Taxar o ensino religioso de "abuso infantil" na Inglaterra, debater uma lei na Bélgica para mandar à prisão a quem afirmar a existência de "um poder imaginário ou acontecimentos inexistentes", acusar na Itália um sacerdote de "abuso da credibilidade popular" e lhe exigir demonstrar a existência de Jesus Cristo, ou tentar limitar o direito à "objeção religiosa de consciência" na União Européia, revelam que "a Europa está se tornando território hostil para o cristianismo".
A denúncia do Análise Digital dá razão da emissão no Channel 4 britânico de uma minissérie de dois capítulos intitulada "Raiz de todos os males?" em que se ridiculariza a fé e qualifica o ensino religioso de "abuso infantil". A série sobre a religião é dirigida pelo cientista de credo evolucionista Richard Dawkins, conforme assinala o órgão informativo da arquidiocese de Madri.
A primeira parte, chamada "A desilusão de Deus", arremete com especial virulência contra o catolicismo: "Se quiser experimentar os rituais medievais da fé, a luz das velas, o incenso, a música, os altissonantes efeitos das línguas mortas…, ninguém o faz melhor que os católicos", diz Dawkins no programa.
Na segunda, "O vírus da fé", Dawkins qualifica o ensino religioso nos colégios de "abuso infantil" porque estariam doutrinando "crianças inocentes com falsidades comprovadas". Por isso, defende que "chegou a hora de questionar-se sobre o abuso da infância inocente com idéias supersticiosas sobre o fogo do inferno e a condenação. Não é estúpido que etiquetemos automaticamente uma criança pequena com a religião de seus pais?", afirma o cientista.
Na minissérie que será transmitida a partir desta noite, Dawkins se refere ao "Deus do Antigo Testamento" como "o personagem mais desagradável em todas as ficções: ciumento e orgulhoso, revanchista, injusto, racista". Além disso, lança desqualificações contra Abraão e Moisés (a quem compara com Hitler e Saddam Hussein), e se refere ao Novo Testamento como "a doutrina de expiação do pecado original de São Paulo, suja e sadomasoquista".
Inclusive antes de que tenha ido ao ar, tanto Dawkins como sua minissérie, foram objeto de críticas, informa Análise Digital. O porta-voz da Igreja Católica, John Deighan, assinalou que o cientista "é bem conhecido por seus ataques contra a fé" e o critica por ter "ido muito além de suas competências como cientista, ao começar a aventurar-se no campo da filosofia e da teologia. Ele é o tipo que tem ‘problemas demonstráveis’".
Ao criticar a série, Madeline Bunting, colunista do Guardian, escreve que "há uma frustração ofendida (dos ateus humanistas), porque se supunha que íamos ser todos, a estas alturas, ateus racionalistas. supunha-se que o secularismo fosse uma parte necessária do progresso".
Jesus Cristo no banco dos réus
Mas as agressões ao cristianismo não se limitam à Inglaterra. Em uma desconcertante sentença, um juiz italiano da localidade de Viterbo, perto de Roma, ordenou ao sacerdote Enrico Righi comparecer no fim do mês a seu tribunal para que demonstre, com provas, a existência de Jesus Cristo.
O autor do livro "A fábula de Cristo", Luigi Cascioli, levou aos tribunais o sacerdote que criticou seu trabalho em dois artigos jornalísticos. O mencionado clérigo é obrigado a demonstrar que Jesus existiu efetivamente, amparando-se em duas figuras do Código Penal italiano: "o abuso da credibilidade popular" e a "suplantação da personalidade".
Na Bélgica, liberais e socialistas apresentaram um projeto de lei que estipulam penas de até dois anos de cárcere para aqueles que "abusem da credibilidade com o fim de persuadir da existência de feitos falsos, um poder imaginário ou a historicidade de acontecimentos que nunca aconteceram". "O que não se define é qual será o critério com o que o Estado poderá definir o que é a verdade", assinala Análise Digital.
Objeção religiosa de consciência?
Estes ataques se somam aos de um grupo de especialistas da União Européia que em um relatório propõe limitar o direito à "objeção religiosa de consciência" em matéria de aborto, eutanásia, matrimônio homossexual ou venda de anticoncepcionais.
A respeito, a nota lembra que na Holanda, a funcionária Nynke Eringa foi despedida em 2001 por negar-se a oficializar um "matrimônio" homossexual.
"Seu caso teria passado despercebido se o casal se limitasse a ir a outro funcionário, mas as organizações homossexuais começaram a pedir explicitamente que fosse ela quem os ‘casasse’. Suas reiteradas negativas deram o argumento para sua demissão, anulado finalmente em 2004 por ‘enganos de forma’. A partir de então, decidiu-se que a objeção de consciência fosse um direito reservado aos funcionários que já exerciam antes de 2004, já que os que se incorporassem após essa data deveriam já saber a que normas ater-se ", informa Análise Digital.
Finalmente, conta que "a mesma história se repete hoje na cidade belga de Antwerp. Um notário se enfrenta a um julgamento por negar-se a validar uma "união" homossexual. O governamental Centro para a Igualdade de Oportunidades e Oposição ao Racismo pretende que os tribunais multem os notários por cada união que se neguem a registrar. E é a eles, precisamente a eles, a quem mais casais de homossexuais recorrem".

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