MADRI, 1 de dez de 2022 às 10:15
Erisdel Villa é um pai de família que deixou Cuba há três meses em busca de um futuro melhor.
“Você realmente depende da misericórdia de Deus para protegê-lo”, disse Erisdel à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, ao relatar as situações pelas quais teve que passar com sua mulher de 27 anos e sua filha, de pouco mais de um ano e meio.
A cada dia mais cubanos emigram devido à falta de liberdade e às deficiências econômicas da ilha. A maioria busca chegar aos EUA, seja por terra, pela América Central, seja pela travessia marítima em balsas precárias.
Outros, como Erisdel e sua mulher Yoelis, decidiram ir para a Espanha. Primeiro tiveram que ir para o Leste Europeu, onde poderiam entrar sem a necessidade de visto, e de lá iniciar uma travessia clandestina.
Atualmente a família vive na Espanha e é ajudada pela iniciativa católica Projeto Abrigo.
“Decidimos fazer esse longo caminho” porque a rota para os EUA estava ficando mais cara “e não tínhamos dinheiro para pagar essa despesa. Então decidimos fazer a rota do Leste Europeu porque era mais barato", disse.
Em Cuba, Erisdel formou-se em contabilidade e tinha uma licenciatura em Inglês, mas nos últimos anos teve que trabalhar em uma lanchonete. Yoelis tinha uma cafeteria.
"O que nos motivou a sair de Cuba foi a crise muito difícil que todo o povo está passando, os baixos salários, mínimos, a falta de tudo, a falta de remédios, a falta de meios básicos para poder viver", disse ele.
Ele também falou sobre a falta de liberdade e o controle do regime comunista, que usa como informantes pessoas "a quem chamamos de 'chivatos' (delatores poderia ser uma tradução)" e "que dão ao governo todos os pormenores daquilo que o cidadão, o vizinho, faz".
“Além disso, você não pode emitir nenhuma opinião em relação a nada, porque qualquer opinião que você emita em relação à política, ao sistema, rapidamente é intimado a ir à polícia, fazem inquéritos, assustam, batem em você, e tudo isso é mecanismo que eles têm para manter o povo na linha”, disse ele.
Do Leste Europeu para a Espanha
Em seu relato à ACI Prensa, Erisdel disse que já no Leste Europeu, iniciaram a viagem para a Espanha. “Tivemos que atravessar vários países, em estradas, em montanhas, fazendo escalas e tudo isso”, disse.
Na rota havia sempre “o risco de ser deportados porque estávamos passando por territórios só com o passaporte, que não é válido, não nos protegia porque não tínhamos o visto de nenhum dos territórios pelos quais estávamos passando”.
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“O medo constante era ser deportado e perder tudo nessa tentativa; porque em Cuba deixamos tudo, vendemos tudo que tínhamos, e se tivéssemos sido deportados voltaríamos para Cuba sem nada, sem onde morar”, disse. “Houve momentos em que duvidamos se tinha sido em vão, se íamos falhar e houve muita angústia”.
“Houve um momento em que nos vimos no meio do mato e ficamos todos preocupados, a polícia havia capturado uma parte do grupo, e estávamos todos preocupados, escondidos no mato, e pensávamos que também iam nos capturar, foi um momento muito tenso e de estresse”, contou.
“Sentei-me a um lado e comecei a pedir a Deus que cuidasse de nós e nos protegesse disso e pudéssemos passar. Era o que nos restava”, ele contou.
“Você realmente depende da misericórdia de Deus para protegê-lo, porque está em um lugar desconhecido, você está sendo uma pessoa no meio de algo que não domina, que não conhece”, disse.
Por fim, Erisdel e sua família chegaram a Madri, onde foram recebidos pelo padre Bladimir Navarro, um padre cubano que lidera o Projeto Abrigo para atender aos migrantes que chegam da ilha e ajudá-los a se integrar à sociedade espanhola.
Erisdel disse à ACI Prensa que a situação em Cuba está "muito pior" do que quando saíram há mais de três meses.
“Realmente em Cuba a vida se tornou muito mais difícil, muito mais degradante. O Estado continua manipulando e fazendo tudo, menos atendendo ao povo, menos dando-lhe uma vida digna”.
Erisdel lamentou o que acontece em seu país, pois “todo cubano só pensa em como sair, como escapar da ilha, porque Cuba tornou-se uma ilha masmorra”.
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— ACI Digital (@acidigital) April 29, 2021