Nove médicos de diferentes países acusaram a Pontifícia Academia para a Vida (PAV) de graves erros na defesa da aceitação de métodos anticoncepcionais artificiais presente no livro Ética Teológica da Vida: Escrita, Tradição, Desafios Práticos. O livro reúne material apresentado em um congresso organizado epla PAV e foi publicado pela editora Librería Editora Vaticana, a editora da Santa Sé.

Propor que os católicos possam recorrer aos anticoncepcionais, como faz o livro da PAV, "não leva em conta a realidade dos estudos sobre o acompanhamento dos casamentos, nem a experiência de tantos e tantos casais”.

A carta aberta "Uma pastoral à margem da experiência deixa de ser pastoral", é assinada pelo médico espanhol Jokin de Irala, membro da Pontifícia Academia para a Vida, Michèle Barbato, da Itália, especialista em obstetrícia e ginecologia, Jacques Aimé Bazeboso, da República Democrática do Congo, presidente da Federação Africana de Ação Familiar, Maria Boerci, presidente nacional da Confederação Italiana de Centros de Regulação da Fertilidade Natural, Paolo Bordin, médico italiano, Serena Del Zoppo, ginecologista com experiência em planejamento familiar natural e infertilidade, a médica francesa Isabelle Ecochard, ex-presidente do Instituto Europeu de Educação para a Vida Familiar, o médico belga Pierre Hernalsteen, e o médico italiano Furio Pesci, professor da Universidade La Sapienza de Roma.

Segundo o presidente da PAV, dom Vincenzo Paglia, que escreve a introdução ao livro que defende os anticoncepcionais, a obra apresenta uma “mudança de paradigma” na teologia moral.

"O texto faz uma mudança radical, passando, por assim dizer, da esfera para o poliedro", disse Paglia na introdução que escreveu.

Os autores da carta lamentaram que a publicação do livro da PAV causou "alguma confusão em alguns círculos eclesiais e na mídia por interpretá-lo como uma mudança da Santa Sé sobre esses temas".

"Mas a posição da Igreja Católica não mudou", disseram.

Os médicos escreveram que “são João Paulo II advertiu para não confundir a ‘lei da gradualidade’ com a ‘gradualidade da lei’ como se houvesse vários graus ou formas de preceito na lei divina, para pessoas diferentes em suas situações pessoais”.

“A lei da gradualidade supõe que todos somos convidados a viver plenamente as propostas da Igreja, mesmo que consigamos alcançá-las pouco a pouco, a partir de nossas capacidades e circunstâncias pessoais, contando com a graça e sendo acompanhados para superar as dificuldades”, disseram.

Para os especialistas, "a natureza gradual da lei significaria, ao contrário, que há leis diferentes de acordo com quem e em que circunstâncias".

“A pastoral não deveria das às costas aos conhecimentos médicos”, disseram os siggnatários da carta. “Alguns de nós trabalhamos há 40 anos e acompanhamos casais na paternidade responsável, na vivência de sua sexualidade conjugal e na aplicação de métodos naturais (MN) respeitando a sua fertilidade e em diálogo permanente, para favorecer, espaçar ou evitar gestações”.

Depois de seis décadas de uso de anticoncepcionais, "os resultados comprovados" esclarecem "os efeitos que essa 'nova' abordagem pastoral teria".

“Na década de 1960, os casais foram ensinados que a pílula resolveria a chamada superpopulação. Depois de 1968, as mulheres foram ensinadas que a pílula as protegeria de gravidezes ‘indesejadas’ e evitaria o aborto. Na década de 1970, técnicas de inseminação artificial foram desenvolvidas para ajudar os casais a alcançar o filho ‘desejado’”.

"Mais tarde, na década de 1980, foi dito que o preservativo preveniria infecções e também gravidezes 'indesejadas'", escreveram. “O resultado, o agravamento das famílias e a coação dos governos, foi previsto pela encíclica Humanae Vitae (HV): além do agravamento da situação das mulheres que deveriam ser 'libertadas' por esses métodos e o aumento nos fracassos matrimoniais, estamos agora sofrendo um 'inverno demográfico' e as epidemias de infecções sexualmente transmissíveis estão aumentando”.

Nessas décadas “aprendemos e confirmamos” que o método natural conhecido como “sintotérmico de comprovação dupla” é “cinco vezes mais eficaz que o preservativo” para prevenir a gravidez.

Sabe-se também que "a pílula anticoncepcional atual tem como um de seus mecanismos de ação, a eliminação precoce dos embriões impedindo sua implantação", disseram, acrescentando que "muitas mulheres não gostariam de usá-la se soubessem da possível destruição de um embrião”.

De acordo com o “melhor estudo até hoje sobre a relação pílula-câncer de mama, publicado no The New England Journal of Medicine”, lembram os especialistas, sabe-se que “os contraceptivos hormonais orais aumentam o risco de câncer de mama de uma forma epidêmica”.

"Eles reduzem alguns tipos de câncer, mas não é comparável ao risco de produzir câncer de mama, fígado e colo do útero", disseram. Além disso, “os contraceptivos orais aumentam o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral em 60%”.

O uso dessas substâncias, continuaram, está ligado a "um risco aumentado de depressão e de suicídios e tentativas de suicídio".

A ciência também mostrou, acrescentaram, que há abordagens que têm “resultados semelhantes aos métodos artificiais de reprodução assistida, sem seus inconvenientes bioéticos e efeitos colaterais”, entre os quais o drama dos “embriões congelados”.

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Para os especialistas, "só em seguir os ensinamentos da Humanae Vitae, inúmeras mortes pelas causas descritas acima poderiam ter sido evitadas nos últimos 50 anos".

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“Hoje questionar a aplicação pastoral da Humanae Vitae alegando problemas no uso do método natural pode nos levar a um dos maiores escândalos de saúde pública de todos os tempos, porque afetaria a saúde de milhões de mulheres”, alertaram.

“Por outro lado, seria uma vitória sem precedentes para a indústria farmacêutica que busca silenciar as evidências médicas atuais sobre a pílula anticoncepcional, para continuar aumentando seus negócios às custas da saúde da mulher”, disseram.

A carta diz que “os métodos naturais modernos promovem a autonomia conjugal; são eficazes, ecológicos e saudáveis”, e que, ao longo dos anos, o seu desenvolvimento tem apresentado “cada vez mais eficácia, com a ajuda de aplicativos para Smartphones que incluem algoritmos sintotérmicos, com ensino individualizado e com o apoio de centros que os promovem em todo o mundo com mais sucesso e profissionalismo”.

"As abordagens pastorais propostas pelo grupo de trabalho citado não são novas e estão sendo aplicadas há 60 anos em alguns lugares, provavelmente porque não acreditavam na Humanae vitae ou porque não sabiam como ajudar os casais de outra forma ou se deixaram levar pela influência das empresas farmacêuticas nos meios de comunicação e pelos profissionais de saúde”, dizem os médicos.

“Agora ouvimos vozes muito diferentes em nossa prática diária. As mulheres jovens - a maioria não crentes - estão tristes, até mesmo indignadas, porque nunca lhes disseram que poderiam viver sem anticoncepcionais. Às vezes, inclusive, elas tiveram que fazer um aborto, simplesmente porque confiaram cegamente nesses anticoncepcionais”, lamentaram.

Depois de descobrir os métodos naturais as jovens "voltam a se sentir bem como mulheres, sentem-se pela primeira vez verdadeiramente emancipadas, donas de seu corpo e de sua sexualidade".

Essas jovens, continuaram, “não querem mais um pastor que assuma que o 'ideal' não é para elas, que aprove a contracepção, minimize o aborto e considere o divórcio inevitável.

As abordagens pastorais que foram aplicadas em muitos lugares ao longo dos anos perderam seu significado para elas, porque sofreram suas consequências físicas e psicológicas. Elas querem cumprir o sonho que a Igreja manteve por séculos”.

"Em vez de continuar vivendo no reboque das falsas esperanças dos anos 60 que são antigas e fracassaram, a Igreja pode abraçar mais fortemente toda a experiência e avanços feitos por aqueles de nós que trabalham neste campo a fim de ter um papel pastoral renovado e ser um sinal de esperança para uma juventude faminta da Verdade e que quer viver seus projetos como casal ao máximo", disseram eles.

Para os especialistas, aplicar a lei da gradualidade ao planejamento familiar "significaria propor os métodos naturais àqueles que querem espaçar suas gestações e, em caso de dificuldades, acompanhá-los enquanto resolvem seus problemas para poder viver a boa nova proclamada pela Igreja como todos os demais".

"Pelo contrário, a gradualidade da lei e estas 'novas' propostas equivaleriam a dizer-lhes: 'Este ideal não é para vocês'. Em suas circunstâncias, usem preservativos ou outros métodos de contracepção", disseram eles.

Os médicos também falaram sobre a necessidade de "um maior compromisso, se possível, para que os leigos, profissionais da saúde, universidades de inspiração cristã façam mais, muito mais, para facilitar e melhorar o atendimento a esses casais".

"É hora de abandonar os paradigmas fracassados da revolução sexual", disseram, acrescentando que "é hora de a Igreja desenvolver uma verdadeira e renovada pastoral que seja sustentável, seguindo uma ecologia integral, centrada em homens e mulheres livres e responsáveis".

"O ensinamento da Igreja é saudável e promove a saúde pública", disseram, enfatizando que os métodos naturais "favorecem o diálogo no casamento e o respeito ao outro, bem como o fortalecimento dos laços e do objetivo do casal".

"Quando vêm do amor, aumentam o verdadeiro amor; quando vêm da liberdade, aumentam a liberdade. Já é hora, porque nossa experiência e ciência confirmam que isso é possível", concluíram.

Para ver o texto na íntegra clique AQUI.

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