“Quem se afasta do Senhor nunca se sente satisfeito, mesmo que tenha à sua disposição uma grande abundância de bens e possibilidades”, disse o papa Francisco na Audiência Geral de hoje (28) na praça de São Pedro, no Vaticano.

O papa continuou com a série de catequese sobre o discernimento. "Quando me encontro com o Senhor na oração, fico alegre”, disse o papa. “Cada um de nós torna-se jubiloso, algo bonito".

Francisco falou sobre a importância da oração que “é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo que nos dirijamos a Deus com simplicidade e familiaridade, como se fala com um amigo" e disse que “é saber ir além dos pensamentos, entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneidade afetuosa”.

Para o papa, “o segredo da vida dos santos é a familiaridade e a confidência com Deus, que cresce neles e torna cada vez mais fácil reconhecer o que Lhe agrada”.

“Esta familiaridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto ou até amargo”, disse ele.

Francisco falou que na oração e no discernimento não há "certeza absoluta", pois "não é um elemento químico", mas "diz respeito à vida, e a vida nem sempre é lógica, apresenta muitos aspetos que não se deixam encerrar numa única categoria de pensamento”.

Por isso, Francisco recordou as palavras de são Paulo "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero" e reconheceu que às vezes "gostaríamos de saber exatamente o que se deveria fazer, e, no entanto, até quando acontece, nem por isso agimos sempre em conformidade".

"Não somos apenas razão, não somos máquinas, não é suficiente receber instruções para as pôr em prática: os obstáculos, assim como as ajudas, a decidir-se pelo Senhor são acima de tudo afetivos, do coração", disse.

Francisco disse que o primeiro milagre feito por Jesus no Evangelho de são Marcos foi um exorcismo na sinagoga de Cafarnaum em que Cristo "liberta um homem do demônio, livrando-o da falsa imagem de Deus que Satanás sugere desde as origens: a de um Deus que não quer a nossa felicidade. O endemoninhado daquele trecho de Evangelho, sabe que Jesus é Deus, mas isto não o leva a acreditar n’Ele”.

“Muitas pessoas, inclusive cristãos, pensam a mesma coisa: que Jesus pode até ser o Filho de Deus, mas duvidam que Ele quer a nossa felicidade; aliás, alguns temem que levar a sério a sua proposta, o que Jesus nos propõe, signifique arruinar a vida, mortificar os nossos desejos, as nossas aspirações mais fortes”, disse ele.

“Esses pensamentos às vezes surgem dentro de nós: que Deus nos pede demasiado, temos medo de que Deus nos peça demasiado, que não nos ame verdadeiramente”.

A tristeza do jovem rico

Para o papa, a “tristeza ou medo” são “sinais de distanciamento” de Deus e lembrou a passagem evangélica de são Mateus que descreve o encontro de Jesus com o jovem rico.

"Infelizmente para aquele jovem, alguns obstáculos não lhe permitiram satisfazer o desejo que tinha no coração, de seguir mais de perto o ‘bom mestre’. Era um jovem interessado, empreendedor, tinha tomado a iniciativa de se encontrar com Jesus, mas vivia também muito dividido nos afetos; para ele as riquezas eram demasiado importantes. Jesus não o obriga a decidir, mas o texto observa que o jovem se afasta de Jesus ‘contristado’”.

O papa disse que “Jesus nunca obriga a segui-lo, nunca. Jesus faz-te conhecer a sua vontade, de coração faz com que saibas as coisas, mas deixa-te livre. E isto é o aspeto mais bonito da oração com Jesus: a liberdade que Ele nos deixa” e acrescentou que “ao contrário, quando nos afastamos do Senhor permanecemos com alguma coisa triste, algo negativo no coração”.

Francisco lembrou a expressão de são John Henry Newman para explicar que “as aparências enganam, mas a familiaridade com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e temores, tornando a nossa vida cada vez mais receptiva à sua ‘luz suave’”.

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“Os santos brilham com luz refletida, mostrando nos gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que torna possível o impossível”.

Francisco concluiu dizendo que “estar em oração não significa pronunciar palavras, palavras, não; estar em oração significa abrir o coração a Jesus, aproximar-se de Jesus, deixar que Jesus entre no meu coração e nos faça sentir a sua presença. E nisto podemos discernir quando é Jesus e quando somos nós com os nossos pensamentos, muitas vezes distantes daquilo que Jesus quer”.

“Peçamos esta graça: viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com o amigo … É uma graça que devemos pedir uns pelos outros: ver Jesus como o nosso amigo, o nosso maior amigo, o nosso amigo fiel, que não chantageia, sobretudo que nunca nos abandona, nem sequer quando nos afastamos d’Ele. Ele permanece à porta do coração”, disse ele.

"Vamos em frente com esta oração, recitamos a prece do “olá”, a oração de saudar o Senhor com o coração, a oração do afeto, a oração da proximidade, com poucas palavras, mas com gestos e com boas obras", concluiu o papa.

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Mês do rosário

Ao saudar os fiéis de língua polonesa, o papa Francisco recordou que o mês de outubro é tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora do Rosário e pediu "rezar esta oração em suas comunidades e famílias" para confiar a Nossa Senhora "suas preocupações e necessidades no mundo, especialmente o tema da paz”.

Festa dos Santos Arcanjos

O papa também recordou que todo dia 29 de setembro a Igreja celebra a festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael e rezou para que "inspire em cada um a adesão sincera aos desígnios divinos" e exortou a "saber reconhecer e seguir a voz do Mestre interior, que fala no segredo da consciência”.

“Rezemos também pela Gendarmaria do Vaticano, que tem são Miguel Arcanjo como patrono, para que sigam sempre o exemplo do santo arcanjo e que o Senhor os abençoe por todo o bem que fazem”, acrescentou o papa.

O papa Francisco falou de novo da "Ucrânia martirizada, que sofre muito, este povo tão cruelmente provado".

Francisco disse que o prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade, cardeal Konrad Krajewski, voltou de sua quarta visita à Ucrânia como enviado papal e "lhe disse coisas terríveis" por isso pediu para rezar pela Ucrânia e rezar por "estas pessoas martirizadas”.

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