Seis condados de Benue, Estado de maioria católica no centro-norte da Nigéria, foram palco de ataques mortais de radicais islâmicos da etnia fulani segundo Mike Uba, presidente do condado de Guma.

 

Um dos ataques mais recentes, em 7 de março, deixou pelo menos vinte mortos em Tse Jor após cerca de 40 agressores chegarem em motocicletas e massacrarem homens, mulheres e crianças indefesas por cerca de duas horas. Helen Tikyaa, trabalhadora humanitária pela diocese católica de Makurdi, disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que dirigiu até o vilarejo durante o ataque, mas não ousou entrar nele até que os assassinos fossem embora.

 

Tikyaa disse que mulheres e crianças de Tse Jor e vilarejos vizinhos ainda estão chegando a campos de deslocados internos em Naka, que fica 32 quilômetros a leste de Makurdi.

 

Paul Hemba, conselheiro de segurança do governador de Benue, disse à CNA que os assassinos provavelmente evitaram o uso de rifles para não alertar os militares, que têm uma base a cerca de 11 quilômetros ao sul de Tse Jor.

 

“Os terroristas planejaram este ataque sabendo que teriam pouca resistência”, disse. “Este ataque em uma zona rural remota pegou a todos de surpresa. Os agressores sabiam que os militares iriam precisar de pelo menos uma hora para chegar ao local do ataque devido a estradas precárias e porque poucos moradores sequer tinham celulares, e aqueles que tinham não sabiam necessariamente para quem ligar em caso de emergência”.

 

O padre Remigius Ihyula, que administra ajuda em Makurdi, disse que o ataque à comunidade de Tse Jor pegou os cidadãos e as autoridades de surpresa.

 

“Foi a primeira vez que a comunidade viu tamanha violência desde que os assassinatos começaram em 2001, e os agressores vieram sem aviso. A motivação não é nada além de terrorismo e o desejo de infligir dor e dispersar populações para ocupar áreas desertas”, disse Ihyula em mensagem de texto à CNA.

 

Ihyula disse que Benue tem mais de um milhão de pessoas lutando para sobreviver em acampamentos improvisados devido a ataques terroristas que despovoaram grandes áreas e impediram centenas de milhares de pequenos agricultores de acessarem suas fazendas de um hectare e meio.

 

Os ataques continuaram a quase cem quilômetros a leste de Tse Jor em 7 de março. Segundo o padre William Shom, que pastoreia uma igreja em Yelewata, no condado de Guma, um ataque de terroristas Fulani que chegaram em grande número em Yelewata naquela noite deixou sete mortos. Shom disse em mensagem de texto à CNA que os terroristas também queimaram 27 casas.

 

“É por essa situação que meus paroquianos estão passando. Não podemos dormir com os olhos fechados. Pedimos à comunidade internacional que venha em nosso auxílio”, acrescentou Shom.

 

Segundo relatórios da Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e da Paz (FJDP, na sigla em inglês), a cidade de Naka, com 3 mil habitantes, abriga um extenso campo de deslocados internos com 5 mil pessoas, principalmente mulheres e crianças que sofrem de trauma e fome.

 

Helen Tikyaa disse que com o ataque a Tse Jor em 7 de março, agora existem oito aldeias perto de Naka que foram despovoadas e tomadas por tribos muçulmanas, cujas milícias compõem os grupos responsáveis pelos assassinatos.

 

“Muitas das crianças mostram sinais de desnutrição. O governo do estado faz entregas de rações apenas uma vez por mês e, quando a comida acaba, as pessoas nos campos tentam ganhar dinheiro trabalhando ou mendigando nas ruas de Naka”, disse Tikyaa à CNA.

 

“O ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), a Cruz Vermelha e a MSF (Médicos sem Fronteiras) são muito ativos em dar vários tipos de apoio. O ACNUR, em particular, tem sido de grande ajuda, oferecendo abrigos temporários e apoio relacionado à proteção às vítimas”, disse o padre Ihyula.

 

“Embora o governo do estado de Benue tenha feito o possível dadas circunstâncias, o governo federal negligenciou o sofrimento do povo”, disse Ihyula.

 

“Do ponto de vista da FJDP e da diocese católica de Makurdi, nosso desafio para estratégias eficazes de intervenção tem sido principalmente os constantes ataques e deslocamentos em múltiplas áreas. Tem sido esmagador lidar com essa situação”, acrescentou o sacerdote.

 

Segundo relatos da mídia, ataques de terroristas muçulmanos Fulani mataram mais de 50 paroquianos católicos nas remotas montanhas do condado de Kwande, na fronteira sul de Benue com Camarões, entre 26 de fevereiro e 2 de março.

 

As aldeias foram atacadas após a eleição presidencial de 25 de fevereiro, que confirmou Bola Ahmed Tinubu, candidato do Congresso de Todos os Progressistas (APC, na sigla em inglês), como vencedor. O APC era a preferência conhecida das milícias radicalizadas para vencer a corrida presidencial crucial, segundo observadores do Denis Hurley Peace Institute, que argumentou que a vitória do APC encorajou os terroristas a atacar com impunidade.

 

O APC venceu em Benue na campanha presidencial, e o próximo turno das eleições para governador em 18 de março terá o APC apoiando um padre suspenso como seu candidato a governador, Hyacinth Iormem Alia. O bispo da diocese de Gboko suspendeu Alia em maio de 2022 porque o direito canônico não permite que padres se envolvam na política partidária.

 

Alia condenou os ataques logo após a eleição e disse por meio de seu porta-voz de mídia que alguns grupos políticos em Benue tentaram "lucrar" com a vitória do APC.

 

“Minha análise da vitória do APC em Benue é que as pessoas foram enganadas para acreditar que o APC manterá o poder, e que seria temerário estar na oposição, dados os benefícios de pertencer ao partido no poder”, disse um padre que só falaria sob condição de anonimato por medo de retaliação.

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