Vaticano, 30 de set de 2022 às 12:01
A Santa Sé puniu o bispo Carlos Filipe Ximenes Belo, de 74 anos, acusado de abusos sexuais. Belo ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1996 por seu trabalho em favor da independência do Timor Leste, de maioria católica e língua portuguesa, da Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, disse num comunicado de quinta-feira (28) que a Congregação para a Doutrina da Fé “se interessou pelo caso pela primeira vez em 2019” e impôs algumas restrições.
"Estas incluíam restrições a seus movimentos e ao exercício de seu ministério, proibição do contato voluntário com menores, entrevistas e contato com Timor Leste", disse Bruni.
“Em novembro de 2021, estas medidas foram modificadas e reforçadas ainda mais. Em ambas as ocasiões, as medidas foram formalmente aceitas pelo bispo”, disse Bruni.
O comunicado sobre o caso de dom Ximenes Belo surge depois que o jornal holandês De Groene publicou uma reportagem na quarta-feira (28) na qual dois homens acusam dom Ximenes Belo de ter abusado deles na década de 1990, quando eram adolescentes.
A renúncia do bispo de Timor Leste, país predominantemente católico, foi aceita em novembro de 2002, quando ele tinha apenas 54 anos; e depois de ter exercido o cargo por pouco mais de 14 anos.
Naquela ocasião, o bispo alegou motivos de saúde para sua renúncia.
Depois disso, mudou-se para Portugal e depois para Moçambique. Em Moçambique, o bispo trabalhou com crianças e jovens.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1996, junto com José Ramos-Horta, atual presidente de Timor Leste, por seu trabalho em favor da independência de Timor Leste da Indonésia, país de maioria muçulmana.
Em 1999 atacou Timor Leste, depois do referendo com que foi declarada a independência do país. Cerca de cinco mil pessoas se refugiam com o bispo. A casa do bispo foi atacada. Belo fugiu e voltou três meses depois.
Segundo uma das testemunhas entrevistadas por De Groene, os abusos sexuais ocorreram novamente após o retorno do bispo ao país.
Os homens entrevistados pela revista holandesa afirmam que quando o bispo abusava deles, pagava para que ficassem calados, aproveitando-se da extrema pobreza do país.
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“O que quero são desculpas de Belo e da Igreja. Quero que reconheçam o sofrimento que infligiram a mim e aos outros, para que essa violência e abuso de poder não voltem a acontecer”, diz uma das supostas vítimas.
“Com profunda tristeza e perplexidade, a Inspetoria portuguesa da Sociedade Salesiana ouviu o que foi noticiado sobre a suspeita de abuso sexual de menores envolvendo dom D. Ximenes Belo”, diz um comunicado dos salesianos publicado na quinta-feira (28).
O comunicado diz que desde sua nomeação como bispo, Ximenes Belo não depende dos salesianos.
“A Província de Portugal, a pedido dos seus superiores hierárquicos, recebeu-o como hóspede nos últimos anos. Desde que está em Portugal, não teve nenhum cargo ou responsabilidade educacional ou pastoral a serviço de nossa Congregação”, diz o comunicado.
"Em assuntos relacionados com as notícias não temos o conhecimento para nos pronunciar e nos reportamos àqueles que têm essa competência e conhecimento".
Carlos Filipe Ximenes Belo nasceu em 3 de fevereiro de 1948. Fez a profissão perpétua de salesiano em 21 de setembro de 1973.
Foi ordenado sacerdote em 26 de julho de 1980, aos 32 anos.
Foi nomeado administrador apostólico de Díli em 21 de março de 1988 e foi consagrado bispo em 19 de junho do mesmo ano, aos 40 anos.
Confira também:
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— ACI Digital (@acidigital) February 25, 2019