“O tema dos abusos sexuais tem abalado muitas pessoas, com grande eco nos órgãos de comunicação e, para muitos, abalou a credibilidade da própria Igreja”, disse ontem (25) o bispo de Leiria-Fátima, Portugal, dom José Ornelas. Segundo pesquisa divulgada também ontem, 46% das pessoas acreditam que os abusos sexuais causarão algum impacto na relação entre os católicos portugueses e a Igreja, mas será temporário, outros 34% acreditam que haverá bastante impacto e até que alguns católicos deixarão de ter ligação com a Igreja.

No dia 13 de fevereiro, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal publicou o relatório final de seu trabalho sobre casos entre 1950 e 2022. A comissão validou 512 dos 564 testemunhos recebidos e estimou um mínimo de 4815 vítimas.

No início de março, a comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) uma lista com 98 nomes de supostos abusadores. Desses, 93 seriam padres, dos quais 36 já morreram.  Segundo levantamento do site ‘Diário de Notícias’, até 22 de março, 13 padres e um leigo tinham sido afastados de suas funções.

Pesquisa da Aximagem feita para ‘Diário de Notícias’, ‘Jornal de Notícias’ e TSF Rádio Notícias, mostra que apenas 15% dos entrevistados consideram que o tema dos abusos não trará consequências e que os católicos vão manter ligação com a Igreja. Segundo o levantamento, 24% dos entrevistados que se assumem católicos dizem que a confiança ficou abalada, 23% dizem que perderam a confiança e 20% continuam confiando na Igreja.

Ainda segundo a pesquisa, 89% dos entrevistados consideram que a Igreja demorou muito tempo para aceitar uma investigação. Desses, 52% acham que a demora foi uma "tentativa de ocultar os crimes" e 37% acreditam que a Igreja "temia danos na sua reputação". Entre os entrevistados, 5% acham que a investigação foi no tempo certo e 2% acham que a Igreja não tinha que fazer uma investigação.

Sobre a resposta da Igreja ao relatório final da comissão independente, 66% consideram “muito negativa” ou “negativa” e apenas 12% acham “muito positiva” ou “positiva”. Para 82% dos entrevistados, deveria haver a suspensão imediata dos padres suspeitos de abusos. Outros 14% disseram que a suspensão deve acontecer somente após a conclusão do processo. Para 72%, a Igreja deve pagar indenizações às vítimas, 17% acham que não.

A pesquisa ouviu 801 pessoas maiores de 18 anos, em Portugal, de 13 a 17 de março. A margem de erro é de 3,46%.

“É preciso abrir os túmulos do faz de conta, do encobrimento. A abertura dos arquivos, que fizemos com coragem, tem de significar abrir o coração à justiça, à reparação, à esperança”, disse dom José Ornelas durante a peregrinação diocesana ao santuário de Fátima, ontem.

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Dom Ornelas também é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Para ele, reconhecer que o tema dos abusos “tem abalado” as pessoas “é importante”. “Isso significa não esconder nem se resignar ao mal”, disse.  

“Procurar conhecer a realidade, exprime, antes de mais, que repudiamos esses maus procedimentos, que não são nem a generalidade nem o ser da Igreja, que somos nós todos”, acrescentou.

O bispo de Fátima destacou que “a Igreja não é uma associação de mal fazer”, mas de “cuidar”. “Reconhecendo e pedindo perdão significa que nos colocamos do lado daqueles que os sofreram dramaticamente. Significa, ainda, a vontade firme de empreender caminhos de transformação, de cuidado e de apoio para restituir, na medida do possível, a justiça e a dignidade de quem foi injustamente ferido”, disse.

“Como Igreja, não nos resignamos nem desanimamos, mas tudo faremos para que estas situações não se repitam e para que as nossas comunidades sejam expressão de carinho verdadeiro e espaços seguros para o crescimento dos mais pequenos e mais necessitados de proteção e de ajuda”, completou.

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