que Santa Marina tenha sido uma “pessoa trans”, como o vídeo mencionado sugere”.

“Trans” é o prefixo usado pelos partidários da ideologia de gênero para designar as pessoas que se identificam como sendo do sexo oposto ao natural. A terminação “-masculine”, usada na divulgação do filme, é parte da linguagem neutra defendida por ativistas da ideologia de gênero e estabelece o uso de expressões que não sejam no masculino nem no feminino. Palavras como “todos” e “todas” são escritas “todes” ou “todxs”, “menino” ou “menina” passam a ser escritos como “menine”.

Ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.

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O trailer começa com uma narração do padre Júlio falando que “essa é uma história intrigante e singular e relativamente desconhecida”. Em seguida uma pessoa diz: “as nossas identidades foram apagadas durante todos os séculos”.

Ao final do diálogo, o sacerdote pergunta a “Marino” se ele tem algo a dizer sobre isso, e conclui afirmando que Marino foi canonizado como Santa Marina e várias vozes questionam: “Marina?”

Procurado por ACI Digital, o padre Júlio Lancelotti se recusou a responder as perguntas sobre o documentário que lhe foram enviadas.

Ontem (14), a arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota de esclarecimento sobre o documentário. De novo sem citar o padre Júlio Lancelotti, a arquidiocese repete o que havia dito para ACI Digital.

 

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