Roma, 24 de fev de 2023 às 15:11
No primeiro aniversário da guerra na Ucrânia, o padre ucraniano Jurij Blazejewski destacou que a fé do povo ucraniano e disse que “ali é Cristo quem vence”, num conflito onde “nascem santos e heróis”.
Hoje (24) faz um ano desde que o exército russo invadiu o território ucraniano. Foi o início de uma guerra cruel e sangrenta na qual, segundo o padre ucraniano Jurij, apesar das numerosas vítimas e da dor, permanece "uma fé que move montanhas".
O padre Jurij Blazejewski é sacerdote da Congregação Dom Orione. Ele nasceu na cidade ucraniana de Kharkiv e atualmente estuda comunicação na Universidade da Santa Cruz, em Roma, Itália.
Em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, o padre disse que “o papa, o Vaticano e a Igreja estão fazendo muito” para acabar com esta guerra.
Para o sacerdote ucraniano, a voz do papa Francisco pedindo paz e justiça “não são apenas palavras; elas têm sua força e estimulam processos para acabar com a loucura da invasão, fazer justiça e reconstruir o futuro”.
"Quem sabe quantas histórias de sua intervenção não expostas ao público serão descobertas apenas anos após a guerra", disse.
O padre Jurij, que também dirige a revista católica “Skynia”, disse que “o papa realmente faz muito, mas vemos pouco. Agradeço-lhe o esforço e a humildade, porque sabe que vai ser criticado, faz mais do que fala da sua ajuda".
“É a lógica oposta do mundo da política, onde muitas vezes se fala muito, mas se faz pouco”, acrescentou.
O sacerdote disse que a linha do papa Francisco é clara: “quer que o Vaticano seja uma plataforma eficaz para as negociações quando chegar a hora”.
"Certamente, ainda é muito cedo para falar sobre isso”, declarou.
“Acho que quando a Rússia estiver perto da derrota, possa chegar a um consenso para negociar e se retirar. E é aí que o papel da Santa Sé será verdadeiramente decisivo e histórico, poderá se tornar um moderador eficaz, salvando a morte e a destruição que se avizinham”, defendeu.
O padre Jurij disse ainda que “Cristo não só caminhou pelas ruas das cidades ucranianas carregando a cruz, como também foi sepultado ali, em Bucha, Mariupol e Izium, junto com idosas, crianças e soldados”.
Ele destacou que na Ucrânia "dificilmente há uma pessoa que duvide da vitória" e disse estar convencido de que "uma vitória ainda mais esplêndida está ocorrendo no coração de tantas pessoas: Cristo está vencendo lá".
Sobre a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração da Virgem Maria que o papa Francisco fez em 25 de março de 2022, o padre Jurij disse que este evento “não foi por acaso”.
"É nesses momentos que nascem heróis e santos", disse.
Em relação à maneira como os cristãos vivem sua fé sob os bombardeios contínuos, o sacerdote citou como exemplo o vice-pároco de Kharkiv, que abrigou mais de uma dezena de pessoas que perderam suas casas.
“Eles vivem juntos, como nos primeiros tempos da Igreja. Comem juntos, rezam juntos, durante os atentados assistem à missa juntos no porão da igreja”.
O padre Jurij contou que, em uma ocasião, os fiéis e o vice-pároco desceram ao porão da igreja para rezar o terço em meio aos bombardeios. “No quarto mistério veio o grande silêncio: a artilharia russa parou de disparar”, disse.
"Parece-me que esta fé é verdadeiramente capaz de mover montanhas", acrescentou.
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O sacerdote destacou também a importância da liberdade, lembrando que, apesar do número de mortos, feridos, emigrantes, infraestruturas destruídas e elementos culturais, os ucranianos não perderam os seus valores.
“E essa herança é maravilhosa, é uma vitória feita nas mentes e nos corações”, disse.
“Hoje, falamos de liberdade. Não só como conceito, mas também como um dos pilares da dignidade de cada pessoa humana”.
Também se referiu à solidariedade e compaixão, “aquelas que se revelam em cada ucraniano para com o seu próximo, assim como aquelas que receberam de tantas pessoas de boa vontade de todos os continentes”.
“Parece que sob os disparos ninguém é realmente ateu”, disse.
O padre Jurij recordou também que “especialistas no campo da comunicação em cenas de violência dizem que 50 anos é o tempo necessário para que o perdão e a reconciliação amadureçam depois de um conflito de proporções tão grandes como este”.
Ele disse esperar que "pelo menos aqueles que são crianças hoje possam um dia pensar seriamente no perdão".
O papel da mídia
Para o diretor da revista católica ucraniana "Skynia", "a primeira tarefa da comunicação é buscar e difundir a verdade".
"Portanto , considero muito positivo que tenha diminuído o número de materiais destinados principalmente a gerar lágrimas e se tenha mantido mais ou menos no mesmo nível o bloco de materiais que dão informações e fazem uma análise”.
“A justiça não vem do choro e das emoções expostas, mas da verdade comunicada. Sim, a dor faz parte da verdade da guerra, mas não é tudo: também há resistência, entreajuda, amor, até sonhos para o futuro! Espero que a mídia europeia fale mais sobre isso."
Um convite para a Quaresma
O sacerdote ucraniano disse que “a Quaresma é sempre um tempo para cuidar dos fracos e vulneráveis que estão ao nosso lado”.
Por isso, convidou os cristãos “a escolher uma iniciativa ou uma paróquia, ou uma família de lá que possam ajudar neste momento. Se alguém tiver oportunidade e vontade, pode doar, tem muitas iniciativas lindas da Igreja”.
“Por exemplo, existe o projeto da Associação de Imprensa Católica na Ucrânia, que arrecada dinheiro para apoiar os jornalistas católicos ucranianos durante a guerra e, assim, salvar a voz da Igreja. Mas a ajuda não precisa necessariamente ser material”, disse
“Todos os ucranianos precisam de suas orações e dos frutos espirituais de sua abstinência quaresmal. Seria um belo gesto de fraternidade”, concluiu o padre Jurij Blazejewski.
Confira também:
Papa Francisco recorda o "triste aniversário" da guerra na Ucrânia https://t.co/Id3ytjA227
— ACI Digital (@acidigital) February 22, 2023