22 de mar de 2024 às 05:00
Hoje (22), a Igreja celebra são Nicolau Owen, o irmão jesuíta que foi carpinteiro, artesão e pedreiro e se especializou na construção de esconderijos e abrigos para proteger o clero perseguido na Inglaterra no final do século XVI e início do século XVII.
São Nicolau foi canonizado em outubro de 1970 pelo papa são Paulo VI como parte do grupo "40 Mártires da Inglaterra e País de Gales".
"Mansos como pombas" (Mt 10,16)
São Nicolau Owen S.J. nasceu em Oxford em 1550 e morreu na capital inglesa em 1606, torturado na “Torre de Londres”, o “Palácio Real e Fortaleza de Sua Majestade”. A torre do castelo abrigava a prisão que serviu de centro de tortura e execução durante a longa perseguição organizada pela coroa britânica contra os católicos, após a ruptura final com Roma em 1534.
Nicolau era filho de um carpinteiro chamado Walter Owen, com quem aprendeu o ofício. Ele também trabalhou como artesão e pedreiro.
Em 1580, quando tinha cerca de 30 anos, apresentou-se à Companhia de Jesus e foi aceito como "irmão leigo" (nunca foi ordenado padre). Nos dezoito anos seguintes, ele serviu como assistente de dois padres jesuítas: o padre Henry Garnet e o padre John Gerard.
Quando a perseguição se intensificou nos últimos anos do reinado de Elizabeth I e nos primeiros anos de seu sucessor, James I da Escócia, todo padre capturado era levado à prisão sob a acusação de traição à Coroa - o que significava morte quase certa. Como muitos jesuítas, Nicolau manteve sua identidade em segredo para escapar dos perseguidores e fazer seu serviço espiritual.
Neste período, o irmão jesuíta começou a construir abrigos e esconderijos nas casas de algumas famílias católicas. Esse trabalho foi indispensável: os padres só podiam celebrar a missa e administrar os sacramentos na clandestinidade, não era prudente ficar por muito tempo numa mesma casa.
"Astutos como as serpentes" (Mt 10,16)
Para passar despercebido, Owen trabalhava de dia como carpinteiro e à noite ia para a 'casa designada', na qual se esconderia algum padre. Ele construía sozinho um priest hole (buraco do padre, em português), uma câmara secreta habilmente camuflada, na qual geralmente só uma pessoa poderia se esconder para não chamar a atenção.
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A expressão inglesa "priest hole" faz alusão às tocas construídas por alguns animais como os coelhos, por isso daria para compreender melhor pensando na expressão "rabbit hole" (a "toca do coelho"). Seria necessário traduzir, talvez, esta expressão por "a toca do padre". A analogia por trás do termo sugere muito sobre o espaço limitado e a dificuldade de ficar dentro da toca.
"Meu amparo, meu refúgio, meu Deus" (Sl 91,2)
O irmão Owen não aceitava nenhum pagamento por seu trabalho, um pouco de comida e abrigo lhe bastavam, porque entendia que sua recompensa era servir aqueles que agem in persona Christi ("na pessoa de Cristo"), os padres.
"Talvez ninguém tenha contribuído mais para a preservação da religião católica na Inglaterra durante os tempos das leis penais [contra os católicos] do que um humilde artesão chamado Nicolau Owen, que no reinado de Jaime I salvou a vida de muitos padres por sua extraordinária capacidade de inventar esconderijos”, diz padre Alban Butler em "Vidas dos Santos".
Em cada uma de suas construções, o santo mostrava sua habilidade técnica e criatividade. Graças a ele, muitos perseguidos puderam ser salvos e a Igreja permaneceu viva nas sombras. Os esconderijos foram tão bem desenhados que nunca foram descobertos pelos guardas, e hoje acredita-se que ainda faltam alguns para serem descobertos.
"Teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará" (Mt 6,6)
Em 1594, são Nicolau Owen foi capturado e preso junto com seu amigo padre John Gerard. Foi torturado, mas não deu nenhuma informação sobre a localização dos esconderijos. No final, seus captores gananciosos o libertaram em troca do dinheiro arrecadado por um grupo de católicos que sabiam da importância de seu trabalho. O santo aproveitou a sua liberdade para arquitetar e fazer a audaciosa fuga do padre Gerard
Em janeiro de 1606, Nicolau Owen estava escondido com dois padres, os padres Garnet e Oldcorne. De repente, eles perceberam que estavam cercados. Nicolau sabia que o procuravam, então saiu do esconderijo e se entregou com a intenção de que as autoridades abandonassem a busca e não encontrassem os padres, que para ele eram mais importantes para a salvação da Inglaterra. E assim aconteceu.
A Torre de Londres foi a sua última morada. Mesmo quando foi submetido a terríveis torturas, ele não traiu ninguém. Por vários dias, seus carrascos o suspenderam no ar por horas. Finalmente, seu corpo não aguentou mais, teve uma hérnia que estourou e morreu em 2 de março de 1606.