O Caminho Neocatecumenal, um carisma da Igreja Católica fundado na Espanha por Kiko Argüello, convocou centenas de seus sacerdotes a uma reunião perto de Roma para avaliar as novas normas para celebrações eucarísticas emitidas recentemente pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina  dos Sacramentos.

A reunião, que antecederá a audiência pública que os membros do Caminho terão com o Papa Bento XVI em Roma no próximo dia 12 de janeiro, será em Porto São Giorgio na província italiana de Le Marche.

As novas normas litúrgicas para o Caminho foram anunciadas a seus líderes mediante uma carta datada em 1 de dezembro, assinada pelo Cardeal Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. 

No texto dirigido a Kiko Argüello, Carmen Hernández e  Pe. Mario Pezzi, o Cardeal Arinze, por explícito pedido do Santo Padre, estabelece 6 pautas que modificam significativamente ou limitam  diversas práticas que os neocatecumenais tinham introduzido em suas celebrações eucarísticas e que, como dá a entender a carta, implicavam uma separação importante em relação à liturgia da Igreja.

As novas normas

Entre as práticas dos neocatecumenais corrigidas pelo documento que está as leituras da Missa sejam comentadas pelos líderes do grupo ou vários dos presentes no que chamam “ecos” ou “ressonâncias”, com o risco de que a homilia fique reduzida a um comentário mais.

Com isto, a carta assinala que os comentários prévias às leituras devem ser breves e sobre os testemunhos dos presentes remete às autoridades do Caminho Neocatecumenal à Instrução interdicasterial “Ecclesiae de Mysterio”, aprovada “em forma especifica” pelo Papa João Paulo II.

Neste documento se indica que os testemunhos, breves e ocasionais, não podem de forma alguma confundir-se com a homilia.

A carta enviada a pedido do Santo Padre faz também menção às celebrações eucarísticas do caminho neocatecumenal que se realizam fora da comunidade paroquial aos sábados e não no domingo. Diante disto a Santa Sé assinala que “ao menos uma vez ao mês as comunidades do Caminho Neocatecumenal devem participar da Santa Missa da comunidade paroquial”.

Embora, como assinalaram alguns líderes do Caminho, o documento reconhece “o direito de nossas comunidades a celebrar os outros três sábados”; a carta explicitamente convida a recordar a importância do Domingo como “Dies Domini”.

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A pauta mais significativa, entretanto, é a referida à recepção das espécies consagradas, pois na liturgia do Caminho Neocatecumenal o cálice com o Sangue de Cristo passa de mão em mão, assim como o pão eucarístico em torno de uma mesa quadrada se localizada ao médio do templo.

A respeito, a carta assinala que “se dá ao Caminho Neocatecumenal um tempo de transição (não mais que dois anos) para passar do modo introduzido em suas comunidades […] ao modo normal para toda a Igreja de receber a Santa Comunhão. Isso significa que o Caminho Neocatecumenal deve caminhar para o modo previsto nos livros litúrgicos para a distribuição do Corpo e o Sangue de Cristo”.

Em outras palavras, os membros do Caminho não poderão receber a Comunhão sentados em torno do altar, como o fazem até agora, mas sim de pé ou de joelhos, como o estabelecem as normas da Igreja.

O tempo máximo de dois anos, segundo fontes do Vaticano, concede-se porque para poder dar a Comunhão da maneira como o estabelecem as normas litúrgicas, o Caminho deverá realizar modificações arquitetônicas a um número importante de seus templos ao redor do mundo.

Finalmente, a missiva recorda aos dirigentes do Caminho Neocatecumenal utilizar também as outras Orações Eucarísticas contidas no Missal e não só a Oração Eucarística II, assim como seguir os livros litúrgicos aprovados pela Igreja.

Aceitação e controvérsias

Embora as novas normas suponham uma mudança significativa nas práticas litúrgicas do Caminho, “nossos membros as aceitam com entusiasmo” assinalou Giuseppe Gennarini, encarregado de relações com a imprensa do Caminho Neocatecumenal, em uma carta explicativa que enviou o jornal “IL Giornale”, em resposta a um artigo crítico escrito pelo vaticanista do mesmo jornal Andrea Tornielli sob o título “A Missa é uma só: adaptai-vos”. 

“Do ponto de vista jornalístico, a carta é significativa porque se trata do primeiro documento de grande importância que aceita oficialmente algumas variantes presentes na prática litúrgica do Caminho Neocatecumenal”, adicionava Gennarini.

Tornielli, entretanto, respondeu que, “além das concessões assinaladas, parece-me de todo ponto de vista inegável que a carta da Santa Sé contenha pedidos de adequação à prática litúrgica estabelecida pela Igreja”.