Uma estátua de uma mulher dourada com chifres de quase 2,5 metros de altura feita como símbolo do empoderamento da mulher e uma expressão de apoio ao aborto, segundo a escultora foi inaugurada em um tribunal de Nova York. Uma agência de notícias apelidou-a de "medusa dourada satânica".

A escultura "NOW" (Agora) foi encomendada à artista paquistanesa Shahzia Sikander, de 53 anos, como parte de um "acerto de contas cultural", disse ela ao jornal The New York Times, para melhor representar os "costumes sociais do século XXI" em espaços públicos.

É a representação de uma "mulher feroz" e uma "forma de resistência", disse Sikander.

O título “NOW” pretende chamar a atenção para a ideia de Sikander de que é necessária uma resistência feminina feroz agora, depois que a decisão Roe x Wade, que liberou o aborto nos EUA em 1973, foi anulada em junho de 2022.

Na cabeça da estátua há grandes tranças que se enrolam para formar chifres de cabra. Segundo Sikander, estes significam "soberania" e "autonomia".

Na canal de TV a cabo Fox News, o comentarista Tucker Carlson criticou a estátua como "demoníaca".

A estátua com chifres lembra a imagem do bode "Baphomet" usado pelo Templo Satânico, uma organização religiosa autodenominada "não teísta" dos EUA. Embora empregue imagens satânicas, o Templo Satânico diz em seu site que não acredita em Satanás.

Nos últimos anos, essa organização processou estados com restrições significativas ao aborto, alegando que essas leis violam o "direito religioso" do grupo de praticar seu "rito de aborto". Também protestou contra a oração na escola e as imagens com temática cristã que existem no espaço público.

A estátua usa um colar de renda em volta do pescoço. Sikander disse que se assemelha ao colar usado pela juíza da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg, que integrou a Suprema Corte por 27 anos e morreu em 2020. A juíza chegou a ser vista por muitos ativistas do aborto, entre eles o grupo Ruth Sent Us, como um símbolo do empoderamento feminino e até mesmo do aborto.

O site Ruth Sent Us afirma que sua missão é combater o que chama de "uma teocracia racista e misógina" da Suprema Corte. O grupo organizou protestos em casas de juízes e dentro de igrejas católicas durante a missa.

Desde 1900, o tribunal da cidade de Nova York exibe uma coleção de estátuas de homens importantes para o desenvolvimento da lei, incluindo Moisés, o imperador bizantino Justiniano e Confúcio. The New York Times publicou um artigo sobre a nova estátua, intitulado "Supere Moisés e Zoroastro: Manhattan tem uma nova legisladora".

Ao representar uma imagem feminina nua com chifres, Sikander disse que pretendia romper com a tradição.

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“Sempre tive afinidade com o antimonumento em minha prática”, disse Sikander em uma declaração publicada no site da Madison Square Park Conservancy.

Sobre a nudez da figura, Sikander disse que “o corpo é uma ferramenta poderosa que carrega sua construção social. Também pode funcionar como um local de resistência”.

A estátua se eleva sobre uma flor de lótus, que Sikander descreveu como "uma alusão à percepção como ilusão" e que significa "uma verdade mais profunda além de sua forma".

A estátua irmã “Testemunha”

A estátua do tribunal é par com sua escultura irmã "Testemunha" exibida nas proximidades do Madison Square Park. A imagem no parque é idêntica a seu par, exceto por uma saia de arco que busca se assemelhar à cúpula do tribunal de Nova York.

Ao longo da saia da figura há redemoinhos de mosaico que soletram a palavra "Havah", que é existe em hebraico, árabe e urdu, mas com significados diferentes.

Para Sikander, as traduções de "Havah" como "respirar", "ser" e o nome "Eva" se encaixam em sua intenção.

Para ela, "Havah" significa "respirar, adicionar ar, mudar uma narrativa". Segundo The Art Newspaper, Sikander disse que espera que suas estátuas sejam ícones de resistência "Eva também é a primeira a infringir a lei, certo?", afirmou.

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As duas estátuas ficarão em Nova York até junho, quando serão expostas em Houston.

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