"O diálogo entre crentes e não-crentes sobre as questões fundamentais da ética, ciência e da arte, e sobre a busca do sentido da vida, é um caminho para a construção da paz e do desenvolvimento humano integral”, disse o papa Francisco hoje (27) aos participantes do encontro “Diálogos de Minerva”, promovido pelo Dicastério para a Cultura e a Educação que recebeu no Vaticano.

O encontro, que tem o nome da deusa pagã da sabedoria cultuada peos antigos romanos, reúne cientistas, engenheiros, empresários, juristas e filósofos, juntamente com representantes da Igreja, funcionários da Cúria, teólogos e moralistas para discutir o uso de tecnologias digitais, especialmente da inteligência artificial.

Para o papa, “a tecnologia é de grande ajuda para a humanidade”.

“O desenvolvimento da inteligência artificial e da aprendizagem da máquina tem o potencial de dar uma contribuição benéfica para o futuro da humanidade”, disse Francisco. “Esse potencial só será realizado se houver uma vontade coerente por parte daqueles que desenvolvem as tecnologias para agir de forma ética e responsável”.

A tecnologia, na visão de Francisco, deve centrar-se no ser humano e ser orientada para o bem. "Chegar a um acordo nessas áreas não será fácil", pois " o mundo de hoje é caracterizado por uma grande pluralidade de sistemas políticos, culturas, tradições, concepções filosóficas e éticas e crenças religiosas".

“As discussões são cada vez mais polarizadas e, na ausência de confiança e de uma visão compartilhada do que torna a vida digna, os debates públicos correm o risco de ser polêmicos e inconclusivos”, disse.

O papa Francisco pediu aos presentes a fazer "da dignidade intrínseca de cada homem e de cada mulher o critério-chave na avaliação das tecnologias emergentes, que revelam sua positividade ética na medida em que ajudam a manifestar essa dignidade e aumentam sua expressão, em todos os níveis da vida humana”.

“Preocupa-me o fato que os dados até agora levantados pareçam sugerir que as tecnologias digitais têm servido para aumentar as desigualdades no mundo”, disse o papa. “Não apenas diferenças na riqueza material, que são importantes, mas também diferenças no acesso à influência política e social”.

“Nossas instituições nacionais e internacionais são capazes de responsabilizar as empresas de tecnologia pelo impacto social e cultural de seus produtos? Existe o risco de que a crescente desigualdade possa minar nosso senso de solidariedade humana e social? Poderíamos perder nosso senso de destino compartilhado?”, perguntou o papa. “Esse problema da desigualdade pode ser agravado por uma falsa concepção de meritocracia que mina a noção de dignidade humana”.

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“O reconhecimento e a recompensa do mérito e do esforço humanos têm uma base, mas existe o risco de conceber a vantagem econômica de uns poucos como conquistada ou merecida, enquanto a pobreza de muitos é vista, em certo sentido, como culpa deles", disse o papa. “Essa abordagem subestima as desigualdades iniciais entre as pessoas em termos de riqueza, oportunidades educacionais e laços sociais, e trata o privilégio e a vantagem como conquistas pessoais”.

Segundo o papa Francisco, o conceito de dignidade humana intrínseca “exige que reconheçamos e respeitemos o fato de que o valor fundamental de uma pessoa não pode ser medido com um conjunto de dados”.

Ele também alertou que nos processos de tomada de decisão social e econômica “devemos ser cautelosos ao confiar julgamentos a algoritmos que processam dados coletados sobre indivíduos e suas características e comportamentos passados".

“Não podemos permitir que os algoritmos limitem ou condicionem o respeito pela dignidade humana, nem excluam a compaixão, a misericórdia, o perdão e, acima de tudo, a abertura à esperança de mudança no indivíduo”, disse.

Francisco concluiu reafirmando a convicção de que “só formas verdadeiramente inclusivas de diálogo podem permitir discernir sabiamente como colocar a inteligência artificial e as tecnologias digitais a serviço da família humana”.

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