O núncio apostólico na Colômbia, dom Luis Mariano Montemayor, disse que o papa Francisco acompanha com atenção as negociações de paz entre o governo e o grupo guerrilheiro esquerdista Exército de Libertação Nacional (ELN).

Em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo, Montemayor disse que o papa lhe pediu que o informe sobre como vai o processo de paz, cuja primeira etapa aconteceu na Venezuela de 21 de novembro a 12 de dezembro.

“Eu cumpro as tarefas do Santo Padre. Ele me colocou para apoiar os acordos de paz com as FARC e sua aplicação e também tentar fazer com que o ELN voltasse a uma mesa de negociações com o Estado. O Santo Padre está ciente de tudo o que está acontecendo aqui. Ele acompanha com muita atenção as negociações com o ELN”, disse.

Na presidência de Juan Manuel Santos, o governo da Colômbia assinou um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em 2016. No ano seguinte, teve início o diálogo com o ELN.

O sucessor de Santos, o presidente Iván Duque, interrompeu as negociações por causa do ataque do ELN a uma escola de cadetes da polícia, que deixou 22 mortos e 68 feridos em janeiro de 2019.

No novo processo iniciado pelo presidente Gustavo Petro, a Igreja Católica participa como “acompanhante permanente” por meio de um representante, dom Héctor Fabio Henao.

“Eu poderia dizer que o Santo Padre está satisfeito porque as partes estão sentadas conversando”, disse dom Montemayor durante a entrevista publicada na segunda-feira (26).

O núncio apostólico acrescentou que para o papa Francisco “o estado das democracias é muito importante” e que quer apoiar tudo o que signifique a sua consolidação, sobretudo a "luta contra a desigualdade de nossas economias, porque isso gera a pobreza que é um flagelo da América Latina. Ele me disse com seu sotaque portenho 'vá em frente'".

É preciso ter fé na paz da Colômbia

Durante a entrevista, o diplomata da Santa Sé disse que, embora a Colômbia viva conflitos internos há várias décadas, “é preciso sempre ter fé” e “entender que há avanços evidentes: hoje as FARC como tal não existem, nem os paramilitares".

“Existem acontecimentos que nos abalam diariamente, mas também é evidente que estamos melhores hoje do que há anos atrás”, disse.

Montemayor se referiu ao ataque armado que o ELN realizou no departamento de Chocó de 15 a 20 de dezembro e que coincidiu com a visita pastoral que fez junto com dom Henao às dioceses de Quibdó e Istmina- Tadó.

O núncio comentou que foi “um ataque armado insólito e precipitado; mais ainda, acho que pouco pensado”, e que não nos deixou fazer todo o programa pastoral “porque também não podemos arriscar a vida de ninguém”.

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No entanto, disse que não acredita que tenha havido uma intenção dos guerrilheiros de atrapalhar a Igreja, já que “eles nunca nos impediram da ação pastoral”. “Acho que não pensaram bem em todo o contexto ou na repercussão”, disse ele.

"A Colômbia tem todas as possibilidades de paz é preciso tentar", disse o núncio, acrescentando que está otimista com as negociações entre o governo e o ELN, porque além do acompanhamento da ONU e da Igreja, "há todo um universo diplomático focado e que acredita nessa possibilidade”.

Dom Montemayor esclareceu que isso não significa ignorar o que esta guerrilha fez por anos. “Com a Igreja Católica, por exemplo, eles foram muito duros, mataram membros da nossa comunidade. Mas é preciso olhar para frente", disse.

A situação no Chocó

Dom Montemayor disse que em áreas deste departamento ocorrem confrontos entre o ELN e o Clã do Golfo – também conhecidos como grupos de autodefesa gaitanistas – “porque cada um quer o controle das plantações de coca”.

Na população “há uma situação de medo e desconfiança generalizados. Daí a importância de alcançar ajudas humanitárias. Temos de garantir que haja liberdade de circulação (...), sem ter medo que os matem ou que possam ser presos", disse.

O representante do papa também disse que é urgente “começar uma desminagem humanitária” no rio San Juan, já que as comunidades “às vezes não podem nem ir buscar pão porque o território está minado”.

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O núncio também falou sobre o narcotráfico e disse que “para fazer a paz, este fenômeno não pode ser ignorado, porque é ele que financia a compra de armas”. "Em várias regiões há confrontos muito fortes pelo controle das plantações", disse.

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